Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

quarta-feira, 30 de março de 2016

O anatematizado "Sínodo de Pistoya" (1786-1787)

Celebrado em 28 de setembro de 1786, por Scipio de Ricci, bispo de Pistoya e Prato. Assinalou o esforço mais atrevido que se fez para se assegurar um posto na Itália para o Jansenismo e erros similares. Pedro Leopoldo, ao ser nomeado Grande Duque da Toscana em 1763, quis seguir o exemplo de seu irmão, o imperador José II, em assumir o controle dos assuntos religiosos em seus domínios. Imbuído com ideias de regalismo e jansenismo, estendeu seu equivocado zelo aos mais mínimos detalhes de disciplina e culto. Em duas instruções de 2 de agosto de 1785 e 26 de janeiro de 1786, enviou a cada um dos bispos de Toscana uma série de 57 “pontos de vista de sua Alteza Real” sobre assuntos disciplinares, doutrinais e litúrgicos, impondo que se celebrassem sínodos diocesanos a cada dois anos para aplicar a reforma da Igreja e para “restaurar para os bispos seus direitos naturais usurpados abusivamente pela Corte Romana”.

Dos 18 bispos toscanos somente 3 convocaram o sínodo; destes, apenas Scipio de Ricci foi um partidário daquele espírito. Havia nascido este em 1734 de uma família eminente e desde o princípio deu sinais de seu valor e eminência. Bispo de Pistoya e Prato, a diocese mais povoada de Toscana, em 19 de junho de 1780, empreendeu e aplicou com energia e com o apoio de Pio VI uma reforma necessária, e mesmo que influenciado por seu tempo, seu zelo esteve marcado por uma audácia excessiva. Condenou a devoção ao Sagrado Coração e se opôs ao uso das imagens e relíquias, subvalorizou as indulgências, fundando além disso uma imprensa para a propaganda jansenista. Em 31 de julho de 1786 convocou um sínodo, invocando a autoridade de Pio VI que havia recomendado previamente o sínodo como meio normal de reforma diocesana.

Com sua energia e previsão característica, preparou o concílio convidando teólogos e canonistas notórios de fora de sua diocese, de tendências galicanas e jansenistas e emitiu ao seu clero comunicados que refletiam os erros dominantes de seu tempo. Em 18 de setembro se inaugurou o sínodo na igreja de São Leopoldo de Pistoya celebrando 7 sessões até 28 de setembro. De' Ricci presidia e à sua direita estava o comissionado real e professor na Universidade de Pisa Giuseppe Paribeni, de ideias regalistas.

O promotor foi Pietro Tamburini, professor na Universidade de Pavia, conhecido por seu saber e por suas simpatias pelos jansenistas. Na sessão inaugural 234 membros estavam presentes; mas na quinta sessão 246 compareceram, dos quais 180 eram pastores, 13 canonistas e 12 capelães, 28 simples sacerdotes do clero secular e 13 regulares. Muitos, incluído o promotor, eram extra-diocesanos irregularmente introduzidos por de’ Ricci por simpatizar com seus planos. Muitos sacerdotes de Pistoya não foram convidados enquanto que o clero de Prato, donde havia um forte sentimento contra o bispo, foi simplesmente ignorado.

Os pontos propostos pelo grande duque e as inovações do bispo se discutiram acaloradamente e com não pouca acrimônia. Os Regalistas pressionaram sua audácia até extremos heréticos e levantaram protestos dos seguidores do papa. Ainda que essas objeções sofressem algumas modificações, as proposições de Leopoldo foram aceitadas em sua substância, se adotaram os quatro artigos galicanos da Assembleia do Clero Francês de 1682 e o programa de reformas propostas por de Ricci aprovado em sua integridade. As opiniões teológicas eram fortemente jansenistas: o direito da autoridade civil a criar impedimentos matrimoniais, a redução das ordens religiosas a um só corpo com hábito comum e sem votos perpétuos, uma liturgia vernacular com um só altar na igreja etc. Duzentos e trinta e três membros firmaram as atas na sessão final de 28 de setembro e o sínodo foi suspenso para ser reiniciado em abril e setembro seguintes. Em fevereiro de 1787 apareceu a primeira edição (3500 cópias) das Atas e Decretos com o Imprimatur real. De’ Ricci queria o que a Santa Sé acreditasse que havia sido aprovado por seu clero ao qual chamou para um retiro pastoral em abril para obter suas firmas aceitando o sínodo. Apenas 27 assistiram e 20 se negaram a firmar.

Mesmo em meio a tudo isso Leolpoldo chamou a todos os bispos de Toscana a uma reunião em Florença, em 22 de abril de 1787, para prepará-los para a aceitação dos decretos de Pistoya em um concílio provincial, porém os bispos reunidos se opuseram vigorosamente ao seu projeto e depois de 19 tumultuosas sessões suspendeu a assembleia e abandonou a esperança do concílio. De Ricci ficou desacreditado e depois da ascensão de Leolpoldo ao trono imperial em 1790, foi obrigado a abandonar sua sede. Pio VI comissionou 4 bispos, assistido por teólogos do clero secular, para examinar as atas de Pistoya e nomeou uma congregação de cardeais e bispos para fazer juízo sobre elas. Condenaram o sínodo e estigmatizaram 85 de suas proposições como errôneas e perigosas. Em 28 de agosto de 1795, Pio VI deu um golpe mortal à influência desde sínodo e do Jansenismo na Itália com sua Bula “Auctorem Fidei”.


