Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

domingo, 21 de junho de 2015

Comentários Eleison CDXIV (414) - Fátima Invertida?

Por Dom Richard Williamson
Tradução: Andrea Patrícia (blogue Borboletas ao Luar)

20 de junho de 2015


Já não tem a Consagração da Rússia validade?
Ela é indispensável, ainda que seja tarde.

            Quando Nossa Senhora apareceu para a Irmã Lúcia em Tuy, na Espanha, no dia 13 de junho de 1929, para pedir pela Consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração, isto fazia perfeitamente sentido, porque desde que a Revolução Russa estourou em outubro de 1917, a Rússia vinha perseguindo a Igreja e agindo como o principal instrumento do Comunismo para espalhar seus erros mortais pelo mundo. Contudo, a Rússia está agora a desempenhar um papel diferente no cenário dos assuntos internacionais, que faz com que muitos católicos estejam a se perguntar se aquela Consagração ainda é necessária. Será que ela não foi superada pelos acontecimentos?
           
            É verdade que com a queda do Muro de Berlin em 1989, o povo russo começou a repudiar o Comunismo ateu sob o qual ele tanto sofreu durante setenta anos, e desde então não parou de evoluir em direção a Deus ao invés de afastar-se Dele. Tem liderado esta evolução o Primeiro Ministro ou Presidente da Rússia desde 1999, Vladimir Putin (nascido em 1952), que com seu exemplo pessoal e com sua liderança pública tem feito tudo o que pode para promover o verdadeiro ressurgimento da religião cristã ortodoxa dentro da Rússia. Alguns observadores ainda duvidam da sinceridade de Putin, mas os frutos estão aí: milhares de igrejas e catedrais reconstruídas por toda a Rússia, e a moralidade defendida; enquanto que, fora da Rússia, ele já retardou mais de uma vez a deflagração da Terceira Guerra Mundial ao enganar os delinquentes políticos ocidentais, fantoches da ímpia Nova Ordem Mundial que se esforçam para que ela triunfe.

            Pode-se então dizer que a Rússia hoje não precisa mais ser convertida? Não, porque o Cristianismo Ortodoxo ainda não é Catolicismo, e porque o Comunismo tem, pelo que se diz, deixado sua marca na moral do povo russo, por exemplo, na ainda difundida prática do aborto. Mas o que se pode seguramente dizer é que pelo atual ressurgimento religioso na Rússia, testemunhado há muitos anos pelos visitantes ocidentais, Nossa Senhora está preparando a completa conversão daquela nação, e ainda que essa completa conversão possa não ser mais necessária para pôr um fim ao comunismo russo, no século XXI ela se faz ainda mais necessária para vencer o Globalismo mundial. Vamos especular sobre como isto poderia acontecer.

             Para quebrar o cerco agressivo estruturado por bases militares de uma tal potência ocidental que se permitiu ser instrumentalizada pelos maus Mestres do Globalismo, a Rússia, o aparente mas não o verdadeiro agressor (os dois não são sempre o mesmo), invade e conquista a Europa completamente corrompida pelo materialismo ateísta. Sob a pressão da guerra e da ocupação, o Papa finalmente realiza a Consagração da Rússia, conforme pedido por Nossa Senhora em Fátima, e dá-se início à completa conversão miraculosa, mas não para a pútrida religião da Roma conciliar, e sim para um Catolicismo totalmente novo (e totalmente velho) (Mt 13, 52), no qual toda a Verdade da Roma Eterna e do outrora fiel Ocidente é revitalizada pelo frescor religioso dos russos pós-comunistas, que se valem de tudo o que há de mais verdadeiro e de melhor em suas próprias tradições orientais.

            Está-se a priorizar o desejo em detrimento da realidade? Os detalhes aqui costurados a partir das profecias, e mesmo as linhas gerais da especulação podem estar errados, mas de qualquer forma, algum milagre será feito por Nossa Senhora para limpar o Oriente de seus erros e o Ocidente de sua corrupção, de modo que a Igreja possa novamente respirar com ambos os pulmões, e para que assim sobrevenha o “período de paz para o mundo” que ela prometeu em Fátima. Em todo caso, os crentes clamarão com São Paulo: “Ó profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus; quão incompreensíveis são os seus juízos e imperscrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11, 33). Se nós estamos entre os sobreviventes, devemos nos maravilhar com as obras de Deus e de sua Mãe Santíssima.


Kyrie eleison.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Mulheres Torturadas - Gilbert Keith Chesterton

Em sua casa, uma mulher pode ser decoradora, contadora-de-histórias, desenhadora de moda, expert em cozinha, professora... Mais que uma profissão, o que ela desenvolve são vinte passatempos e todos seus talentos. Por isso não se faz estagnada e estreita mentalmente, mas sim criativa e livre. Esta é a substância do que foi o papel histórico da mulher. Não nego que muitas foram maltratadas e inclusive torturadas, mas duvido que tenham sido torturadas tanto como agora, quando se pretende que levem as rédeas da família e ao mesmo tempo triunfem profissionalmente. Não nego que antes a vida era mais dura para as mulheres que para os homens. Por isso nos vemos ante elas.

É a mesma Natureza quem rodeia a mulher de filhos muito pequenos que requerem que se lhes ensine, não qualquer coisa, mas sim todas as coisas. Os bebês não necessitam aprender um ofício, mas sim que se lhes introduza a um mundo inteiro. A criança é um ser humano capaz de fazer todas as perguntas possíveis, e muitas das impossíveis. Se alguém diz que responder a essa criança insaciável é uma tarefa exaustiva, tem razão. Se diz que é uma tarefa desagradável, admito que pode ser tão desagradável como a de um cirurgião ou bombeiro. Em contrapartida, quando alguém diz que essa tarefa feminina não somente é cansativa, mas também trivial e odiosa, me é impossível entender o que querem dizer. Se odioso quer dizer insignificante, descolorido e intranscedente, confesso que não o entendo. Porque decidir e organizar quase tudo; ser ministra da economia que investe e compra roupas, livros, materiais e comidas; ser Aristóteles que ensina lógica, ética, bons costumes e higiene... Tudo isto pode deixar a uma pessoa exausta, mas o que não posso imaginar é como poderia fazê-la estreita e limitada.

A maneira mais breve de resumir minha postura é afirmar que a mulher representa a ideia de saúde mental, é o lar intelectual à que a mente regressará depois de cada excursão pela extravagância. Corrigir cada aventura e extravagância com seu antídoto de senso comum não é -como parecem pensar muitos- ter a posição de um escravo. É estar na posição de um Aristóteles ou de um Spencer, isto é, possuir uma moral universal, um sistema completo de pensamento. Uma mulher assim tem que saber equilibrar muito para consertar e resolver quase tudo, para adaptar-se ao que faz falta. E equilibrar pode ser próprio de pessoas covardes, que se aconchegam ao mais forte. Mas também define as pessoas de caráter nobre, que sempre se colocam ao lado do mais fraco, como o marinheiro que equilibra um barco sentando-se onde há necessidade de seu peso. Assim é a mulher, seu trabalho é generoso, perigoso e romântico. Sua carga é pesada, mas a humanidade pensou que valia a pena colocar esse peso nas mulheres para manter o senso comum no mundo.

