Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Sedevacantismo, ou uma conclusão à procura de premissas - Parte II

Autor: Prof. Carlos Ancêde Nougué

Primeira parte


A tese derivada do livro A Figura deste Mundo,
de Pacheco Salles


Sem dúvida, seu ponto de partida é o mesmo de todos os tipos de sedevacantismo, a saber: não pode ser cabeça da Igreja aquele que, por heresia, nem sequer pertence a seu corpo; ora, a partir do Concílio Vaticano II todos os papas se mostraram heréticos; logo, desde então a Sede Romana está vacante por defeito de autoridade.

Como já se disse, tal raciocínio não brota do nada; segue-se da forte impressão causada no espírito de fiéis católicos pelas novidades introduzidas a partir do Concílio Vaticano II, novidades que se chocam de modo evidente com o ensinado, ininterruptamente, pela totalidade do magistério anterior. Sucede porém que ambas as premissas deste raciocínio são tênues: a primeira porque seria preciso verificar, antes de tudo, se qualquer classe de heresia impede ipso facto o ser cabeça da Igreja (o que se verá ao estudarmos o segundo tipo de sedevacantismo, o da Tese de Cassiciacum); a segunda porque (como também se verá então) implica um argumento quia de todo ilícito para o caso em questão.

Em outras palavras, entre estas premissas e aquela conclusão há saltos lógicos que tornam incerto o conjunto do raciocínio. Ora, ainda que sabedores disso, os propugnadores deste tipo de sedevacantismo não buscaram, teológica nem prudentemente, investigar com profundidade suas premissas e, portanto, a possibilidade efetiva de delas seguir-se sua conclusão, mas aferraram-se a esta, e saíram em busca de outras premissas, mais sólidas, para ela. Na prática, trata-se de uma conclusão apriorística, ou melhor, da inversão entre conclusão e premissas que caracteriza a classe de pensamento que nos ocupa aqui, a que incorre no que chamamos de “reconstrução ideal da história”.

Descreva-se pois agora, fidedignamente, o argumento central de Pacheco Salles em A Figura deste Mundo:

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Comentários Eleison CCCXVCII (397) - O Pensamento da NeoFraternidade - III

Por Dom Richard Williamson
Tradução: Andrea Patrícia (blogue Borboletas ao Luar)

21 de fevereiro de 2015


A Fraternidade deseja a Roma conciliar?

Se não, acordem! Pois em breve ela será o seu novo lar.


Estes “Comentários” declararam (395) que o Primeiro Assistente da Neofraternidade carece de doutrina, e (396) que essa carência de doutrina é um problema tão amplo quanto possa ser, nomeadamente: a modernidade em sua integralidade contra a integralidade da Verdade; e resta agora mostrar como esse problema universal se manifesta em uma série de erros particulares na entrevista que o Pe. Pfluger deu na Alemanha perto do fim do ano passado. Para abreviar, nós teremos de fazer uso do resumo (não essencialmente inexato) de seu pensamento mostrado aqui há duas semanas. Suas proposições estão em itálico:

A Igreja Católica é muito mais ampla do que somente o movimento Tradicional.

Sim, mas a doutrina do movimento Tradicional não é mais nem menos ampla do que a doutrina da Igreja Católica, pois é idêntica a ela, e essa doutrina é o coração e a alma do movimento Tradicional.

Nós nunca tornaremos a Tradição atrativa ou convincente se permanecermos mentalmente estagnados nas décadas de 50 ou 70.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sedevacantismo, ou uma conclusão à procura de premissas - Parte I

Professor Carlos Ancêde Nougué

Proêmio


O sedevacantismo inclui-se numa espécie do que chamo, genericamente, de “pensamento mágico”, a saber, aquela em que se dá qualquer inversão entre mente e realidade, entre causa e efeito, entre antecedente e conseqüente, entre premissa e conclusão. Explique-se.


O pensamento mágico típico crê encontrar na realidade relações causais onde de fato não as há, porque, diferentemente da sã razão natural, não distingue concomitância de causalidade e acaba por tomar aquela por esta. Por exemplo: alguém pode crer que o número 11 dá sorte porque ganhou algum torneio esportivo usando uma camisa de número 11. Procurará, a partir de então, fazer girar toda a sua vida em torno do número 11, e de fato, a cada passo, encontrará entre o número 11 e a sorte uma relação de causalidade, enquanto, em verdade, tudo não havia passado de uma relação de concomitância: usar a camisa 11 e ganhar o torneio não tinham sido senão fatos simultâneos, sem nenhuma determinação mútua. O fato, no entanto, é que a algo que é apenas concomitante o supersticioso atribui caráter causal.

