Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

terça-feira, 22 de maio de 2018

Comentários Eleison DLXVI (566) - Sonhos Piedosos II

Por Dom Richard N. Williamson
19 de maio de 2018
Borboletas ao Luar


A política não pode resolver os infortúnios da Igreja.
Somente a Fé pode derrubar seus adversários mundanos.

       Se há algo certo sobre a Tradição Católica e o Concílio Vaticano II é que eles são irreconciliáveis. É tentador pensar que possam ser reconciliados, certamente porque a letra dos dezesseis documentos do Concílio inclui certo número de verdades católicas. Mas o espírito do Concílio se dirige a uma nova religião centrada no homem, e, como o espírito inspirou a letra dos documentos, mesmo as verdades católicas que contém estão dominadas pelo “aggiornamento” conciliar, e tornaram-se parte deste. De fato, as verdades católicas (e a hierarquia) foram usadas pelos modernistas como transmissoras de seu veneno liberal, como um cavalo de Troia para suas heresias. Portanto, mesmo as verdades católicas estão envenenadas nos documentos conciliares. Assim, em 1990 Dom Lefebvre viu e disse que o Vaticano II estava 100% infectado pelo subjetivismo, enquanto em 2001 Dom Fellay disse que os documentos do Vaticano II são 95% aceitáveis.

      É verdadeiramente tentador fazer de conta que a Tradição Católica e o Vaticano II são reconciliáveis. Por este caminho não preciso mais ficar dividido entre seguir ao mesmo tempo a Autoridade Católica e a Verdade Católica, porque desde o Concílio, como disse o Arcebispo, os católicos foram forçados ou a obedecer aos Papas conciliares e distanciarem-se da Tradição Católica, ou a separar-se da Tradição e “desobedecer” a estes Papas. Daí a tentação de fingir de um jeito ou de outro que a Tradição e o Concílio são reconciliáveis. Mas o fato de que eles são irreconciliáveis é a realidade mais importante que governa hoje a vida da Igreja, e continuará sendo assim até que a Autoridade da Igreja volte à Verdade Católica de sempre. 

         Neste meio tempo, entretanto, o atual Superior Geral da Fraternidade do Arcebispo, Dom Fellay, está convicto de que a Tradição Católica e os romanos conciliares podem se reconciliar entre si, e desde que aprovou o GREC em 1990, esforçou-se por reuni-los. Seu problema é que não entende como o modernismo mantém as aparências católicas para que eles atuem como um cavalo de Troia para enganar almas católicas, enquanto não há um verdadeiro cavalo católico debaixo do que aparenta ser um. Mas Dom Fellay acredita que o cavalo falso tem todos os ingredientes de um cavalo verdadeiro, de modo que, com o terno e amoroso cuidado da Fraternidade, se tornará mais uma vez um cavalo católico. Muitos tradicionalistas permitiram-se crer nesta política equivocada e seguir sua liderança em direção aos romanos conciliares, mas os romanos, de sua parte, não foram enganados. Eles jogaram com sua política fazendo aparentes concessões à Fraternidade e à Tradição (por exemplo, autorizações para confessar, ordenar e realizar matrimônio) e simulando repetidamente que ele está à beira de obter reconhecimento canônico para a Fraternidade, de modo que “só falta o selo para o acordo’. Mas, diferentemente dele, os romanos têm claro em suas mentes que a Tradição Católica é irreconciliável com o Concílio deles, e é por isso que todas as vezes em que a levaram até à beira, insistiram para que a Fraternidade se submeta ao seu Concílio.

             Entretanto, a cada “concessão” que Dom Fellay aceitou para a Fraternidade, os romanos têm-no feito entrar ainda mais em sua armadilha, e ficou difícil para ele voltar atrás. A cada “concessão”, o acordo com Roma se tornou mais e mais uma realidade prática, com ou sem o “selo final”. Ao segurá-lo, por culpa própria de Dom Fellay, os romanos podem jogar com ele como um pescador joga com o peixe – pois como ele pode agora desfazer as “concessões” dadas e admitir que seus vinte anos de política foram um erro? – Mais ainda, que sua política foi um erro desde o princípio? Ao carecer da fé do Arcebispo, ele não entendeu corretamente o problema da Igreja e o “problema” da Fraternidade, e confiou na política humana para tentar resolver ambos. Mas, é claro, os romanos com dois mil anos de experiência foram os políticos mais hábeis – “Sua Excelência, basta de jogos. Por vinte anos fizemos todas as concessões, o senhor não fez nenhuma (grande mentira, já que aceitar as “concessões” conciliares é por si só fazer uma concessão a Roma). Antes de julho, ou o senhor aceita o Concílio, ou nós o excomungamos e mostramo-lo ao mundo como um fracasso. Escolha!”