Bibliografia

Atti e Decreti del Concilio Diocesano di Pistoja (2ª ed., Florencia, 1788); tr. SCHWARZEL, Acta Congregationis Archiepiscoporum et Episcoporum Etruriae, Florentiae anno 1l787 celebratus (7 vols., Bamberg, 1790-94); DENZINGER-BANNWART, Enchiridion (Freiburg, 1908), 397-422; BALLERINI, Opus Morale, I (Prato, 1898), li-lxxxii; GERODULO, Lettera critologica sopra il sinodo di Pistoia (Barletta, 1789); La voce della greggia di Pistoja e Prato al suo pastore Mgr Vescovo Scipione de’ Ricci (Sondrio, 1789); Lettera ad un Prelato Romano dove con gran vivezza e con profunda dottrina vengono confutati gli errori de’ quali abbonda il Sinodo di Mgr de’ Ricci, Vescovo di Pistoja (Halle, 1789); Seconda lettera ad un Prelato Romano sull’ idea falsa, scismatica, erronea, contradittoria, ridicola della chiesa formata del Sinado di Pistoja (Halle, 1790); Considerazioni sul nuovo Sinodo di Pistoja e Prato fatte da un paroco della stessa diocesi (Pistoia, 1790); PICOT, Mémoires pour servir à l'histoire du 18e siecle (Paris, 1855), V, 251 ss.; VI, 407 ss.; GENDRY, Pie VI, sa vie–son pontificat, II (Paris, 1907), 451-83, documentado en los Archivos Vaticanos; SCADUTO, Stato e Chiesa sotto Leopold I (Florencia, 1885); DE POTTER, Vie et Mémoires de Scipion de’ Ricci (Paris, 1827), 1 ss.; PARSONS, Studies in Church History, IV (New York, 1897), 592-600; Scipio de’ Ricci en Dublin Review (March, 1852), XXXII, 48- 69.

JOHN B. PETERSON.

Transcrito por WGKofron. Com agradecimento à Igreja de Sta. Maria, Akron, Ohio.
Traducido por Pedro Royo
Tradução para o português por Cristoph Klug, cotejada com a versão inglesa disponível em http://www.newadvent.org/cathen/12116c.htm.

Fonte

Enciclopedia Católica Online. Sínodo de Pistoya. Disponível em http://ec.aciprensa.com/wiki/S%C3%ADnodo_de_Pistoia. Acesso em 30 de mar de 2016.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Ainda esclarecendo dúvidas, por S.E.R. Dom Tomás de Aquino, OSB

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PAX

                No Catecismo de São Pio X está dito que somente a Santa Igreja Católica recebeu o carisma de fazer milagres. Isto nunca será dado por Deus às falsas religiões porque Deus nunca favorecerá o erro, caso contrário Ele não seria Deus.

                Pergunta-se então como pode-se conceber um milagre numa Missa Nova ou mesmo entre pessoas que não são católicas? Isto é possível? Se for para a conversão destas pessoas não há nenhum impedimento. Os milagres são realizados por Deus para confirmar a verdade e assim fazendo conduzir as almas a Deus, ou seja, à Igreja Católica pois a Igreja Católica é a reunião das almas que estão unidas a Deus aqui na terra, no Purgatório e no Céu.

                Se a mula de Balaão falou foi para demonstrar que Deus abençoava o povo de Israel, figura e início da Santa Igreja Católica, e impedia que Balaão o amaldiçoasse como era sua intenção.

                Se houve milagre eucarístico na Nova Missa foi para a conversão dos que o presenciaram ou que tiveram notícia dele. Que seja certo que tenha havido milagre ou não, isto não pertence às verdades nas quais temos que crer para nos salvar. Que seja possível um milagre eucarístico, caso tenha havido consagração, é uma afirmação que pode ser defendida sem incorrer a nota de heresia. Se alguém não crer nesse milagre ou se ele achar inconveniente que ele tenha ocorrido numa Missa Nova, ele não incorre em nenhuma reprovação do ponto de vista da fé católica. A questão de saber se houve realmente milagre ou não houve é uma questão aberta. Quem se interessar por ela que procure as provas que demonstram a realidade ou a impostura deste “milagre”. Mas afirmar que uma hóstia consagrada e profanada não possa sangrar para a conversão dos padres e dos fiéis afim de que eles abandonem o modernismo e venham para a Tradição não parece sensato.

                Uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore má pode dar frutos bons. Isto é de fé, pois é Nosso Senhor Ele mesmo que o afirma. Isto é o bom senso mesmo, pois um espinheiro não pode dar os frutos que só a figueira pode dar.