“La mujer y la familia”, Editorial Styria.

Disponível em Grupo Dom Bosco e Syllabus (em espanhol).

Tradução: Ir. João da Cruz

domingo, 14 de junho de 2015

Papisa Joana: A Lenda



Entre São Leão IV e Bento III (855), uma calúnia, acreditada pela ignorância e pela má fé, coloca na Sé apostólica a famosa papisa Joana. Os escritores hostis ao papado pretenderam, sem citar em apoio à sua opinião um só testemunho contemporâneo, que uma mulher, por nome Joana, originária de Moguncia e de gênio distinto, conseguira dissimular seu sexo e entrar nas ordens sob o nome de João da Inglaterra. Alcançando, graças a seus talentos, as mais altas dignidades eclesiásticas, teria sido eleita, como papa, em 855, sob o nome de João VIII. A fábula toma agora as proporções de uma obscenidade grosseira. Durante uma procissão solene, a papisa Joana dá à luz na mesma igreja de São João de Latrão. Nada dizemos da vergonhosa cerimônia da sedia cujos pormenores não podem ser escritos por uma pena honesta.

Durante três séculos, nenhum historiador falou nessa fábula tão ridícula quão inverossímil, de uma mulher elevada ao soberano pontificado. Ainda mesmo que o caso fosse verdadeiro, para a Igreja não resultaria nem responsabilidade nem vergonha. Seria uma surpresa e nada mais. Mas nenhum testemunho sério e contemporâneo autoriza a reconhece-lo como autêntico. Na sua História da Igreja, o cardeal Hergenroether, cuja competência e autoridade são indiscutíveis, contenta-se com dizer: “É uma fábula desde muito tempo reduzida ao nada, que Leão IV tivesse como sucessor a papisa Joana”.

Mas pode-se perguntar: qual foi, portanto, a origem de semelhante boato, e de que modo se pôde propagar? Num trabalho publicado em 1863, o doutor Doellinger, cuja ciência histórica é incontestável, rejeita a opinião que faria remontar ao século XI a origem da lenda, e seria mais verdadeiro dizer que data só do meado do século XIII. Segundo Barônio, a fábula da papisa não seria mais do que uma sátira da indolência de João VIII, particularmente no procedimento de Fócio. O O. Secchi, sábio jesuíta de Roma, não vê nisso senão uma calúnia inventada pelos Gregos. Em suma, as explicações soçobram todas perante o silêncio da tradição, e, apesar dos trabalhos históricos empreendidos em nossos dias, nada se descobriu que remonte além do século XIII. É no livro dos “Sete dons do Espírito Santo”, escrito pelo Dominicano Estevam de Borbone, lá pelo meado do século XIII, que apareceu, pela primeira vez, a notícia da papisa Joana; outro Dominicano, Martinho o Polaco, por muito tempo capelão do papa, propagou-a na sua “Crônica dos papas”. Cita-se também certo manuscrito de Anastácio, o Bibliotecário, onde esta lenda teria aparecido, não no texto, mas na margem e em caracteres diferentes dos da obra, o que revela uma interpolação. A mesma narrativa passou nas diversas Crônicas dos século XIV e XV, redigidas, as mais das vezes, por frades dominicanos ou franciscanos. Os autores da “História literária da França” admiram-se e com razão de que os propagadores mais ingênuos e talvez os inventores de uma história tão injuriosa para o papado, se encontram precisamente nas fileiras de uma milícia tão fiel à Santa Sé.

Em todo o caso, a lenda progrediu muito. No concílio de Constança, João Huss se aproveitou dela a favor de sua doutrina sobre o papado e não foi rebatido. O mesmo João Gerson lembra a história de um papa feminino para mostrar que a Igreja pode se enganar sobre uma questão de fato. O caso parecia portanto admitido sem contestação.

Concebe-se então que, na segunda metade do século XV, os Gregos se valessem dessa fábula; era um achado precioso para os inimigos da Santa Sé e para a causa do cisma. Explica-se do mesmo modo que, no século XVI, os discípulos de Lutero e de Calvino explorassem esse conto com uma animosidade prodigiosa e lançassem mão de tal invenção para dela se fazer uma arma contra o papado.

Contudo, vários dos mais doutos e mais conscienciosos entre os protestantes, tais como Blondel, Casaubon, Bayle, não se demoraram em combate-la. Chamier, Dumoulin, Bochart, Basnage e outros homens instruídos, de diversas seitas, não hesitaram em tratar a história da papisa Joana como pura invenção de copista ou de comentador. O pastor Jurieu a qualifica de fábula monstruosa, e Bayle de simples historieta.

Os escritores católicos, Eneas Sylvius, em seguida papa, sob o nome de Pio II; Onufro Pavini, Belarmino, Florimundo de Rémond, de Launoy, o P. Labbe e muitos outros, refutaram amplamente a velha lenda. Mas desprezam-se essas fontes preciosas de erudição. O século XVIII ressuscitou a questão que foi de novo abafada pela Revolução. Uma monstruosa compilação em nossa época: “Os crimes dos papas e dos reis”. Repetiu e desenvolveu a velha lenda da papisa. Quantos ignorantes e papalvos, em nossos dias, julgam ainda fazer dela um argumento contra a Igreja!
Depois do histórico da questão, vamos às provas de que a pretensa papisa Joana não é mais do que uma fábula insustentável.

1 – Esse fantasma não acha lugar para se colocar entre Leão IV e Bento III. Leão IV morreu em 17 de julho de 855; Bento VIII foi, com toda a verossimilhança, eleito no mesmo mês e sagrado em 29 de setembro do mesmo ano. Então, em que fica o reinado da papisa?

2 – Já dissemos: Nenhum contemporâneo fala de tal papisa Joana; os três séculos seguintes observam o mesmo silêncio a respeito, e é somente no século XIII que esta fábula é consignada por escrito na crônica interpolada de Martinho, o Polaco.

3 – Como todas as fábulas e lendas, a da papisa Joana é diversamente contada. Essa mulher elevada sobre a cadeira de São Pedro, nasce ora em Atenas, ora em Moguncia, ora na Inglaterra. No princípio, não se lhe conhecia o nome e não era douta; ocupava o cargo de simples secretário; em seguida, chamou-se Inez, Gilberta e Joana, este último nome sendo mais parecido com o de João, usado naquela época por alguns papas cuja reputação ficava equivoca ou eivada de fraqueza.

4 – Quanto à famosa pedra monumental de uma das ruas de Roma, com uma inscrição de letras iniciais e enigmáticas; quanto à estátua descoberta na mesma rua em que o cortejo pontifical evitava de passar, estátua representando uma mulher e perto dela um menino, é necessário todo um sistema preconcebido de interpretação para ver nisso tudo uma alusão à papisa Joana, e os arqueólogos indicaram-lhes uma significação histórica e completamente romana fora dessa falsa história.