      Esta é sem dúvida uma versão nua e crua de como os astutos romanos podem pressionar o Superior Geral, mas ele é que nunca deveria ter mendigado à Autoridade sem Verdade. No caso da Igreja Católica, uma Autoridade sem Verdade é, com efeito, uma Autoridade ineficaz.

         Kyrie eleison.

* Traduzido por Leticia Fantin.

sábado, 19 de maio de 2018

Voz de Fátima, Voz de Deus - Nº 60

Mosteiro da Santa Cruz
19 de maio de 2018


“Vox túrturis audita est in terra nostra”     

(Cant. II, 12)






Perdoem-me os leitores pela falha que cometemos em nosso número anterior, pois, vendo que o texto estava ultrapassando o espaço conveniente para a edição, resolvemos transferir o último parágrafo (aliás incompleto) para o número seguinte (este, no caso), mas esquecemos de apagá-lo no número anterior, o que resultou em um texto parcialmente incompreensível. Mas neste número retomamos, desde o começo, o parágrafo interrompido e o prosseguimos.

No decurso dos séculos, Deus permitiu as heresias; e um grande bem que Ele tirou desse mal foi a explicitação da doutrina já crida na Igreja. Creio que, semelhantemente, podemos aplicar isso à realidade da “Igreja Conciliar”. Dom Lefebvre e Corção afirmaram a real existência de uma “igreja parasita”, sem descer a detalhes sobre no quê ela consistia. Depois, procurou-se explicar essa realidade com comparações: moedas, câncer, “amante” etc.. Mas, como “toda comparação claudica”, fazia-se mister uma explicação mais precisa. Julgo haver sido encontrada na exposição feita em um artigo da revista Le Sel de la Terre (revista, aliás, que aconselho nossos leitores a assinar), cujo autor cuidou em não se identificar (provavelmente para não ser “punido”) e que parece haver encontrado o verdadeiro significado dessa Igreja Conciliar: é uma seita, uma reunião de pessoas que têm uma doutrina “religiosa” diferente da da Santa Igreja, organizada, com a finalidade de “reformar” essa mesma Santa Igreja por dentro, sem sair dela, tomando os seus postos de comando.

Então, essa “igreja” se encontra dentro da Igreja Católica, mas é distinta dela. E os membros dessa seita, tendo nas mãos os postos de comando da Santa Igreja, impõem a sua “organização eclesial”, para os católicos se submeterem a ela. Daí vêm a Nova Missa, o novo Catecismo, o novo Magistério, o novo Código de Direito Canônico, os novos Sacramentos… Não foi a Santa Igreja que decretou a Nova Missa, não foi a Santa Igreja que decretou o novo Catecismo, não foi a Santa Igreja que decretou o novo Código de Direito Canônico, não foi a Santa Igreja que decretou os novos Sacramentos. Foi um homem que ocupa o mais alto grau da hierarquia católica, mas que pertence à dita seita ao mesmo tempo que pertence ao corpo da Santa Igreja, pois é batizado, e talvez até mesmo pertença à alma da Igreja (só Deus o sabe), pois o modernismo estraga de tal modo as cabeças, que é possível haver verdadeira Fé (interior) junto com erros doutrinais.

Ainda não terminamos o nosso assunto. Em um próximo número, se Deus quiser, o concluiremos.




Arsenius



U.I.O.G.D

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Comentários Eleison DLXV (565) - Sonhos Piedosos - I

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Introibo ad Altare Dei

12 de maio de 2018

Pobre Menzingen perdida em seus sonhos piedosos.
A gentileza neomodernista não é o que parece.