São muitos os produtos do pensamento mágico típico, entre os quais a astrologia.

Mas, se, mais amplamente, se considera mágico todo aquele pensamento que vê relação causal onde de fato não a há, então nem todo o pensamento mágico se resume a superstição: quando, por exemplo, Engels dizia, na esteira de Darwin, que o que torna o homem homem é o fazer instrumentos, tal maneira de raciocinar e concluir é ainda pensamento mágico sem, todavia, ser supersticioso: aqui não se confunde concomitância com causa, mas resultância, conseqüência, efeito com causa. De fato, qual é a causa e qual o efeito: o mamífero é mamífero porque mama, ou mama porque é mamífero? O homem é homem porque pensa, ou pensa porque é homem? Confiamos em que os motoristas não avançarão o sinal porque atravessamos a rua, ou atravessamos a rua porque confiamos em que os motoristas não avançarão o sinal? Ora, é claro que o mamar é efeito da causa ser mamífero, assim como o pensar é efeito da causa ser homem, e assim como o atravessar a rua é efeito da causa confiar. Logo, do mesmo modo, fazer instrumentos é efeito da causa ser homem.[1]

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Comentários Eleison CXII (112) - A Conversão da Rússia

Por Monsenhor Richard Williamson
Tradução: Cristoph Klug


29 de agosto de 2009 

Um renascimento religioso que parece estar ocorrendo na Rússia pode sugerir que, com a conversão de Fátima, ajudará a salvar a Igreja Ocidental. 

Um surpreendente, porém viável plano do Céu para o mundo de hoje pode supor-se caso a Cristandade Ortodoxa esteja revivendo dentro da Rússia, de acordo com o que um russo me comentou há alguns dias em Londres. Sua percepção corresponde à impressão que trouxe consigo da Rússia um amigo americano que visitou São Petersburgo faz alguns anos – o russo médio tem, ao contrário do Ocidente desgastado espiritualmente, um maior conteúdo espiritual em si. Será que isto nos une à Nossa Senhora de Fátima?... 

Em Londres o russo comentou-me que a Igreja Ortodoxa na Rússia está seguindo, mais que guiando, um renascimento da Ortodoxia entre seu povo. A assistência à liturgia Ortodoxa na Rússia tem aumentado em torno de 50% nos últimos dois anos, e hoje em dia 80% dos russos estão pelo menos referindo-se a si mesmos como “Ortodoxos”, ou seja, crentes. Novas paróquias estão surgindo por todos os lugares. Bíblias são compradas assim que são lançadas. A literatura religiosa está florescendo, enquanto que a propaganda ateia está desaparecendo. A “Santa Rússia” está se erguendo da tumba onde o Comunismo de 1917 a 1989 lutou por enterrá-la.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Comentários Eleison CCCXCVI (396) - O Pensamento da NeoFraternidade - II

14 de fevereiro de 2015

Por Dom Williamson
Tradução: Andrea Patrícia (blogue Borboletas ao Luar)

Cuidado, caros seguidores da Neofraternidade!
Mantenham-se profundamente em alerta, pois o veneno já age com profundidade!


Apenas umas 650 palavras de um único “Comentários Eleison” não são de forma alguma suficientes para deixar suficientemente claro o imenso problema exposto na entrevista concedida pelo Primeiro Assistente da Neofraternidade para uma revista desta na Alemanha perto do fim do ano passado (cf. CE da semana passada). O pensamento do Pe. Pfluger emerge da venenosa mentalidade moderna, e por isso não é de surpreender que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) de Dom Lefebvre esteja sendo envenenada do topo até a base, e transformada na Neofraternidade (ExSSPX) de Dom Fellay. O veneno consiste em um movimento que decai de Deus para o homem; da religião de Deus para a religião do homem; das verdades de Deus para as liberdades do homem; da doutrina de Cristo (“Ide e ensinai a todas as nações” – Mt XXVIII, 19) para a união da humanidade.