                Logo, devemos concluir que nenhum bem poderá haver entre os infiéis, os protestantes e os modernistas? A questão não é tão simples assim. Santo Tomás diz que a árvore má é a vontade perversa e portanto devemos concluir que nada de bom pode sair da vontade perversa do demônio e dos que entregaram sua alma a ele. Nada de bom podia sair da inveja de Caim contra Abel. Nada de bom podia sair do ódio e da incredulidade dos fariseus contra Nosso Senhor. No entanto nem todo aquele que está na Igreja Conciliar vive do ódio, da inveja e da incredulidade. Alguns ainda querem se confessar, rezar e melhorar. Há ainda, provavelmente, árvores boas entre os progressistas, apesar do Progressismo; almas que estão lá mas não são de lá. As almas são ora movidas pelo espírito bom (do qual não pode proceder nenhum fruto mal), ora pelo espírito mal (do qual nenhum fruto bom pode proceder). Mas talvez nos perguntem. E da Nova Missa? E dos novos Sacramentos? Pode sair frutos bons destas árvores ruins? A resposta não é simples. É preciso distinguir entre o rito e o sacramento. Nós costumamos completar o rito do Batismo porque ele foi mutilado. Mas não refazemos o Batismo pois se ele foi válido, ele não pode ser dado novamente sem grave ofensa à Deus. Logo, o Batismo, mesmo entre os progressistas tem algo bom e muito bom, que é o fato de apagar o Pecado Original e nos tornar filhos de Deus, templos da Santíssima Trindade e algo mal que é a omissão dos exorcismos presentes no rito antigo. O mesmo se diga da Missa Nova. Dom Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer pensavam que ela podia ser válida quando todas as condições necessárias para isto estivessem reunidas. Mas nem por isso eles deixaram de condená-la porque a Missa Nova conduz à heresia por causa do seu rito. Rito ruim, sacramento bom, quando há sacramento.

                Outra dúvida. O bem e o mal entrelaçados? A Igreja Nova e a Igreja Católica entrelaçadas? Quem diz entrelaçadas, diz união e amizade. Não! Jamais a Igreja Católica estará unida por laços de amizade à Nova Igreja. Mas entrelaçada significa também laçada, presa, amarrada e isto sim. Isto é o que acontece. Os inimigos da Igreja a tomaram, a reduziram à escravidão, por assim dizer. Excomungaram Dom Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer, destronaram Nosso Senhor Jesus Cristo de seu reino sobre as nações. Entrelaçadas sim, mas desta forma. Quanto ao que inspira uma e outra, não. Elas se opõem e se opõem totalmente.

                Mas isto não é tudo. Há também o fato de que há pessoas que estão na Igreja Conciliar pensando que estão na Igreja Católica. Eles tem algo de católico pois muitos foram batizados validamente. Muitos crêem em Nosso Senhor. Muitos estão iludidos. Eles correm o perigo de perder a fé, mas nem todos já perderam a fé. Situação delicada, difícil, penosa, confusa. Sim. Paciência. Trabalhemos para ajudar estas almas. Trabalhemos para abandonar o que há ainda de liberalismo também em nós, pois cada vez que pecamos nós agimos como um liberal que se libera da lei de Deus e que, portanto, dá um fruto mau, apesar de não ser necessariamente uma árvore má.

                Que Nossa Senhora nos guie sempre pois seguindo-a ninguém se perderá. Assim seja.


+ Tomás de Aquino OSB

sábado, 26 de março de 2016

É verdade que a autodenominada 'Igreja Ortodoxa' não está 'tão' distante da Igreja Católica? - VI

O QUE FOI A REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE DE 1917

Por Leão Indômito

Da Reforma Agrária à Guerra Civil

Na Rússia – como em geral nos países que caem nas garras do comunismo ‒ tudo começou pela Reforma Agrária. Sob o czarismo, os agitadores incitavam à partilha negra de terras invadidas. Era a luta de classes dos sem-propriedade contra os proprietários rurais, grandes ou pequenos.

O desastroso desenlace da Primeira Guerra Mundial deixou a Rússia numa situação caótica. O czar abdicou e foi substituído por políticos centristas, concessivos à esquerda. Em face disso, a minoria comunista ousou o inconcebível e apoderou-se do governo quase sem resistência.

Logo a seguir, Lenine declarou a Guerra Civil contra os proprietários. Comitês revolucionários de intelectuais comunistas conduzindo uma tropa de “elementos criminosos e socialmente degenerados” (p. 127) instauraram o terror. A droga corria farta entre eles. Os proprietários de milhares de fazendas invadidas foram mortos ou fugiram para o exterior. Os donos de roças ou chácaras ficaram, provisoriamente. Em 29 de abril de 1918, Lenine decretou “uma batalha cruel e sem perdão contra esses pequenos proprietários” (p. 83).

Os bolchevistas passaram a desarmá-los e a lhes confiscar o grão. Quem resistia era torturado ou espancado até a morte. Roubavam-lhes até a roupa interior de inverno e os sapatos, ateavam fogo nas saias das mulheres para que dissessem onde estavam sementes, ouro, armas e objetos escondidos. As violações praticadas então pelos comunistas foram sem conta.