      Em junho do ano passado um confrade na França escreveu um bom artigo sobre se a Fraternidade Sacerdotal São Pio X deveria ou não obter das autoridades da Igreja em Roma um status canônico que protegeria os interesses da própria Fraternidade. Obviamente, o quartel general desta em Menzingen, na Suíça, acredita que obterá tal status, e se o atual Superior Geral for reeleito para um terceiro mandato em julho, esse é o objetivo que a Fraternidade continuará a perseguir. No entanto, é bastante menos óbvio que esse objetivo deva ser perseguido. Um argumento de oito páginas inteiras de Ocampo nº 127 de junho de 2017 está resumido abaixo em uma única página.

      A posição do artigo é a de que a Fraternidade não pode de modo nenhum colocar-se sob as poderosas autoridades da Igreja imbuídas dos princípios da Revolução Francesa tal como incorporados no Vaticano II, porque são os Superiores que moldam os assuntos, e não o contrário. Dom Lefebvre fundou a Fraternidade para resistir à traição da fé católica pelo Vaticano II. Ao submeter-se aos conciliaristas, a Fraternidade estaria unindo-se aos traidores da Fé.

      As autoridades da Igreja são os bispos diocesanos e o Papa. Quanto aos bispos, aqueles francamente hostis à Fraternidade podem ser menos perigosos do que aqueles que podem ser amigáveis, mas não entendem as exigências absolutas da Tradição Católica, que não são apenas exigências da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Quanto ao Papa, se suas palavras e ações o mostram trabalhando contra a Tradição Católica, a qual é seu dever defender, então os católicos têm o direito e o dever de protegerem-se a si mesmos tanto contra o modo pelo qual ele está abusando de sua autoridade, como contra a própria necessidade inata deles de seguir e obedecer à autoridade católica. Ora, em teoria, um Papa conciliar pode prometer uma proteção especial para a Tradição da Fraternidade, mas na prática ele deve, por suas próprias convicções, esforçar-se para que a Fraternidade reconheça o Concílio e abandone a Tradição. Dada então sua grande autoridade como Papa para impor sua vontade, a Fraternidade deve manter-se fora de seu caminho.

      A experiência mostra que os tradicionalistas que se incorporam à Roma conciliar podem começar simplesmente guardando silêncio sobre os erros conciliares, mas geralmente acabam por aceitar esses erros. O acordo inicial para ficarem silenciosos é, no final das contas, fatal para sua profissão de fé. E pelo declínio natural de um compromisso a outro, eles podem até acabar perdendo a Fé. Foi a Fé que fez o Arcebispo Lefebvre dizer que, a menos que os romanos conciliares voltem à doutrina das grandes encíclicas papais antiliberais – o que eles não fizeram desde o seu tempo e não estão prestes a fazer no momento –, um diálogo maior entre os romanos e os tradicionalistas é inútil, e – ele poderia ter acrescentado – positivamente perigoso para a Fé.

      O artigo também lista oito objeções a essa posição, apresentadas aqui em itálico com as mais breves das respostas:

1 Com a Prelazia Pessoal, Roma oferece à Fraternidade uma proteção especial. Proteção dos bispos diocesanos, talvez, mas não da autoridade suprema do Papa na Igreja.  2 As exigências de Roma para o acordo vêm diminuindo. Somente porque as concessões à cooperação prática são mais eficazes para obter a submissão dos católicos, como bem sabem os comunistas. 3 A Fraternidade insiste em ser aceita por Roma “tal como somos”, isto é, Tradicional. Para os Romanos, isso significa “como vocês serão, uma vez que a cooperação prática tenha feito vocês verem como somos bons”. 4 Assim, a Fraternidade continuará a atacar os erros do Concílio. Nada há de mudar. Roma pode em seu tempo insistir em mudanças cada vez maiores. 5 Mas o Papa Francisco gosta da Fraternidade!  Tanto quanto o grande Lobo Mau gostava de Chapeuzinho Vermelho! 6 A Fraternidade é virtuosa demais para deixar-se enganar por Roma. Tola ilusão! O próprio Arcebispo foi inicialmente enganado pelo Protocolo de 5 de maio de 1988. 7 Várias comunidades tradicionais incorporaram-se à Roma sem perder a verdadeira Missa. Mas várias delas passaram a defender erros importantes do Concílio. 8 O Papa Francisco como pessoa está no erro, mas sua função é sagrada. Reconhecer a sacralidade de sua função não pode-me obrigar a seguir seus erros pessoais, isto é, o mau uso de sua função. A verdadeira Fé está acima do Papa.