Tal como milhões e milhões de homens modernos, milhares e milhares de homens da Igreja em altos cargos, e tantos sacerdotes e leigos daquela que foi uma vez a FSSPX, o Pe. Pfluger não entende a importância crucial da doutrina católica para a Igreja. “DOUTRINAI todas as nações”, poderia ter dito Nosso Senhor. Por quê? Porque todos os homens são criados por Deus para ir para o Céu (I Tm II, 4). Isto é algo que eles só podem fazer por meio de Jesus Cristo (Atos IV, 12), mas primeiramente crendo em Jesus Cristo (Jo I, 12), o que só podem fazer ouvindo sobre a Fé (Rm X, 17) – em outras palavras, ouvindo a DOUTRINA católica. Assim, falar de um sujeito que não tem interesse pela doutrina católica é falar de um sujeito que não tem interesse em ir para o Céu. Boa sorte pra ele, onde quer que venha a passar a sua eternidade!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O Apego à Terra Pátria



Segundo o historiador israelita Shlomo Sand (1946 -), houve dissidentes entre os Judeus no século IX d.C., chamados de caraítas ou os “enlutados de Sião”, que não aceitaram o Talmude e a Lei oral definidos pelos talmudistas. Pregavam que somente a Torá e os Profetas deveriam ser seguidos, e que a Terra (de Israel) só poderia ser sagrada se fosse habitada por aqueles que nisso acreditassem. Para os talmudistas, por outro lado, a região onde outrora ficara o Templo não representava para eles a terra de origem, nem mesmo para os seus antepassados. O “exílio” espiritual em que viviam não afrouxou a ligação deles com o local; muito pelo contrário: a significância desta Terra se fortalecera entre os Judeus que viviam em outras regiões do Mediterrâneo, onde mantinham suas práticas religiosas e sua cultura.

Jerusalém: da cidade Santa dos antigos para a atual cidade-Pátria do Sionismo



Até a delineação do Estado de Israel em 1948, entre os Judeus eram poucos os que defendiam uma Pátria terrena própria em Jerusalém e entornos. Viviam bem entre outras culturas em outros países como França e Bélgica, assim como também no Egito, que era tão próximo de Jerusalém. Somente com a ascensão do Movimento Sionista em fins do século XIX, utilizando-se tendenciosamente de uma matriz vetero-testamentária, é que essa ideia foi incutida na mentalidade mundial, dando a ideia de que o “povo disperso” tivesse por direito uma Terra Pátria, diferentemente da Terra Santa dos antigos.

Quando Theodor Herzl (1860-1904), um dos grandes nomes do Sionismo, tentou buscar uma “aprovação” do então Papa S. Pio X (1903-1914), recebeu uma memorável e “doce” recusa do digníssimo santo Padre.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Comentários Eleison CCCXCV (395) - O Pensamento da NeoFraternidade - I

7 de fevereiro de 2015

Por Dom Williamson
Tradução: Andrea Patrícia (blogue Borboletas ao Luar)


Quando o Pe. Pfluger fala, o que se faz audível? 

A religião do homem, o Concílio, em tom alto e inconfundível. 

Perto do fim do ano passado, o segundo no comando da Neofraternidade Sacerdotal São Pio X, o Pe. Niklaus Pfluger, deu uma entrevista para uma revista da Neofraternidade na Alemanha, Der Gerade Weg, na qual ele respondeu a sete perguntas envolvendo a Igreja, a Tradição, a “Resistência” e a ExFSSPX. Dada a sua importante posição, seu pensamento certamente interessa. Suas linhas principais são apresentadas logo abaixo, e então sua principal falha.

A Igreja Católica é ampla, muito mais ampla do que somente o movimento Tradicional. Esse movimento começou na década de 70 como uma reação compreensível dos católicos que perderam espaço após a revolução conciliar; mas nós nunca tornaremos a Tradição atrativa ou convincente se nós permanecermos mentalmente estagnados nas décadas de 50 ou 70. A Tradição Católica é um grande tesouro, e não deve ser confinada dentro das condenações, que foram rotina nos séculos XIX e XX, ao modernismo, ao liberalismo e à Maçonaria. Nas décadas de 70 e 80, a FSSPX agiu como um bote salva-vidas para as almas que se afogavam; mas em 2014, “nosso tempo é diferente, e não podemos nos imobilizar”. A Tradição da Igreja é uma, mas as tradições são muitas, e muito do que é moderno não é imoral.