Entretanto, em julho-agosto de 1918, os bolchevistas perderam o controle de quase todo o país. E na região que dominavam eclodiram 140 insurreições. Os proprietários agrícolas formaram exércitos de até dezenas de milhares de homens. Porém, estes não compreendiam a natureza ideológica do adversário e que era preciso opor-lhe uma ideologia anticomunista. Repetiam inadvertidamente o jargão dos bolchevistas, pensando com isso seduzi-los. Ingenuidade! Os comunistas maquiavelicamente propunham arranjos, atribuíam os excessos a funcionários e prometiam uma solução assim que os anticomunistas entregassem as armas. Isto feito, matavam-nos desapiedadamente.
(Fonte: “Livro Negro do Comunismo revela o maior crime da História”, Catolicismo, fevereiro de 2000).

A sangrenta estatização dos campos

A Reforma Agrária prometeu terra aos que não a possuíam. Mas na verdade o comunismo desejava implantar os kholkhozes, isto é, granjas comunitárias pertencentes ao Estado, onde os camponeses obedecem como servos à planificação socialista.

Stalin completou a estatização do campo decretando o extermínio imediato de 60 mil chacareiros e o exílio da grande maioria para campos de concentração da Sibéria.

Mesmo os simpatizantes do governo perderam tudo, sendo deslocados para terras incultas de sua região. Em poucos dias, a meta de 60 mil assassinatos foi superada. Em menos de dois anos foram deportados 1.800.000 proprietários e familiares.

A viagem mortífera, em vagões de gado, durava várias semanas, sem alimento nem água. Os comboios descarregavam os cadáveres nas estações. Os locais de acolhida eram ermos, sem instalações básicas. As baixas por inanição, doença ou frio atingiram mais do 30% dos deportados, no primeiro ano.

Como nas granjas coletivas os assentados desenvolviam resistência passiva às normas, Stalin decidiu submetê-los pela fome. As reservas de alimentos, sementes e ferramentas foram confiscadas. Carentes de tudo, os camponeses abandonavam os filhos na cidade próxima. Em Jarkov, crianças famintas lotavam as ruas. As que ainda não haviam inchado foram conduzidas a um galpão, onde agonizaram aproximadamente 8 mil crianças. As outras foram despejadas num local longínquo para morrerem sem serem vistas. Esta fase final da Reforma Agrária provocou 6 milhões de mortes.
(Fonte: “Livro Negro do Comunismo revela o maior crime da História”, Catolicismo, fevereiro de 2000).

O Grande Expurgo: 6 milhões de vítimas

Em janeiro de 1930, os pequenos comerciantes, artesãos e profissionais liberais foram “desclassificados”, isto é, privados de moradia e de cartão de racionamento. E, por fim, deportados.

Stalin excogitou também o Grande Expurgo nas fileiras do partido e da administração pública. Universidades, academias e institutos diversos foram quase esvaziados. Até Tupolev, inventor do tipo de avião que leva seu nome, foi vítima.

A alta oficialidade do Exército foi expurgada numa porcentagem de 90%. A mortandade causada pelo Grande Expurgo atingiu mais de 6 milhões de pessoas, embora oficialmente só tenha havido 681.692 execuções.

Durante a II Guerra Mundial, o comunismo russo dizimou as minorias étnicas. Mais de 80% dos 2 milhões de descendentes de alemães que moravam na URSS foram expurgados como espiões e colaboradores do inimigo. Várias outras etnias foram supressas.

Os expurgos alimentavam o gigantesco sistema de campos de concentração, onde os deportados funcionavam como mão-de-obra escrava para sustentar a economia soviética. Nesses locais, a alimentação era ínfima e nojenta, e a mortalidade pavorosa.
(Fonte: “Livro Negro do Comunismo revela o maior crime da História”, Catolicismo, fevereiro de 2000).

Na Europa Oriental, “requinte” do modelo russo e cruel perseguição anticatólica.

Na Europa do Leste, ocupada pelos russos, reproduziu-se o mesmo drama. Em alguns países, o comunismo requintou a perversidade.

Na prisão romena de Pitesti os estudantes religiosos eram batizados todos os dias, enfiando-se-lhes a cabeça em baldes cheios de fezes, enquanto era rezada a fórmula batismal. Os seminaristas deviam oficiar missas negras, especialmente na Semana Santa. O texto litúrgico era “pornográfico e parafraseava de forma demoníaca o original” (p. 495).

A perseguição tornou-se encarniçada contra o clero católico. Um Bispo greco-católico escreveu este testemunho comovedor:

“Durante longos anos, suportamos, em nome de São Pedro, a tortura, os espancamentos, a fome, o frio, o confisco de todos os nossos bens, o escárnio e o desprezo. Beijávamos as algemas, as correntes e as grades de ferro das nossas celas como se fossem objetos de culto, sagrados; e a nossa farda de prisioneiros era o nosso hábito de religiosos. Nós havíamos escolhido carregar a cruz, apesar de nos proporem sem cessar uma vida fácil em troca da renúncia a Roma. .... Hoje, apesar de todas as vítimas, a nossa Igreja possui o mesmo número de Bispos que havia na época em que Stalin e o Patriarca ortodoxo Justiniano triunfalmente a declararam morta” (p. 486).
(Fonte: “Livro Negro do Comunismo revela o maior crime da História”, Catolicismo, fevereiro de 2000).