   
      Kyrie eleison.

sábado, 12 de maio de 2018

Voz de Fátima, Voz de Deus - Nº 59

Mosteiro da Santa Cruz
12 de maio de 2018


“Vox túrturis audita est in terra nostra”     

(Cant. II, 12)




      A Igreja Católica é Una. Essa unidade é requerida porque a verdade se opõe à falsidade. Uma diferença (de culto, por exemplo, entre os orientais) que não inclui uma falsidade não requer uma diversidade de igrejas.

      A Igreja (com maiúscula) é a Igreja Católica. Ela é a Igreja, por antonomásia. É o protótipo, aquela em que se realiza plenamente o significado dessa palavra (a qual vem do latim ecclesia, que quer dizer reunião, com motivo religioso, organizada, com finalidade religiosa). É a reunião por excelência: a melhor de todas e que todas devem considerar como modelo. Assim, por exemplo,  acontece com a palavra bíblia (que quer dizer: o livro): isso não porque os outros livros não sejam livros, mas porque a Bíblia é o livro por excelência.

      O mesmo não se pode dizer da palavra religião, a qual só se aplica verdadeiramente ao Catolicismo, pois ela significa religar, ligar novamente o que estava separado; e o que se trata aqui é de religar o homem com Deus, os quais haviam sido separados pelo pecado, tanto o de Adão como os nossos. Ora, só a Igreja fundada pelo mesmo Deus é depositária do Sacrifício Redentor que realizou a obrar de reunir o que havia sido separado. Portanto, é um uso indevido aplicar às outras “igrejas” o nome de religião, pois não religam nada.

      Diante do que foi dito, vamos considerar a expressão “Igreja Conciliar”. Ela foi empregada pelo Cardeal Beneli. Dom Lefebvre, já em 1976, havia denunciado a existência de uma outra “igreja” no seio da Santa Igreja. Afirmação, portanto, não causada por uma emoção passageira por ocasião das sagrações episcopais de 1988 (como, parece, está-se pensando entre aqueles que, na “Tradição”, não querem acreditar na existência dessa outra “igreja”, pois agora eles têm em vista um “acordo” ou “entendimento” ou “reconhecimento” ou “oficialização” ou qualquer outro nome que queiram dar à mesma realidade). De seu lado, também Gustavo Corção já falava na “outra”, referindo-se à mesma infiltrada “igreja”.

      Em um próximo artigo pretendo dar continuidade a esse assunto.



Arsenius



U.I.O.G.D

Capela São José abriga noviciado da Ordem dos Frades Menores


Com grande alegria anunciamos que no último sábado, 05/05/2018, Festa de São Pio V, recebemos em nossa capela os irmãos da Ordem dos Frades Menores.

Os frades, que residiam nas terras do Mosteiro da Santa Cruz em Nova Friburgo, passarão a residir agora em Atibaia/SP, a fim de auxiliarem no apostolado desenvolvido pelo Rev. Pe. Rodrigo H. Ribeiro da Silva, SAJM. 

Rendemos graças ao bom Deus por mais essa graça alcançada, a Dom Tomás de Aquino, OSB, pela confiança, autorização e envio dos frades e a todos os nossos benfeitores. 

Aproveitamos para solicitar a generosidade de todos os fiéis que puderem nos ajudar a manter a estrutura da casa e a cobrir todas as despesas. Que Deus retribua a caridade de todos. 


Frei Afonso, Frei Pedro Maria (guardião), Pe. Rodrigo, Frei José, Andrew Matos (postulante) 

quarta-feira, 9 de maio de 2018

O VERBO E AS PALAVRAS

 
Aquele que escreve um texto deve levar em conta um público. Atualmente a possibilidade de se expressar por meios virtuais se generalizou de tal forma que quase qualquer pessoa pode se dirigir a um número indeterminado de leitores e iniciar uma conversa pela Internet. Supostamente as redes sociais serviriam a isso e embora ninguém questione a eficácia da reprodução massiva de imagens e textos pelo ambiente virtual, o fato é que a “liberdade de expressão” tornada possível pelos veículos de comunicação em massa não está gerando progresso. A comunicação em público tornou-se uma atividade inflacionada e, portanto, perdeu parte de sua relevância. Precisamos de menos circulação da palavra externa e mais circulação da Palavra interna, precisamos de menos discursos humanos e mais do Verbo Encarnado. Conhecer-se a si mesmo, ao invés de adotar uma máscara virtual. Isso exigirá obviamente toda uma reeducação moral e intelectual que provavelmente não será efetivada nesta geração, até porque pertencemos à geração da amplificação dos discursos e não à dos contemplativos.