Para concluir, somos do parecer do ministro protestante David Blondel, o qual, refutando esta fábula, declara que “não se deve aplicar o espírito em pesquisas inúteis sobre um assunto que não merece consideração alguma”. “Os protestantes”, dis Bayle, “puderam objetar legitimamente o conto da papisa enquanto não estava refutado. Dele não eram os inventores; achavam-no em várias obras compostas por bons papistas; mas desde que foi refutado por razões indiscutíveis, tiveram que abandoná-lo.

A questão é, portanto, julgada. Hoje, para qualquer espírito instruído e sério a fábula da papisa Joana não é mais do que uma prova da baixeza a que pode resvalar o espírito de partido eivado de preconceitos contra a Igreja e contra a verdade. 


Cauly, Mons. E. Curso de Instrução Religiosa, Tomo IV.

sábado, 13 de junho de 2015

Comentários Eleison CDXIII (413) - Rotina Diária

Por Dom Richard Williamson
Tradução: Andrea Patrícia (blogue Borboletas ao Luar)

13 de junho de 2015


Já não são os meios antigos funcionais?
Ou só requerem por trás deles todos uma força nova a mais?

            Não poucos e-mails que cruzam meu escritório eletrônico merecem ser compartilhados com os leitores destes “Comentários”. Permitam-me citar aqui dois deles (resumidos e adaptados, como de costume). O primeiro é o de um jovem leigo, um antigo seminarista de Winona e agora pai de uma família numerosa. Eis um católico que nunca deveria ser acusado de subestimar o poder da atual apostasia universal, ainda que esteja certo de que resta algo que pode, e deve, ser feito. Ele escreve:

            O liberalismo institucionalizado de hoje e o pedido ensurdecedor da multidão moderna por Barrabás pode muito bem resultar em uma safra de mártires. Eu posso apreciar a preocupação do senhor ao perguntar se Deus ainda quer hoje uma instituição tradicional como um seminário, por exemplo. No século XIX, Dom Bosco criou um novo tipo de “co-operador” leigo para seu trabalho com meninos, não uma Confraternidade nem uma Terceira Ordem, porque ele disse que o mal tinha mudado suas táticas, e por isso ele teve de fazer o mesmo. Os bons católicos foram tomados de surpresa, mas sua nova adaptação aos antigos provou-se eficaz.

            Eu menciono isso porque manter a Fé hoje é como mover-se contra as corredeiras mais selvagens. Manter toda a minha família e a mim mesmo no caminho para o Céu requer tudo o que sou e tudo o que tenho. Adaptando as palavras de São Paulo (II Co 11, 29), “Quem está enfermo, que eu não esteja enfermo?”. Eu lembro do senhor dizendo a nós seminaristas anos atrás que onde quer que nós nos encontrássemos mais tarde, teríamos de pôr ordem em um caos voador. Esse caos é mais intenso agora do que era há 25 anos, porque a vida diária mudou enormemente durante os últimos 15, 30, 45 anos. O mundo está agora comendo almas no almoço de uma forma sofisticada e implacável. Os pais devem adaptar princípios provados e verdadeiros para combater as novas táticas do Diabo, porque o que funcionava antes não necessariamente funciona hoje. São essas “lanças e flechas” da atual educação dos filhos que me fazem questionar se a necessidade de diferentes meios para alcançar os mesmos fins não deveriam se aplicar também aos seminários e vocações.

            O segundo e-mail vem de um sacerdote da “Resistência” que diz que os velhos meios ainda são bons, mas precisam ser fielmente aplicados. Ele escreve:

            É incrível como tantos membros de nosso povo não estão fazendo as coisas básicas da vida católica. Eles querem agradar a Deus. Mas bem, iniciativas e empresas católicas especiais não são más em si mesmas, mas são muito menos importantes, difíceis e meritórias que a rotina diária. Nosso povo quer evitar o pecado mortal, e isso é quase tudo. Quantas vezes eu ouvi que eles se “esqueceram” de fazer suas preces da manhã e da noite, ou as de antes e depois das refeições? E a leitura da Bíblia, da vida dos santos, do catecismo! É por isso que eu trabalho no horário e a destempo, para tentar convencer meu povo a ter uma vida católica constante e regular, para convencê-lo de que é o que verdadeiramente agrada a Deus.

            O mesmo se aplica à “Resistência”. Eu tenho dito ao meu povo que a verdadeira prova será a da continuidade, a da perseverança. Isso foi relativamente fácil dois ou três anos atrás, quando estávamos em uma batalha campal, batendo à direita e à esquerda, mas agora é mais como guerra e trincheiras. E nós defenderemos nossas posições como um movimento se cada sacerdote e cada leigo católico mantiver sua posição em sua vida diária.

            Deus não criou nenhuma alma para o Inferno (1 Tm 2, 4). Segue-se que cada alma pode encontrar os métodos para chegar ao Céu, se ela quiser. Esses métodos podem ser difíceis, mas não são complicados, ou seriam inacessíveis para muitos. Os antigos meios, especialmente o Rosário diário, não são complicados, mas devem ser empregados.


Kyrie eleison.

domingo, 7 de junho de 2015

Comentários Eleison CDXI (412) - Papas Conciliares – II

Por Dom Richard Williamson
Tradução: Andrea Patrícia (blogue Borboletas ao Luar)

6 de junho de 2015


Estariam, ao causar danos, os Papas conciliares bem intencionados?
Aguardemos nos braços fortes de Deus. Só por Ele podem eles ser julgados.


            Estes “Comentários” sempre voltam ao problema do subjetivismo porque sustentam que a Igreja e o mundo de hoje não podem ser bem compreendidos sem ele. Subjetivismo significa essa podridão da mente pela qual a pessoa, ou sujeito, permite que sua mente se desconecte da realidade, ou objeto, e então fique livre para refazer a realidade de acordo com sua própria fantasia. Daí o mundo de fantasia em toda sua loucura hoje à nossa volta, incluindo a fantasia da Neoigreja (Igreja e mundo são reconciliáveis) e a mesma fantasia da Neofraternidade (Tradição e Neoigreja são reconciliáveis).

            Para se manter o apego mental à realidade e o equilíbrio na Fé, é essencial distinguir sempre o subjetivo do objetivo. Por exemplo, os Papas Conciliares estão gravemente equivocados na Fé, objetivamente falando, mas subjetivamente falando, eles estão convencidos de que estão certos, e podem bem estar, ao menos parcialmente, (só Deus sabe) bem intencionados. Mas se eu falho em distinguir entre o objetivo e o subjetivo, posso cair facilmente em um dos dois erros já conhecidos: se digo que esses Papas estão objetivamente equivocados, então eles devem estar subjetivamente equivocados, e assim não poderiam estar bem intencionados, e devem saber o que estão fazendo – portanto eles não podem ser Papas, e eu caio no dogmático sedevacantismo; ou, se eu digo que eles estão convencidos e são convincentes, então eles estão subjetivamente certos e assim devem estar também objetivamente, então eu devo segui-los, e caio no liberalismo (eis como Bento XVI, por exemplo – objetivamente –, enganou muitos bons católicos, quaisquer que fossem as suas intenções).