Enlouquecimento? Ou possessão diabólica coletiva?

Em plena Revolução bolchevista, a famosa revista francesa “L'Illustration” coleção 1920 a 1925, p. 38, publicou matéria inédita. Tratou-se de mórbida fotografia do cadáver de um oficial polonês empalado, contemplado pela soldadesca comunista. A revista quis ilustrar com essa fotografia a inexplicável e antinatural ausência de reflexos humanos, bem como a indiferença absoluta dos soldados vermelhos. O que teria anestesiado as reações instintivas daqueles homens?

“L'Illustration” acrescenta que o crime foi ordenado por uma pessoa que, na frívola Paris da época, distinguia-se como um gozador, cético em matéria de religião, mas bom rapaz, engraçado, grande jogador de bridge e freqüentador de bailes. Que fator misterioso o transformou, subitamente, em feroz comissário bolchevista?
(Fonte: “Livro Negro do Comunismo revela o maior crime da História”, Catolicismo, fevereiro de 2000).

Brutal nacionalização da indústria e primeira grande fome

Tendo confiscado o alimento, o governo reduziu o povo pela fome. Só comia quem possuísse o cartão de racionamento distribuído pelo partido... Havia seis categorias de estômagos excomungados. Os burgueses, os contra-revolucionários, os proprietários rurais, os comerciantes, os ex-militares, os ex-policiais foram condenados ao desaparecimento.

Nas cidades, as fábricas pararam. Os operários trocavam ferramentas e máquinas furtadas das oficinas por alimentos. A ditadura soviética nacionalizou, então, as indústrias e as militarizou. Trabalhava-se sob ameaça. A ausência podia acarretar a morte. O pagamento não ultrapassava um terço ou metade do pão necessário para a sobrevivência.

As inúmeras revoltas operárias foram afogadas em sangue. O paraíso igualitário estava começando... “As cidades devem ser impecavelmente limpas de toda putrefação burguesa .... O hino da classe operária será um canto de ódio e de vingança!”, escrevia o “Pravda” – jornal oficial -- em 31 de agosto de 1918.

A fome prostrou a população. Em 1922 não havia mais revoltas, apenas multidões apáticas implorando uma migalha e morrendo como moscas. Foi o início da primeira grande fome que ceifou 5 milhões de vidas.

Os cadáveres insepultos acumulavam-se nas estradas. Surgiu o canibalismo. Os comunistas deitaram a mão nos bens da igreja ‘ortodoxa’, majoritária na Rússia. O confisco ocorreu com profanações e carnavais anti-religiosos. Após sucessivas ondas aniquiladoras, pouquíssimos templos permaneceram abertos. E os “Popes” (chefes da igreja ‘ortodoxa’) foram transformados em agentes do Partido.
(Fonte: “Livro Negro do Comunismo revela o maior crime da História”, Catolicismo, fevereiro de 2000).

[FIM]

sábado, 19 de março de 2016

É verdade que a autodenominada 'Igreja Ortodoxa' não está 'tão' distante da Igreja Católica? - V

Igreja Ortodoxa russa foi instrumento de Stalin para liquidar o catolicismo

Por Leão Indômito

“A Igreja Ortodoxa Russa foi utilizada pelo regime de Stalin para a liquidação pela força da Igreja Greco-Católica Ucraniana”, mas “o clero ortodoxo russo ainda não se desculpou com o greco-católico pela apropriação indevida de todos os seus bens”, disse a Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, arcebispo-mor do rito Greco-Católico ucraniano, em entrevista veiculada pela agência Religious Information Service of Ukraine – RISU.

“Na minha opinião, a capacidade de pedir desculpas indica uma consciência cristã, e é uma condição necessária para a chamada purificação da memória.

“Por exemplo, houve um verdadeiro arrependimento e perdão mútuo entre a nossa Igreja e a Igreja Católica Romana da Polônia. Eu sei de fonte segura que os bispos poloneses procuram realizar um ato semelhante de reconciliação mútua com a igreja ortodoxa russa. Mas quando se trata de a igreja ortodoxa russa pedir perdão à Igreja Católica da Polônia, aparecem logo as dificuldades”, observou o chefe do rito católico ucraniano.

O arcebispo-mor da Ucrânia disse que por causa disso não houve reconciliação simbólica entre o rito que ele preside e a igreja ortodoxa russa.

“Muito frequentemente, eles falam sobre a dificuldade de ter um encontro com o Papa, que, segundo o patriarca Kirill, é causada pelos Uniatas [greco-católicos] na Ucrânia ocidental.

“Isso vem sendo repetido há perto de 20 anos, quase todo ano, em vários foros.

“Mas o verdadeiro obstáculo é a incapacidade de admitirem os próprios erros, especialmente o fato de que a igreja ortodoxa russa foi usada pelo regime de Stalin para a liquidação pela força da Igreja Greco-Católica Ucraniana”, concluiu.