Estamos a apostar sempre nos ativismos, nas estratégias de ação, na militância político-social contra inimigos conhecidos, independentemente da origem destes. É típico das épocas de desordem social como a nossa, que oradores, retóricos, “artistas” do entretenimento tornem-se celebridades. Os contemplativos, ou seja, os que priorizam a vida interior como base do nosso pensar e agir, em geral são ignorados. É mais fácil protagonizar uma polêmica do que defender a verdade, pois as massas são apaixonadas por competições fúteis, alimentadas muitas vezes pelos egos dos próprios competidores. Querer vencer o outro apenas para obter aplausos é uma das piores formas de vaidade e facilmente envenena a alma, tristes aqueles que se enveredam por este caminho.

Mas estamos em guerra, dirão alguns. Precisamos escolher um lado, aliarmo-nos contra inimigos comuns, deixar desavenças secundárias de lado e batalhar pelo que verdadeiramente importa. Isto também é vaidade se a batalha que se trava visa ao inimigo errado, afinal, antes de aprender a lutar é necessário saber contra quem. Não se vence uma guerra lutando as batalhas erradas, ou com os meios inadequados ou sem o treinamento devido. Entretanto, tal tem sido a sina dos católicos contra o liberalismo, o modernismo e a apostasia geral das nações nos últimos três séculos.

Desde o Concílio Vaticano II os católicos estão divididos grosso modo entre os que aceitam o magistério conciliar e os que rejeitam. Na primeira categoria há os que aceitam sem reservas, e outros que aceitam com reservas. Estes últimos muitas vezes são simpatizantes dos que não aceitam o magistério conciliar, mas ao contrário destes, estão dispostos a “dialogar” com a Santa Sé. Imaginam ser capazes de corrigir os erros dos seus superiores com uma boa e velha conversa democrática. Há também aqueles que acreditam combater os erros do Concílio, mas adotam as mesmas posturas daqueles que não o combatem: são guerreiros que ingenuamente trabalham para o inimigo que imaginam combater. Há ainda como já adiantado anteriormente os que rejeitam o Concílio e efetivamente o combatem com as armas espirituais tradicionais: os sacramentos e a oração. Estes também buscam estudar e usar de argumentos para mostrar aos demais católicos que a crise da Igreja é grave e não se resolverá apenas com ativismo midiático. Todavia isto não parece suficiente para aqueles que chamei de guerreiros ingênuos nem para os dialogantes democráticos. Estes dois grupos católicos elegeram, cada qual a seu modo novas armas para além das armas espirituais tradicionais: são elas a polêmica e o diálogo, a retórica e a dialética. Esquecem, entretanto, que a crise da Igreja recai sob matéria de fé, o que necessariamente implica grau máximo de certeza. Dogmas são maximamente certos porque derivam de Deus mesmo, logo, qualquer concessão ao dogma é concessão ao inimigo.