            Pelo contrário, se eu tenho uma fé clara e sei distinguir entre a realidade objetiva e a fantasia universal de hoje, então, ao medir em última análise Roma pela Fé e não a Fé por Roma, eu posso perceber que os Papas Conciliares podem estar convencidos e ter, ao menos em parte – Deus sabe –, boas intenções, mas eu jamais os seguirei toda vez que tentarem me  distanciar da verdadeira Fé e da verdadeira Igreja. Por outro lado, não excluirei a possibilidade de uma medida de boas intenções de sua parte, nem vou ter como pessoal o juízo dessa medida, mas esperarei que a Igreja julgue, depois de uma audiência, sua pertinácia e heresia.
           
            Mas os homens da Igreja de hoje estão tão universalmente infectados pela fantasia da liberdade, igualdade e direitos do homem em oposição ao dever, à hierarquia e aos direitos de Deus, que a probabilidade de tal audiência se dar em algum momento próximo é mínima. Portanto, em minha própria mente eu posso ter de deixar em suspenso a questão desses Papas. Tal suspensão não é confortável, mas eu sei que Deus em Seu próprio bom tempo há de vir restaurar Seu Papado.

            Enquanto isso, toda a estrutura de Sua Igreja, pela qual toda autoridade descende desde o Papa, não mudou. Assim, como o Papa Francisco condena a Tradição sempre que tem chance, a Tradição não pode fazer mais que permanecer lutando para sobreviver. Quanto à fundação de Dom Lefebvre e a liderança da Fraternidade Sacerdotal São Pio X que se seguiu, a aprovação oficial de seus Estatutos por parte do bispo diocesano local foi de imensa importância. Isso fez da FSSPX a luz de emergência da Igreja oficial, e o movimento da “Resistência” só pode ser uma tentativa de reparar essa luz de emergência da Igreja oficial. Esta tentativa está sendo prejudicada tanto pelos eletricistas oficiais quanto pelos da emergência? Que assim seja. Mas devem-se manter ao menos umas poucas luzes na Igreja. Contudo, que ninguém espere da “Resistência” prodígios ou maravilhas contra tal oposição dos colegas eletricistas. Paciência. Deus tem tudo sob controle.

Kyrie eleison.

            N.B. Eu deverei estar Confirmando neste verão: (na França) próximo a Pau em 7 de junho, próximo a Vichy em 14 de junho; (no Canadá) em Calgary no dia 29 de junho; e (nos EUA) em Denver no dia 1º de julho, em Nashville no dia 2 de julho e em Jacksonville no dia 5 de julho.


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O Anticristo e o Sionismo

A resposta de S. S. São Pio X ao sionismo foi contundente:
NON POSSUMUS!

A religião judaica, ou seja, o judaísmo rabínico e talmúdico que detesta a Jesus Cristo e abomina sua Igreja, não tem mais que um só objetivo, fundado em um só princípio: A ideia nacional. Deste fato, o sionismo, a doutrina nacional que viu o cumprimento de seu plano no século XX, não é mais que a tradução, o cumprimento de um desígnio judaico absolutamente contrário ao plano divino porque opõe-se ao que Deus deseja para os judeus.

Mas o mais importante, e que é ignorado, é que a ideia nacional, que encontrou no sionismo seu modo de realização, é sinônimo da espera de um messias que tem por objetivo assegurar o triunfo mundano dos judeus, destruindo o obstáculo: a Religião Católica. Longe estamos então, neste regresso à terra santa dos judeus, de um milagre que manifeste uma vontade divina, um projeto abençoado por Deus. A esperança messiânica dissimula de fato um desejo secreto: dominar os reinos da terra. Desta sorte, o messias judaico, cuja vinda está ligada à reconstrução da nação judaica é – há que ter o valor de assumir o dever católico de dizê-lo – o anticristo.


A ideia nacional sionista e seu segredo.

De fato, um triunfador que garantisse o poder sobre as nações, tal é o retrato do messias esperado pelos judeus. Estamos diante de um plano que nos distancia de maneira impressionante das intenções de Deus para seu povo, e assistimos, aterrorizados, à execução desta intenção mais que temível para a Cristandade.

Isto é, em todos os seus pontos, conforme às análises dos Padres da Igreja, os doutores e teólogos e ao que pensaram os Papas.

Isto também é explicado por Henri Gougenot des Mousseaux (1805-1876), monarquista legitimista, gentil-homem na câmara do rei Carlos X, feito Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno por Gregório XVI, em gratidão por seus escritos, honrado com a cruz de comendador da ordem pontifícia de Pio IX, redigiu um texto em 1869: “O judeu, o judaísmo e a judaização dos povos cristãos”, com o fim de advertir às nações cristãs de uma terrível e temível ameaça: os sonhos quiméricos e as ilusões nocivas dos sionistas e dos que se converteram, por cegueira, em seus aliados:

“O objeto da missão deste messias será o de libertar o Israel disperso, de libertá-los do cativeiro no qual os forçam a gemer as nações, e de conduzi-los à Terra santa depois de ter derrotado a Gog e Magog. Reedificar Jerusalém e seu templo, a estabelecer e consolidar um reino temporal cuja duração será a do mundo... Todas as nações serão então sujeitas aos judeus, e estes disporão à sua vontade dos indivíduos que as compõe e de seus bens” (...) “Tal é, para os judeus, uma das imagens da felicidade prometida sob o messias que esperam”.[1]

A ideia nacional, depois de ser edificada – o que é o caso hoje, pois os judeus, empurrados e ajudados por um poder satânico, se apoderaram de Jerusalém pelas armas – está baseada positivamente na espera de um messias vingador:

“A crença do messias vingador está viva, e está prodigiosamente enraizada nas entranhas da nação em toda a terra. Ela é a base da religião judaica, ela é a última consolação do judeu. Toda a religião judaica está fundada na IDEIA NACIONAL; não há uma aspiração, não há uma pulsação que não seja pela PÁTRIA...[2]


A espera do messias vingador.

Este messias vingador, messias judeu que funda toda a esperança do restabelecimento nacional do Estado de Israel na Palestina, território conquistado pelo crime, a espoliação e os atentados, não é outro, desde o ponto de vista da Escritura, que a abominável figura da Besta do Apocalipse, o sedutor capaz de enganar e cegar, inclusive aos cristãos, fazendo-se passar por um enviado do Senhor:

“De fato, ainda que a Sagrada Escritura não seja aos olhos do cristão uma tontice absurda e obsoleta, ainda permanece nele esta crença indispensável à civilização das sociedades humanas: que a Igreja não pode mentir nem equivocar-se, não creiamos que o anticristo não é mais que uma fábula, um mito, um símbolo; lembremos que seu reino, terrível e fecundo em revoluções iníquas, em prodígios de todas as classes, é uma realidade futura, o que equivale a dizer que é um fato que está necessariamente em processo de realizar-se, em processo de chegar por meio dos acontecimentos que, dia a dia, lhe constroem.