*** *** ***

Arcebispo de Lvov a Pio XII: “Este regime [comunista] só se explica como caso de possessão diabólica coletiva".

Uma alta autoridade eclesiástica parece oferecer-nos uma explicação indireta para o fato. Trata-se de Mons. André Sheptyskyj, Arcebispo de Lvov e Patriarca de Halich, líder da Igreja Católica na Ucrânia durante as perseguições de Lenine e Stalin. No início da II Guerra Mundial, escreveu ele à Santa Sé:

“Este regime só pode se explicar como um caso de possessão diabólica coletiva”. E pediu ao Papa que sugerisse a todos os sacerdotes e religiosos do mundo que “exorcizassem a Rússia soviética”.

Mons. Sheptyskyj faleceu em 1944. Seu processo de beatificação está em andamento.

A crueldade inumana da seita socialo-comunista e a desproporção entre seus satânicos feitos e os êxitos que alcançou são de molde a confirmar a impressionante declaração do heróico Prelado ucraniano.

Fonte: Pe. Alfredo Sáenz S.J., “De la Rusia de Vladimir al hombre nuevo soviético”, Ediciones Gladius, Buenos Aires, 1989, pp. 438-439.

Livro negro do comunismo: Revolução Francesa foi modelo para o Livro Negro do Comunismo, a emulação com a Grande Revolução –a Francesa de 1789– é que moveu os revolucionários vermelhos. Robespierre abriu o caminho, Lenine e Stalin lançaram-se nele, os Khmers Vermelhos do Camboja bateram recordes genocidas.

Para todos eles, a utopia igualitária e libertária tudo justificava. Exterminar milhões não importava, em sua opinião, porque assim nasceria um mundo novo, fraternal, para um homem novo liberto da canga da hierarquia e da lei.

O obstáculo a varrer era a propriedade privada. E o adversário a eliminar eram os proprietários. Os comunistas atiraram-se ferozmente sobre eles do mesmo modo como Robespierre encarniçara-se contra os nobres.

[CONTINUA]

sábado, 12 de março de 2016

É verdade que a autodenominada 'Igreja Ortodoxa' não está 'tão' distante da Igreja Católica? - IV

O PRIMADO DE ROMA ESTABELECEU-SE SOBRE TODA A IGREJA, DESDE OS PRIMÓRDIOS

Por Leão Indômito

Essa primazia de Roma advém do fato de que seu primeiro Bispo foi São Pedro, sobre quem Jesus instituiu a sua Igreja. Isso consta claramente nos Evangelhos.

“Bem aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelaram isso, mas Deus que está nos céus. Por isso, Eu te digo que tu és Pedro, e que sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E Eu te darei as chaves de Reino dos Céus. Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desatares na terra será desatado nos céus” (Mt XVI, 16-19).

Essa promessa, feita pelo próprio Cristo, foi confirmada depois da Ressurreição de Nosso Senhor, ao dizer três vezes a Pedro: “Apascenta minhas ovelhas” (Jo XXI, 26)

Por sua vez, o que diz São João Crisóstomo — um Santo Bispo oriental — sobre esse texto?

"JESUS DISSE [A PEDRO]: ‘ALIMENTA AS MINHAS OVELHAS’. POR QUE JESUS NÃO LEVA EM CONTA OS DEMAIS APÓSTOLOS E FALA DO REBANHO SOMENTE A PEDRO? PORQUE ELE FOI ESCOLHIDO ENTRE OS APÓSTOLOS, ELE FOI A BOCA DE SEUS DISCÍPULOS, O LÍDER DO CORO. FOI POR ESSA RAZÃO QUE PAULO FOI PROCURAR A PEDRO ANTES QUE AOS DEMAIS. E TAMBÉM O SENHOR FEZ ISSO PARA DEMONSTRAR QUE ELE DEVIA TER CONFIANÇA, UMA VEZ QUE A NEGAÇÃO DE PEDRO HAVIA SIDO PERDOADA. JESUS LHE CONFIA O GOVERNO SOBRE SEUS IRMÃOS... SE ALGUÉM PERGUNTAR: ‘POR QUE ENTÃO FOI SANTIAGO QUEM RECEBEU A SÉ DE JERUSALÉM?’, EU LHE RESPONDERIA QUE PEDRO FOI CONSTITUÍDO MESTRE NÃO DE UMA SÉ, MAS DO MUNDO TODO” (Homilia 88 (87) in Joannem, I. Cf. Orígenes, “In epis. Ad Rom.”, 5, 10; Efrén de Siria “Humn. In B. Petr.”, en “Bibl.Orient. Assemani”, 1, 95; León I, “Sermo IV de Natale”, 2. Apud Enciclopédia Católica, verbete Primado, artigo de G. H. JOYCE).

Como se vê, São João Crisóstomo reconhecia Pedro como chefe da Igreja em todo o mundo. Ora, São João Crisóstomo é Doutor da Igreja, tendo vivido antes do Cisma do Oriente.

Por que, então, os autodenominados ‘ortodoxos’ se recusam a aceitar os ensinamentos desse grande santo e Doutor da Igreja do Oriente?