Dogmas se transmitem, não se discutem. Se o magistério não segue os dogmas tradicionais então devemos resistir a ele e não dialogar. Tampouco tem eficácia a tática de criticar polemicamente certas atitudes da hierarquia que são apenas efeito dos seus desvios doutrinais. Um erro doutrinário deve ser combatido nas suas causas e não apenas nos seus efeitos sociais, econômicos ou políticos. Criar uma polêmica pública por tal ou qual membro da hierarquia ter agido ou deixado de agir de tal maneira é tão útil quanto retirar os frutos de uma árvore achando que está a atingir o seu tronco e suas raízes. Mas como disse mais acima, estamos em tempos de inflação comunicativa, não se busca a verdade e sim a repercussão pública dos discursos. É tentador, sobretudo aos católicos que rejeitam os erros do Concílio, buscar alguma forma de inserção no mundo, nas instituições liberais hodiernas, buscar algum público para ouvi-los. É difícil defender a verdade em tempos de apostasia, pois o catolicismo tornou-se uma religião de “outsiders” e, dada a sociabilidade natural do homem, sempre estamos a buscar algum tipo de comunidade para nos inserir. Isto posto, a tendência é que os próprios católicos busquem meios de ação não-católicos apenas para terem algum tipo de repercussão pública, tornarem-se visíveis de algum modo. Poucos estão dispostos a pagar o preço do exílio político e social numa época liberal-maçônica que visa destruir o Reinado Social do Nosso Senhor Jesus Cristo. E não basta gritar “Viva Cristo Rei!” para que Ele reine, é necessário sobretudo rezar pelo triunfo do Imaculado Coração de Maria, levar a mensagem de Fátima a sério e confiar mais em Deus do que no prestígio dos homens. Devemos combater não como guerreiros ingênuos ou dialogantes democráticos, não com palavras humanas e sim com verdadeira devoção ao Verbo Encarnado.

Tal devoção requer a reza diária do Rosário, uso constante dos Sacramentos, a leitura e meditação de bons textos espirituais, uma piedade ainda mais firme e fervorosa pelo Imaculado Coração de Maria e o Sacratíssimo Coração de Jesus, o estudo do catecismo de Trento, a disseminação e estudo de textos contra o liberalismo, a maçonaria e o modernismo, tantas vezes alertado por Mons. Lefebvre e Dom Mayer. Após a solidificação de todas as etapas anteriores, se a Providência permitir, que se criem apostolados leigos sob a direção de um sacerdote, pois a estrutura da Igreja é hierárquica. Esse apostolado precisará antes de tudo servir de fortalecimento para o próprio grupo recém-formado, confirmá-los na Fé e na devoção a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e os frutos virão naturalmente, de acordo com a benevolência da Providência. Por fim, se a ocasião se apresentar oportuna esse grupo já espiritualmente fortalecido e com frutos já comprovados poderá, com o auxílio e sob a direção de um bom sacerdote católico, pensar em articular um meio de ação com alcance social maior depois que o trabalho com as famílias já se mostrou eficiente. Sim, porque o Reinado Social de Cristo deve-se iniciar nas famílias, base das sociedades humanas, só num momento posterior é que os demais corpos sociais absorverão a doutrina e o modo de agir católicos já enraizados nas famílias. O crescimento então será orgânico, da causa para os efeitos, das raízes para os ramos: não é necessário nem se deve pular etapas quando se trata de um apostolado cujas consequências são amplas, pois afinal visa atingir toda a cultura de uma nação. Não se deve buscar um espaço midiático e depois cuidar da salvação da própria alma. Publicar livros e mais livros católicos, enquanto se continua a consumir entretenimentos liberais pela Internet e pela televisão, ou perdendo boa parte do dia com conversas fúteis em redes sociais como WhatsApp e Facebook. Apostolado é transmissão de bens espirituais, se porém, não o cultivamos em nós mesmos, o que então transmitiremos? Se Jesus Cristo não reina em nossas almas reinará na sociedade? A ação católica requer etapas, o agir segue o ser como diriam os escolásticos, e se o nosso ser e o nosso pensar ainda estiverem contaminados de liberalismo e modernismo, nosso agir refletirá esses mesmos erros. É ingenuidade adotarmos o experimentalismo como critério para a ação católica, o famoso “fazer algo é melhor do que não fazer nada”. Fazer algo sem os princípios doutrinais corretos equivale a não agir.

E como não haverá Realeza Social de Cristo sem o triunfo do Imaculado Coração, roguemos a Nossa Senhora para que ela reine e traga em seus braços Nosso Senhor.
Por um Congregado Mariano
 

terça-feira, 1 de maio de 2018

Comentários Eleison DLXIII (563) - Evitou-se a Guerra? - II

Por Dom Richard N. Williamson
Borboletas ao Luar

28 de abril de 2018


      São os judeus o pior problema do mundo? Sim e não.
      Para que sigam seu rumo, eu devo consenti-lo.