Não nos esqueçamos que este personagem é um dominador tão semelhante ao que os judeus esperam, que será difícil, impossível a estes cegos de não se equivocar, pois ele leva em si a reunião, a síntese perfeita de todas as aspirações anticatólicas que dezoito séculos de judaísmo atribuem ao libertador futuro de Judá”[3].

Tudo isto é, desgraçadamente, prodigiosamente profético!

Devem estar conscientes deste fato: a reconstrução nacional de Israel, obtida por meios tenebrosos, prepara, obra e trabalha para a próxima chegada (se é que não já chegou), do messias vingador esperado pelos judeus, ou seja, daquele que deve converter-se em chefe: o anticristo!

Fontes: 
Non Possumus
La Question




_______________________________
[1] H.-R. Gougenot des Mousseaux, Le Juif, le Judaïsme et la Judaïsation des peuples chrétiens,Plon, 1869, p. 471.
[2] Ibid., p. 476.
[3] Ibid., p. 485.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Dom Fernando Arêas Rifan, por Dom Tomás de Aquino OSB

Postado em
Missão Sagrada Família


SUPLEMENTO
Nº 7
Dom Fernando Arêas Rifan




Dom Fernando Rifan sempre foi um líder. Dotado de uma viva inteligência e de contato fácil, ele não teve dificuldades para conquistar a admiração e a confiança de todos.

Ordenado em 1974 por Dom Antônio de Castro Mayer ele não demorou a tornar-se o secretário do bispo de Campos.

Em 1980, por ocasião da minha ordenação, o Rev. Pe. Fernando Rifan encontrou um meio de ir a Ecône. Aproveitando-se de uma visita ad limina que Dom Antônio fazia naquela ocasião, o Rev. Pe. Rifan também visitou nosso mosteiro na França e Dom Gérard logo discerniu nele um futuro bispo. Os acontecimentos darão razão a Dom Gérard, mas de modo bem diferente que se poderia esperar naquela época. Mas não antecipemos.
No Brasil o Pe. Fernando fora solicitado pelos fiéis de Permanência para rezar a missa no Rio. Num simpático diálogo entre o Pe. Fernando Rifan e o Dr. Júlio Fleichman, foi selada uma cooperação entre Campos e a Permanência.


- “Não podemos tirar o pão dos nossos fiéis de Campos para dar aos do Rio”, argumentou o Pe. Rifan que queria evitar este apostolado fora da diocese de Campos. Campos sempre se ressentirá de um certo legalismo que limitará a ação de Dom Antônio de Castro Mayer e de seus padres.
- “Mas os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos filhos”, respondeu o Dr. Júlio que, com esta bela resposta, ganhou a partida.
Campos começou então a atender os fiéis do Rio e quando Santa Cruz foi fundado, em 1987, Campos pensou em nos confiar este apostolado. Consentimos somente numa colaboração, pois não queríamos assumir uma responsabilidade que poderia perturbar a regularidade de nossa vida monástica. Nosso apostolado, segundo nosso fundador, o Rev. Pe. Muard, deve ser mais o das missões do que o das paróquias.

Assim foi até 1989 ou 1990, quando Dom Lourenço assumiu o apostolado no Rio ao qual foi acrescentado, em seguida, o de Niterói.

Mas antes se deram as sagrações de 1988. Numa bela manhã, Dom Antônio de Castro Mayer tomou uma decisão que pegou de surpresa os seus padres. Ir a Ecône para as sagrações. Esta decisão partiu dele mesmo, como o Pe. Possidente repetiu em várias ocasiões. O Pe. Fernando o acompanhou, bem como os Rev. Padres Possidente e Athayde. Na cerimônia de sagração o Pe. Fernando traduziu o pequeno sermão, ou melhor, a profissão de fé que Dom Antônio fez para justificar sua presença naquela cerimônia e declarar publicamente seu apoio à obra de Dom Lefebvre. Este pequeno sermão marcou profundamente aqueles que o escutaram.

Depois das sagrações Dom Antônio e seus padres partiram para o Barroux onde eles não puderam entreter-se com Dom Gérard como desejavam. Dom Gérard os evitava deixando assim perceptível para que lado ele estava inclinado. Saindo do Barroux o Pe. Rifan deixou uma carta a Dom Gérard sobre a imensa confusão e decepção que um acordo entre o Barroux e Roma provocaria na Tradição.



Quando, no Brasil, recebemos a notícia dos acordos entramos em contato com Dom Lefebvre e Dom Castro Mayer para nos orientar sobre o que era mais prudente fazer. O Pe. Rifan, nestas horas difíceis, serviu de intermediário, para nos comunicar os conselhos de Dom Antônio. Sua Excelência e os padres propunham que fechássemos Santa Cruz e nos instalássemos na diocese de Campos. Uma carta de Dom Lefebvre nos fez tomar uma decisão diferente: não entregar o mosteiro e fazer uma declaração pública, expondo as razões de nossa ruptura com Dom Gérard. Os bens da Igreja pertencem ao Cristo Rei, não se deve deixar que caiam nas mãos dos inimigos de Seu reino universal. O Pe. Rifan veio a Nova Friburgo com o Pe. Tam ajudar-nos a redigir esta declaração.
Posteriormente ele voltou mais uma vez para falar sobretudo com Dom José Vannier, que tomara o partido de Dom Gérard mas que tinha consideração pelos padres de Campos. Os Rev. Padres Possidente e Rifan falaram com Dom José, mas sem resultado.

Alguns dias mais tarde, o próprio Dom Gérard apresentou-se ao mosteiro com Dom Emmanuel Butler para tentar reaver o mosteiro. Padre Fernando esteve novamente aqui para nos ajudar nas discussões que tivemos com Dom Gérard. Expressamos aqui nossa gratidão por toda aquela ajuda dada a Santa Cruz que contrasta tanto com o que ele faz hoje.

Logo após estes acontecimentos, ou um pouco antes, o Pe. Rifan veio nos ajudar numa missão em nossa região, com toda sua experiência na matéria. Ao fim da missão plantamos uma cruz com a inscrição « Salva tua alma ».
Os laços entre nós e o Pe. Fernando aumentaram ainda mais por ocasião duma viagem a Alemanha para obter ajuda para o mosteiro e para a paróquia do Rev. Pe. Rifan. Passando por Ecône, Dom Lefebvre nos recebeu com a gentileza que lhe era característica e colocou no bolso do Pe. Rifan uma ajuda substancial para a compra de um terreno onde se construiu uma igreja, a mesma onde, atualmente, ele defende a submissão ao Vaticano II e aos decretos litúrgicos da Igreja Conciliar. Que diria Dom Lefebvre se pudesse prever tão mal uso de sua generosa ajuda?

