Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Sobre as orações indulgenciadas e seu valor

"Uma obra indulgenciada não adquire sentido e valor senão quando, ao mesmo tempo, é uma verdadeira oração segundo o Espírito de Deus. Seria abusar da oração e lamentavelmente desconhecer-lhe o sentido e a essência a ela ligada, sem fazer dela uma conversa íntima com Deus. Vida nova em Deus e, por isto, libertação do pecado e da pena eterna que lhe é devida: tal o fim primeiro da piedade cristã. Nenhuma indulgência o pode dispensar. O ganho das indulgências supõe naturalmente essa necessidade indispensável. É claro que, sem o perdão do pecado e de sua pena eterna , não se poderia pensar em remissão da pena temporal. A prática das indulgências contribui, pelo menos indiretamente, para a purificação da alma e o desenvolvimento da vida nova. Não é, diga-se o que se quiser, uma instituição destinada a fazer toda exterior a vida cristã: serve, pelo contrário, a aprofundá-la e enriquecê-la: premente chamamento à penitência, espécie de necessidade que nos impele a incorporar-nos, primeiro, como membro vivo ao Cristo, para podermos esperar o seu auxílio. Como, aliás, as Indulgências não remitem pura e simplesmente ao fiel a pena temporal, mas, sim, só o libertam dela na medida em que ele concorre com suas próprias obras satisfatórias, ordenadas, com precisão, pela Igreja, aos merecimentos do Cristo e dos seus santos, são elas de molde a sacudir as consciências retas, a torná-las mais atentas e sensíveis à terrível seriedade do pecado, assim como ao incomparável tesouro espiritual que se encontra na comunhão dos membros do Cristo."

Karl Adam, in "A Essência do Catolicismo".

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A Catolicidade da Igreja que iniciava

"Manifestação do divino, o Pentecostes dos primeiros discípulos, apresenta dois caracteres: catolicidade ou universalidade e rigorosa unidade. A catolicidade, que faz com que ela convenha a todos, é essencial ao que é divino. Onde está Deus, não há "acepção de pessoas". Fora impossível que a realidade divina aparecida no Cristo se destinasse a uns e não a outros, aos judeus e não aos bárbaros. O que é divino convém evidentemente a todos. Deus só pode operar na plenitude, no conjunto dos homens, e não em alguns apenas. Um Cristo limitado não seria um Cristo. Esta característica do primeiro Pentecostes se mostra no milagre de línguas: "Como pode acontecer que os entendamos falar cada um no idioma particular de nossa terra natal? Nós todos, partos, medas, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia"... (At. 2, 8 e 9). No mesmo tempo em que a fé nova fazia sua entrada no mundo, abarcava a humanidade inteira, era uma fé católica. "A Igreja nascente já era anunciada em todas as línguas" (2) -- E essa catolicidade era uma catolicidade na unidade. Estavam todos conjugados em torno do colégio apostólico, em torno de Pedro, e todos os compreendiam. Um só Deus, um só Cristo, uma só fé, uma só língua. Plenitude na unidade, unidade na plenitude. Foi assim que a nova fé fez a sua entrada no mundo."
(2) Sto. Agostinho, Sermo 266,2.


Karl Adam, in "A Essência do Catolicismo".

domingo, 24 de agosto de 2014

A decadência do homem moderno

"A característica do homem moderno é ser um desenraizado. À história cabe mostrar como chegou ele a esse estado. O grito do XVI século "Los von der Kirche" (nada de Igreja), provocava por uma lógica fatal o "Los von Christus" (nada de Cristo), do XVIII, depois o "Los von Gott" (nada de Deus) do XIX século. Por esta forma a vida interior moderna viu-se cortada do seu mais indispensável, mais profundo princípio, do que a fazia mergulhar no Absoluto, no Ser dos Seres, no valor dos valores. A vida perdeu seu verdadeiro, seu grande sentido, seu impulso interior para o Alto, seu ímpeto de amor eficaz e possante que só o Divino pode suscitar. Em lugar do homem ancorado no Absoluto, firmado em Deus e, por isto, forte e rico, passamos a ter o homem independente e autônomo."


Karl Adam, in "A Essência do Catolicismo".