     Já que os melhores comentaristas políticos raramente chegam perto da fonte religiosa da história, e, no entanto, como Deus governa o homem, as relações do homem com seu Deus (religião) governam suas relações com seus concidadãos (política), e assim a religião governa a política, então um comentarista religioso deve abrir a dimensão religiosa das questões políticas, estas que a maioria das pessoas sem Deus pode querer positivamente que seus comentaristas políticos deixem em paz. O Deus Todo-Poderoso parece ser muito indesejado no cenário mundial de hoje, por mais que seja Ele, não obstante, seu absoluto Senhor!

      O tema da religião dirigindo de fato a política surgiu nestes “Comentários” semana passada, quando se afirmou que certa raça de homens estava por trás tanto das mentiras da mídia quanto da pressão militar para iniciar a Terceira Guerra Mundial. Levando em consideração quão mortífera as mais recentes armas dos tempos modernos tornarão esta guerra, quem na terra pode pensar que eles ganharão mais do que perderão por causa do conflito global? A resposta é uma raça de homens tão absolutamente certos de sua superioridade sobre todos os outros homens e convencidos de que merecem governar toda a humanidade, e de que eles podem e devem manipular os eventos mundiais até que cheguem ao domínio, por bem ou por mal, porque o fim é tão sagrado que justifica todos os meios. Sagrado? A obliteração da humanidade é algo sagrado? Sim, um senso distorcido do sagrado é a chave para a insanidade: “Nós, o Povo Eleito, somos tão sagrados que ou nós governamos o mundo, ou ele deve ser destruído, e nós mesmos com ele!”.

      O problema é que de Abraão a Cristo eles realmente foram a raça escolhida por Deus para ser o berço e o ponto de partida de Seu próprio Filho Encarnado. Por dois mil anos eles foram estritamente separados do resto dos homens e elevados acima destes, especialmente privilegiados e especialmente punidos quando necessário, seja como for, especialmente tratados para se tornarem aptos para darem ao Divino Filho Sua natureza humana, sua Mãe humana, seus amigos, sua raça e seu entorno, de modo que, como seu Messias, Ele poderia redimir todos os homens de seus pecados. E se o provérbio africano diz que é preciso uma aldeia inteira para formar uma criança, o que não teria custado para formar uma Santíssima Virgem Maria?

      Diga-se hoje o que quiser sobre os desta raça, eles realmente cumpriram sua missão no que diz respeito ao aspecto principal. O drama é que quando seu Messias veio entre eles e provou que Sua missão era conquistar o mundo para o Reino dos Céus e não para a glória deles, eles O crucificaram, e, porque o repudiaram coletivamente desde então, se colocaram na posição de raça do Messias que odeia o Messias, um problema patológico insolúvel, ao menos e até que eles se voltem individualmente ao Cristo que tanto odiaram.

      Desta patologia – ou, antes, teologia – da queda dos judeus por dois milênios, segue uma cascata de consequências para a leitura correta dos eventos mundiais recentes, mas as mais importantes conclusões por extrair-se são as seguintes. Antes de mais nada, se Deus Todo-Poderoso está deliberadamente permitindo que um pequeno número de judeus arquitetem a corrupção e o caos de um grande número de gentios, é somente em ordem a conduzir estes gentios a Ele. Pois, na verdade, a única coisa que os judeus não podem controlar é a Fé verdadeira da única e verdadeira Igreja Católica. Deus não criou o mundo e a Igreja Católica para que as almas caíssem no Inferno, de modo que sempre que as almas retomam a Fé verdadeira elas têm em suas mãos “a vitória sobre o mundo” (I Jo. V,4). E nada nem ninguém pode forçá-las a abandonar a Fé. Se elas abandonam, essencialmente não podem culpar a ninguém mais por isso que não seja a si mesmas.

      Então, façamos com que cada um de nós se volte com seu coração e com sua mente para o único Deus da única Igreja verdadeira (não aquela do Vaticano II), e aos inimigos de Deus, judeus ou gentios, restará somente perder seu poder atual. Eis a única solução para a corrupção e o caos mundial atuais. Se possível, rezem quinze mistérios por dia do Santo Rosário da Santíssima Mãe de Deus, a pessoa humana mais grandiosa que já existiu – uma judia.