Depois da morte de Dom Antônio uma questão urgente se impôs aos padres de Campos. Quem substituiria Dom Antônio? Isto já poderia ter sido feito em 1988, mas Campos deixara passar a ocasião. Depois de algumas deliberações o clero fiel decidiu escolher um bispo, e um pequeno “conclave” se reuniu. Dom Antônio indicara, antes de sua morte, dois nomes: o Rev. Pe. Emmanuel Possidente e o Rev. Mons. Licínio Rangel. Pode-se supor que o Rev. Pe. Rifan não tinha pois as preferências de Dom Antônio de Castro Mayer.

O Rev. Mons. Rangel foi escolhido. A sagração de Dom Licínio Rangel realizou-se na cidade de São Fidelis, em 28 de julho de 1991. O bispo consagrante foi Dom Tissier de Mallerais, assistido por Dom Williamson e Dom Galarreta. Apesar do respeito que se tinha por ele, Dom Rangel jamais pertenceu ao trio dirigente do clero de Campos. Os Rev. Pe. Possidente, Rifan e Athayde tinham uma influência que limitava um pouco a ação de Dom Rangel, que era de temperamento bastante reservado e um pouco tímido. Não há nada de pejorativo nisto que é dito aqui de Dom Licínio ou dos três padres mais influentes de sua diocese. Isto é simplesmente um fato. Ele pode talvez explicar, em parte, os acontecimentos que se seguiram.

Convidado pela Fraternidade São Pio X para pregar o retiro sacerdotal que precedeu o Capítulo Geral onde Dom Fellay foi eleito, em 1994, para suceder ao Rev. Pe. Schmidberger, o Rev. Pe. Rifan tornou-se cada vez mais uma referência na Tradição. Assim, quando a Fraternidade entrou em contato com Roma depois do Jubileu de 2000 e convidou Campos para participar, o Pe. Rifan foi escolhido para representar Campos nestas entrevistas. O drama de Campos ia começar.

Quando as condições apresentadas por Roma pareceram inaceitáveis por parte da Fraternidade São Pio X, Campos preferiu não dar marcha ré. É difícil de estabelecer qual é a responsabilidade exata de uns e outros nestes acontecimentos. O que pode-se afirmar com certeza é que o Pe. Fernando tornara-se o homem da situação. Ainda que obedecendo às diretivas de Dom Rangel, ele era o único interlocutor presente em Roma durante as negociações. O Pe. Rifan, deve-se notar, já tinha depois de certo tempo contatos cada vez mais freqüentes com os progressistas e tinha também o costume de obter permissões para rezar a missa de São Pio V nos locais que pertenciam aos adversários. Embora isto não seja necessariamente um mal, isto foi, creio, uma abertura que contribuiu para a queda do Pe. Fernando e de toda a diocese. O simples contato com estes homens imbuídos de modernismo e liberalismo foi o ponto de partida desta queda? Vale à pena fazer-se esta pergunta.

Para a grande decepção dos católicos de todo o mundo, Dom Rangel assinou um acordo com Roma na catedral da cidade de Campos no dia 18 de janeiro de 2002, na presença do Cardeal Castrillon Hoyos; do bispo titular de Campos, Dom Roberto Guimarães, e de outras personalidades do mundo eclesiástico. Foi a sentença de morte da Tradição em Campos, embora o Pe. Fernando repetisse que não se tratava de um acordo, mas de um reconhecimento. Todos os fiéis aceitaram os acordos, enganados por seus padres que, por sua vez, enganaram-se a si mesmos. Na verdade nem todos os fiéis aceitaram estes acordos, mas os que resistiram foram verdadeiramente o “pusillus grex”. Entre eles deve-se destacar aqui o Sr. Hirley Nelson de Souza.

Dom Licínio, atacado por um câncer, faleceu pouco depois, e o Rev. Pe. Rifan o sucedeu à frente da Administração Apostólica, nascida dos acordos com Roma. Sagrado pelo cardeal Hoyos, Dom Fernando revelar-se-á o “ralié”[1] por excelência. Tornando-se amigos de nossos inimigos, ele percorrerá todas as dioceses, abraçando aqueles que outrora ele atacava com um ardor que os progressistas não esquecerão tão cedo. Com a mudança de lado, Dom Rifan vai acumular as provas da sinceridade de seu “alinhamento”[2]. Como disse Abel Bonnard: “Um “ralié” nunca é bastante “ralié” ”. A autoridade do Vaticano II; a legitimidade da missa nova; a obrigação de se submeter ao “magistério vivo” dos Papas liberais; a condenação de Dom Lefebvre, considerado como um cismático: tudo isso Dom Fernando Rifan foi obrigado a aceitar e proclamar.



Todavia, não era isto que os padres de Campos queriam, nem o que eles haviam dito aos fiéis, nem mesmo o que eles haviam dado a entender ao Cardeal Castrillon Hoyos. Prova disso, a declaração que eles redigiram, na qual afirmaram sua determinação de continuar o combate contra o liberalismo, o modernismo e o progressismo que inspirou o Vaticano II. O Cardeal Hoyos, depois de ler a declaração, fez a seguinte reflexão que um dos padres de Campos me relatou: “Sim, foi o que nós combinamos. Mas não é necessário dizer tudo isto. Basta declarar que os senhores farão críticas construtivas conforme permite o Código de Direito Canônico”. “Depois disto, disse o mesmo padre, nosso combate terminou”. Seja por medo de contristar o Papa ou o Cardeal Hoyos, seja por falta de convicção, ou por causa de uma fé abalada, ou por medo de Dom Fernando Rifan, ou por qualquer outra razão, o fato é que Campos tornou-se semelhante a um cachorro mudo. A Roma modernista não tem nada a recear da parte destes padres, apesar deles terem sido formados na escola de um dos grandes bispos do século XX, que se opôs energicamente aos erros modernos. Como explicar isto? Sem querer penetrar no fundo dos corações e ir além daquilo que os fatos nos revelam, penso que, certamente, o contato com as autoridades que não professam a integridade da fé católica só pode levar, pouco a pouco, aqueles que se submetem a elas a compartilhar de suas idéias e de seu modo de ser. Dom Lefebvre alertara o bastante a Dom Gérard sobre isto. Em Roma não se faz o que se quer, mas o que Roma quer. Dom Gérard não levou isso em conta; Dom Fernando, menos ainda.
Mas, da própria diocese é que viria a reação. Os próprios fiéis perceberam com o tempo que alguma coisa estava mudando. Eles apelaram para o mosteiro, e Dom Antônio-Maria foi rezar uma missa para eles numa fazenda que tem o belo nome de Santa Fé. Dom Fernando ficou furioso. Ele reuniu os “culpados” e lhes advertiu duramente.
-“Ai dos senhores, se trouxerem aqui novamente um padre do mosteiro ou da Fraternidade!”
-“Excelência, respondeu um camponês que conhecera Dom Castro Mayer, isto depende só do senhor. Se o senhor perseverar na nova direção que escolheu, eu chamarei, todos os anos, um padre da Fraternidade ou do mosteiro para fazer minha Páscoa, eu e minha família.”
Dom Rifan não pôde obter nada daqueles valorosos camponeses, que atualmente, nas grandes festas, são mais de 250 numa pequena igreja construída por eles, onde os padres da Administração não põem mais os pés.