Desde o início da Igreja o Bispo de Roma era o Chefe da Igreja toda, exatamente com base no texto dos Evangelhos. Isso é um dado histórico inquestionável.

POR EXEMPLO, SÃO CLEMENTE, QUE FOI O TERCEIRO SUCESSOR DE SÃO PEDRO, DEPOIS DE SÃO LINO E DE SANTO ANACLETO NA SÉ DE ROMA, EM SUA “EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS” (EP. 59), NO ANO 95 OU 96 — AINDA, PORTANTO, NO SÉCULO I DA ERA CRISTÃ, POIS HAVIAM TRANSCORRIDO TRINTA ANOS APÓS O MARTÍRIO DE SÃO PEDRO —, ORDENA QUE SE RECEBAM OS BISPOS QUE HAVIAM SIDO EXPULSOS INJUSTAMENTE, DIZENDO: “SE ALGUM HOMEM DESOBEDECER ÀS PALAVRAS QUE DEUS PRONUNCIOU ATRAVÉS DE NÓS [PAPA], SAIBAM QUE ESSE TAL TERÁ COMETIDO UMA GRAVE TRANSGRESSÃO, E SE TERÁ POSTO EM GRAVE PERIGO”. MAIS: SÃO CLEMENTE INCITA ENTÃO OS CORÍNTIOS A “OBEDECER ÀS COISAS ESCRITAS POR NÓS ATRAVÉS DO ESPÍRITO SANTO” (SÃO CLEMENTE, EP.59).

ATÉ MESMO LIGHTFOOT, INIMIGO CONFESSO DO PAPADO, VIU-SE FOI OBRIGADO A RECONHECER CONFESSAR QUE ESSA CARTA DE SÃO CLEMENTE FOI “O PRIMEIRO PASSO PARA ESTABELECER A DOMINAÇÃO PAPAL” (CLEMENTE, 1, 70).
Por volta do ano 107, Santo Inácio de Antioquia — outro grande santo da Igreja do Oriente —, em carta à Igreja de Roma, diz que ela “preside à irmandade de amor".

Santo Irineu, discípulo de São Policarpo, Bispo de Esmirna depois de São João, em sua famosa obra “Adversus haereses” (III, 3, 2) argumenta contra os agnósticos, dizendo-lhes que suas doutrinas não têm base na tradição apostólica, a qual foi conservada fielmente pelas igrejas, com base na sucessão dos Doze Apóstolos:

“Porém como seria demasiado longo enumerar as sucessões em Roma pelos dois gloriosíssimos Apóstolos Pedro e Paulo, A QUAL DESDE OS APÓSTOLOS CONSERVA A TRADIÇÃO E A FÉ ANUNCIADA AOS HOMENS PELOS SUCESSORES DOS APÓSTOLOS QUE CHEGAM ATÉ NÓS. Assim confundimos a todos aqueles que de um modo ou de outro, ou para agradar-se a si mesmos, ou por cegueira, ou por uma falsa opinião, acumulam falsos conhecimentos. É NECESSÁRIO QUE QUALQUER IGREJA ESTEJA EM HARMONIA COM ESSA IGREJA, CUJA FUNDAÇÃO É A MAIS GARANTIDA — ME REFIRO A TODOS OS FIÉIS DE QUALQUER LUGAR — PORQUE NELA TODOS OS QUE SE ENCONTRAM EM TODAS AS PARTES CONSERVARAM A TRADIÇÃO APOSTÓLICA".

A afirmação mais explícita da supremacia de Roma foi feita por São Víctor (189-198), quando impôs às igrejas asiáticas que se conformassem ao costume do conjunto da Igreja, na questão da Páscoa.

Polícrates, de Éfeso, resistiu a isso, objetando que os costumes que seguia procediam do próprio São João. O Papa São Víctor o excomungou por isso. Depois, São Víctor, instado por Santo Irineu, tendo visto que sua insistência poderia provocar mais dano que bem, retirou a excomunhão. Contudo, QUER POR HAVER EXCOMUNGADO, QUER POR HAVER RETIRADO ESSA MESMA EXCOMUNHÃO QUE IMPUSERA, SÃO VICTOR DEIXA PATENTE A SUPREMACIA DA SÉ DE ROMA SOBRE TODAS AS DEMAIS DIOCESES DO MUNDO.

Abércio, Bispo de Hierópolis (por volta do ano 200), assim fala da Igreja Romana: “Ele [Cristo] me enviou a Roma a contemplar a majestade e para ver a uma rainha [Roma] coberta com um manto de ouro e calçada com sandálias de ouro”.

Tertuliano, no livro “De pudicitia” (por volta do ano 220), escrito quando já havia caído na heresia do montanismo, critica uma prerrogativa papal. Ele ataca duramente um decreto do Papa chamando-o de “edito peremptório”, promulgado pelo “SUPREMO PONTÍFICE, BISPO DOS BISPOS”. Ele pronunciou tais palavras sarcasticamente, mas, pelos termos que utiliza, indica claramente que já se tinha a autoridade do Papa como sendo superior à de todos os Bispos, embora Tertuliano, que aderira à heresia montanista, fosse insubmisso a Roma.