Kyrie Eleison


Traduzido por Leticia Fantin.

Se o Limbo é eterno


Carlos Nougué

Certo sacerdote defende entre seus fiéis que o limbo não é eterno. Segundo esse sacerdote, imediatamente antes do juízo final Deus dará às almas do limbo uma prova, de modo que, segundo se comportem diante dela, ou serão salvas e, unidas a seu corpo ressurrecto, ascenderão à beatitude eterna, ou, também reunidas a seu corpo, se condenarão ao fogo eterno da geena.
Mas tal “doutrina”, saída não se sabe de que fábrica, vai contra a doutrina tradicional sobre o limbo, e corrompe de algum modo a fé dos fiéis. Para o confirmarmos, mostremos, ainda que brevemente, o que dizem a este respeito o magistério da Igreja e a Tradição, para depois entregar a palavra a Santo Tomás de Aquino.

I

É certo que nunca houve uma declaração solene do magistério quanto ao limbo. Mas as seguintes palavras de Pio VI, pelas quais defendeu justamente a ortodoxia da crença no limbo contra o conciliábulo de Pistoia, devem bastar-nos para que não demos ouvidos a tão estranha tese:

«O papa declara falsa, temerária, injuriosa às escolas católicas a proposição segundo a qual deve rejeitar-se como a uma fábula pelagiana o lugar dos infernos chamado vulgarmente limbo das crianças [ou dos párvulos], no qual a alma daqueles que morrem somente com o pecado original é punida com a pena de dano [privação da visão de Deus] sem a pena do fogo» (DB 1526).

Naturalmente, a tese que combatemos aqui não nega a existência do limbo, apenas diz que é provisório. Mas as referidas palavras de Pio VI, ao reafirmarem uma doutrina ensinada pelas escolas católicas, afirmam implicitamente também que devemos segui-la por pertencer à Tradição, e a Tradição sempre sustentou a eternidade do limbo. Com efeito, os Padres da Igreja sempre sustentaram (com fundamento especialmente em João 3, 5) a exclusão das crianças não batizadas da visão beatífica de Deus. Ora, a tese combatida defende que algumas almas do limbo, vencida certa prova, terão tal visão – sem todavia estarem batizadas. Logo, incorre em negação de uma doutrina tradicional.  

II

Demos agora a palavra a Santo Tomás, transcrevendo parcialmente o artigo sexto da questão 69 (“De his quae spectant ad ressurrectionem”) do Suplemento da Suma Teológica.

«Artigo 6 ─ Se o limbo das crianças [ou dos párvulos] é o mesmo que o dos Patriarcas.

[...]
Em sentido contrário, assim como ao pecado atual é devida uma pena temporal no purgatório, e eterna no inferno, assim também ao pecado original é devida uma pena temporal no limbo dos Pais [os do Antigo Testamento], e eterna no limbo das crianças. [...]
Respondo: deve dizer-se que o limbo dos Pais e o dos párvulos diferem, sem dúvida alguma, quanto à qualidade do prêmio ou da pena. Pois as crianças não têm nenhuma esperança da vida eterna [ou seja, da beatitude eterna], [esperança] que tinham no limbo os Pais, nos quais também refulgia o lume da fé e o da graça. [...].»

III

Quanto à condição dos que estão (eternamente, insista-se) no limbo dos párvulos, já dissera o nosso Doutor Comum (In IV Sent., I.II, dist. XXX, q. 2, a. 2, ad 5):

«Apesar de as crianças não batizadas estarem separadas de Deus no que concerne à visão beatifica, não estão todavia completamente separadas dele. Ao contrário, estão unidas a Deus pela participação nos bens naturais, e podem assim gozar dele também pelo conhecimento natural e pelo amor natural».

IV

Por fim, perguntemo-nos se a tese aqui combatida não tem algum ponto de contato com a tese neomodernista que nega a ortodoxia ou a existência mesma do limbo. Sim, porque o que parece intolerável a ambas é o fato de que as crianças não batizadas se vejam privadas eternamente da visão beatífica. Mas isso é requerido, como o mostra Santo Tomás, pela justiça divina. O que não é requerido por esta, no entanto, é a mesma existência do limbo, lugar de felicidade natural que decorre da pura misericórdia de Deus.