Para terminar, observemos somente que Dom Fernando hoje concelebra com os bispos progressistas e diz que recusar sistematicamente a rezar a Missa Nova é uma atitude cismática. É o que chamamos de traição: ação de faltar com a fidelidade que se deve ter aos princípios católicos, pois eles nos foram confiados pela Santa Igreja, ou seja, por Nosso Senhor. É uma constatação, nada mais. Se se prefere uma outra definição de traição, pode-se aplicar-lhe esta: crime de uma pessoa que passa para o lado do inimigo. É duro, mas é um fato. Todo mundo pode constatar. Que Deus nos preserve de fazer o mesmo, nós que, por nossa fragilidade, podemos cair ainda mais baixo. Atualmente Dom Rifan é amigo daqueles que condenaram Dom Lefebvre e Dom Antônio. Ele chama João XXIII e João Paulo II de beatos. Ele é amigo dos liberais, daqueles que destronaram Nosso Senhor e que promovem a descristianização da sociedade.

Que Nosso Senhor e sua Mãe Santíssima nos preservem de perder a herança que nos foi legada com tanto sofrimento por Dom Marcel Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer, a qual não é senão aquela de que falava São Paulo: “Eu transmiti o que eu recebi” (I Cor. 11, 23)


Ir. Tomás de Aquino O.S.B.

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[1] “Ralié”. Nome que os franceses deram aos que, seguindo diretivas de Leão XIII, aceitaram trabalhar com o governo republicano e maçom da França, no século XIX. As diretivas de Leão XIII se revelaram imprudentes, e os melhores católicos franceses se recusaram a segui-las. Este mesmo governo francês depois expulsou as ordens religiosas do país, obrigando-as a emigrarem para o exterior.
[2] Traduziremos assim o termo “ralliement”, e para “ralié” manteremos a forma francesa.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

As Características dos Pagãos e do Povo Judeu - Padre Julio Meinvielle

OS POVOS PAGÃOS

Deus não criou os povos no paganismo. Sua divina misericórdia, mesmo depois da queda, confortou ao homem com os meios necessários para que conquistasse sua eterna salvação. A lei da natureza, pela qual se regiam os homens nessa primeira idade do mundo, não se chamava assim por oposição à lei sobrenatural, já que também ela compreendia os preceitos sobrenaturais da fé, da esperança e da caridade, mas sim por oposição à lei exterior ou escrita. Pois em lugar de ser proposta exteriormente, era conhecida seja pelo simples instinto da natureza, no que se refere aos preceitos da ordem natural, seja por uma simples inspiração divina sobre os preceitos da ordem sobrenatural. Neste estado, diz São Tomás (Suma Teológica III, q. 60, a. 5, ad. 3) os homens não se moviam a adorar a Deus por nenhuma lei exterior, mas somente pelo instinto interior. E muitos foram os justos que acomodaram sua vida a esta lei de natureza, não somente entre os primeiros patriarcas da humanidade, mas também depois de Abraão e de Moisés, como por exemplo o Santo Jó, que não sendo judeu nem prosolélito, deu grandes e extraordinárias mostras de santidade, e possivelmente muitos sejam agora os que por ela se rejam e se salvem. Isto pode se pensar particularmente dos grandes varões do bramanismo da Índia, que em símbolos e em altíssimos princípios teológico-metafísicos, alcançam um conhecimento tão elevado das coisas de Deus que se poderia ser acreditado hoje patrimônio exclusivo dos cristãos. (Ver Johanns S. J. "Vers le Christ par le Vedanta").

Thomas Couture, I Romani Della Decadenza, 1847

O paganismo é a infidelidade dos homens a esta lei de natureza. São Paulo nos descreve com caracteres definitivos os aspectos próprios do paganismo.

Na Carta aos Romanos I, diz o Apóstolo, falando dos pagãos: 

21. Porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, mas desvaneceram-se nos seus pensamentos, e obscureceu-se o seu coração insensato;
22. porque, dizendo ser sábios, tornaram-se estultos,
23. e mudaram a glória de Deus incorruptível para a figura de um simulacro de homem corruptível, de aves, e de quadrúpedes, e de serpentes.


Deduzimos daqui as características do Paganismo.

Primeira característica: reconhecimento de Deus.
O paganismo não é ateu. Reconhece a Deus e confia em sua Providência. E a um Deus uno, governador do mundo, distinto do mesmo mundo. São Paulo na passagem citada insinua claramente esta ideia que tem sido confirmada cientificamente pelos modernos investigadores das religiões. O que se chama henoteísmo (adoração de um) não é mais que isto. "O henoteísmo, diz o filósofo Hartmann, tem seu fundamento na identidade positiva que se reconhece na base de todas as divindades da natureza, identidade que permite honrar, na pessoa de cada deus (principalmente naquela de cada um dos deuses admitidos desde a origem, a divindade no sentido absoluto, o divino, Deus. E Tertuliano reconhecia o caráter henoteísta do culto pagão quando falando à alma humana dizia: "Confessas ao Deus único e somente a Ele nomeia, quando falando às vezes aos deuses parece lhes conferir um poder que não têm." (De Testimonio animae, c. 2); e Santo Agostinho quando escreve: "Ainda antes de crer em Cristo, os pagãos não puderam ignorar totalmente o nome d'Aquele que é o Deus do universo; porque o prestígio da verdadeira divindade é tal que não pode permanecer total e plenamente escondida a uma criatura racional, usando de sua razão."

Segunda característica do paganismo: a idolatria.
Diz São Tomás II, II, 194, a. 1, ad. 4), que o nome da idolatria se impôs para significar qualquer culto dado às criaturas, mesmo que se faça sem imagens". E como os pagãos não possuíam uma ideia clara da transcendência de Deus, que está infinitamente acima de todo a criação como o Ser Necessário acima do contingente e ao mesmo tempo de sua divina imanência que está presente em todo o ser e em toda a atividade das criaturas, como Ser e Causa Primeira, (São Tomás III, q. 2 e 8) viram a divindade nas coisas mutáveis da criação, fracionaram-na nestas mesmas coisas corruptíveis e nelas a adoraram.

Terceira característica do paganismo: a divinização do poder.
O paganismo, diz São Paulo, chegou a mudar a glória de Deus incorruptível para a figura de um simulacro de homem corruptível. Divinizaram-no totalmente e não puderam então deixar de assinar caracteres divinos ao Poder e sobretudo ao Poder político, que é a suma dos poderes concebíveis na terra. O paganismo não podia distinguir na razão de todo e de parte que lhe cabe a todo homem. É um todo porque o homem, cada homem, mesmo o mais infeliz e desgraçado, está ordenado diretamente a Deus, seu fim último. É uma parte, porque para alcançar a plenitude do todo, tem que se submeter como parte das distintas sociedades, necessárias para sua perfeição. O homem é todo, é uma pessoa, e neste sentido não pode estar totalmente submetido a nenhum poder da terra: pelo contrário, os poderes da terra e mesmo a Igreja foram feitos para o homem. O homem é parte e deve obediência aos poderes legítimos, cuja autoridade vem de Deus (Rm XIII, 1-2). (Cf. Julio Meinvielle, Concepción Católica de la Política.) O paganismo teve de fazer forçosamente do Poder, do Estado, um Deus. Reconheceu o caráter orgânico e hierárquico do poder, porém para divinizá-lo. O poder resultava por ele mesmo, inevitavelmente tirânico, porque não servia ao homem, mas se servia dos homens.

Quarta característica do paganismo: a religião nacional.
Não reconhecendo o paganismo nem a transcendência de Deus, que está acima de tudo o que foi criado, nem a transcendência do homem, que, em último termo, não se ordena totalmente senão somente a Deus, não podia se dar uma ideia de uma religião universal, una para todos, assim como há um só Deus, Criador e Fim dos homens. A religião estava particularizada como o Estado, e com ele identificada. O César, o monarca, o cônsul, o tribuno, era também quem regulava a vida religiosa quando não era o objeto mesmo do culto.

Quinta caraterística do paganismo: exaltação dos próprios instintos e ódio ao estrangeiro.
Quando se ignora a Deus não se pode verdadeiramente conhecer o homem, feito à imagem e semelhança de Deus. E assim o paganismo desprezou o homem. Desprezou o homem enquanto o exaltava. Porque lhe exaltava em uns e desprezava em outros; exaltava-lhe nos do próprio sangue, cidade ou tribo, e lhe desprezava nos de outro sangue, cidade ou tribo. Exaltava-lhe ao glorificar-lhe em vergonhosos instintos. São Paulo lhes reprova isto aos pagãos, em sua célebre carta aos Romanos I, 24-32.

24. Pelo que Deus os abandonou aos desejos do seu coração, à imundície; de modo que desonraram os seus corpos em si mesmos;
25. eles, que trocaram a verdade de Deus pela mentira, e que adoraram e serviram a criatura de preferência ao Criador, que é bendito por todos os séculos. Amém.
26. Por isso Deus entregou-os a paixões de ignomínia. Porque as suas próprias mulheres mudaram o uso natural em outro uso, que é contra a natureza.
27. E, do mesmo modo, também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam nos seus desejos mutuamente, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em si mesmos a carga que era devida ao seu desregramento.
28. E, como não procuraram reconhecer a Deus, Deus abandonou-os a um sentimento depravado, para que fizessem o que não convém,
29. cheios de toda a iniquidade, de malícia, de fornicação, de avareza, de maldade, cheios de inveja, de homicídios, de contendas, de engano, de malignidade, mexeriqueiros,
30. detratores, odiados por Deus, injuriadores, soberbos, altivos, inventadores de maldades, desobedientes aos pais,
31. insensatos, sem lealdade, sem afeto, sem lei, sem misericórdia.
32. Os quais, tendo conhecido a justiça de Deus, não compreenderam que os que fazem tais coisas são dignos de morte; e não somente quem as faz, mas também que aprova aqueles que as fazem.




O POVO JUDEU



Tais são as características comuns que se aplicam ao mundo pagão nas distintas e grandes civilizações que criaram, não somente na greco-romana, como também nas antiquíssimas civilizações babilônicas e egípcias. Todos estes são povos idólatras, que ao perder o conhecimento do verdadeiro Deus, corromperam também os princípios de ordem e salvação sobre os quais deve estar edificada a cidade terrestre.

Os restos arqueológicos nos dão pálida ideia das grandes e colossais empresas que teceram e realizaram, mas diminuíram o homem, despojando-o das prerrogativas de dignidade humana que constituem sua verdadeira grandeza. O homem foi desumanizado, para se converter em coisa útil, em ferramenta. Ao perder o homem a Deus, também perdeu-se a si mesmo.

Por isso Deus separou para si um povo, que fosse Seu povo e na qual se conservasse intacta a revelação primitiva que Deus havia comunicado aos primeiros pais da humanidade. Dois mil anos antes de Jesus Cristo, Deus chama a Abraão e lhe diz: Sai de tua terra e de tua parentela, e vem à terra que te mostrarei. (Gn XII, 1).

2. E eu te farei cabeça de uma grande nação, e o abençoarei e enaltecerei teu nome e tu serás bendito.
3. Bendirei aos que te abençoarem e amaldiçoarei aos que te amaldiçoarem e em ti serão benditas todas as nações da terra.




A este povo Deus lhes dá uma lei escrita, a qual não salva por si, por uma eficácia intrínseca, mas que é sinal d'Aquele em quem devem ser benditas todas as linhagens da terra. Este povo torna-se então santificado e consagrado a Deus não por ser tal povo, nem por vir do Pai Abraão, senão pelo Cristo, o Filho de Deus bendito pelos séculos, o Prometido, o Libertador, o Redentor, que devia sair de seu seio.

Este povo, ao qual Deus protege de modo especial, trouxe-nos de fato o Redentor, e a mãe do Redentor, e aos apóstolos, tronco primeiro da Igreja de Cristo. O povo judeu foi em Cristo o veículo dos grandes bens da humanidade.

Mas assim como o paganismo é uma infidelidade à lei da natureza, assim o Judaísmo é uma infidelidade à lei escrita. O grande pecado dos judeus consiste em que por aderirem ao sinal, à figura, perderam a substância de salvação que é Cristo. Como escreveu em palavra eterna São João (Evangelho I, 11): Veio à sua própria casa e os seus não o receberam.

A característica distintiva do povo judeu, depois que Cristo veio ao mundo é seu anti-cristianismo. Odeiam a Cristo como a um traidor saído de sua raça. Odeiam-no porque consideram que ele os decepcionou: quando devia ter trazido a eles a grandeza dominadora sobre todos os seus inimigos, os outros povos, não fez senão atá-los ao jugo dominador destes mesmos povos.




A segunda característica distintiva do povo judeu é sua ambição por dominar o mundo. O que Cristo não fez, deve fazê-lo sua raça. O povo judeu, que tem consciência de seu destino eterno através da História da humanidade, quer que as promessas que lhe foram feitas e que as entenderam sempre em sentido carnal, logrem cumprimento. Assim inverteram o messianismo; ao que na mente de Deus teve um sentido espiritual, deram eles uma significação material e trabalharam com uma consciência metida no íntimo de sua raça, através dos tempos, em meio dos mais diferentes povos, certos de que virá o dia em que eles, desde Jerusalém, centro do mundo, dominarão com cetro forte as nações.

Aos judeus lhes cabe então a missão de serem os corrompedores dos povos cristãos, com a consciência clara de que quanto façam por corromper a estes povos, apartando-os de Jesus Cristo e de todos os laços tradicionais de vida, é tarefa preparatória para sua futura dominação.



MEINVIELLE, Pe. Julio. Los tres pueblos bíblicos en su lucha por la dominación del mundo. Buenos Aires: Adsum, 1937.