São Cipriano, que morreu no ano 258, chama explicitamente “CÁTEDRA DE SÃO PEDRO” DE SÉ ROMANA, dizendo que Cornélio fora elevado “ao lugar de Fabiano, que é a cátedra de Pedro” (Ep 55:8; cf. 59:14).

São Cipriano escreveu também que ROMA, “CÁTEDRA DE PEDRO, É A IGREJA PRINCIPAL DA QUAL NASCE A UNIDADE EPISCOPAL” (AD PETRI CATHEDRAM ET AD ECCLESIAM PRINCIPALEM UNDE UNITAS SACERDOTALIS EXORTA EST). Para São Cipriano, "a fonte dessa unidade episcopal é a Sé de Pedro”.

SEGUNDO ELE, ROMA DESEMPENHAVA O MESMO OFÍCIO QUE DESEMPENHOU PEDRO DURANTE SUA VIDA: SER PRINCÍPIO DA UNIDADE. POR ISSO, MANTER A COMUNHÃO COM UM ANTIPAPA, COMO ERA NOVACIANO, SERIA CAIR EM CISMA (EP. 68, 1).

ELE SUSTENTA AINDA QUE O PAPA TEM AUTORIDADE PARA DEPOR UM BISPO HEREGE. QUANDO MARCIANO DE ARLES CAIU NA HERESIA, CIPRIANO, A PEDIDO DOS BISPOS DESSA PROVÍNCIA, ESCREVEU AO PAPA ESTEVÃO PARA SOLICITAR QUE ELE “ESCREVESSE CARTAS PARA EXCOMUNGAR A MARCIANO E FAZER QUE ALGUÉM TOMASSE SEU LUGAR” (Ep. 68, 3). (Apud artigo de G. H. JOYCE sobre o primado do Papa na Enciclopédia Católica).

Eusébio de Cesaréia, em sua História Eclesiástica (7, 9) cita uma carta de São Dionísio dirigida ao Papa São Sixto II tratando de um batismo que considera inválido. NESSA CARTA, SÃO DIONÍSIO AFIRMA QUE NECESSITA RECORRER AO PAPA, PARA QUE ELE DECIDA.

Noutro caso, anos depois, o Papa atendendo a São Dionísio, afirmou isso, com toda a sua autoridade, a fim de deixar clara a verdadeira doutrina sobre o assunto. Ambos os casos ensinam como Roma era reconhecida como detentora do poder para falar com autoridade em assuntos doutrinários (cfr. San Atanasio, “De sententia Dionysii”, en P.G. XXV, 500).

O IMPERADOR AURELIANO, EM 270, DECRETOU QUE AQUELE QUE FOSSE RECONHECIDO PELOS BISPOS DA ITÁLIA, ASSIM COMO PELO BISPO DE ROMA, DEVERIA SER ACEITO COMO O LEGÍTIMO OCUPANTE DE UMA SÉ EPISCOPAL. ISSO MOSTRA COMO A PRIMAZIA DE ROMA ERA RECONHECIDA UNIVERSALMENTE, POIS ATÉ UM IMPERADOR PAGÃO SABIA DISSO.

Santo Atanásio apelou a Roma contra a decisão do Concilio de Tiro (335), que o destituíra de sua diocese. O Papa Júlio anulou as decisões desse Concílio, restituindo, Santo Atanásio como a Marcelo de Ancira.

as suas respectivas sedes episcopais. A esse propósito, o Papa São Júlio escreveu: “Se eles [Atanásio e Marcelo] realmente agiram mal, como dizem, o juízo deveria ter sido realizado de acordo com os cânones eclesiásticos, e não dessa maneira... NÃO SABE QUE O COSTUME É QUE PRIMEIRO NOS DIRIJAM CARTAS A NÓS (PLURAL MAJESTÁTICO) E DEPOIS PROCEDAM CONFORME SE DEFINA ENTÃO?” (Atanásio, “Apologia”, 35).

Conclusão: torna-se evidente que, muito antes do Cisma do Oriente, era comum a doutrina do Primado da Igreja de Roma sobre todas as dioceses do mundo.

Logo, a pretensão do Arcebispo de Constantinopla de gozar da primazia na Igreja do Oriente, ou a de equipar a sua autoridade à do Papa, é um absurdo doutrinário e histórico.

Constantinopla nunca teve um Apóstolo como Bispo, pois que não existia no tempo dos Apóstolos, tendo sido fundada por Constantino em 313.

[CONTINUA]

sábado, 5 de março de 2016

É verdade que a autodenominada ‘Igreja Ortodoxa' não está 'tão' distante da Igreja Católica? - III

Refutação de alguns erros graves professados pelos autodenominados 'Ortodoxos'

Por Leão Indômito

PURGATÓRIO E ‘FILIOQUE’

A) A doutrina do Purgatório já estava presente nos Padres da Igreja

S. Cipriano de Cartago afirma: "Uma coisa é pedir perdão; outra coisa, alcançar a glória. Uma coisa é estar prisioneiro sem poder sair até ter feito o pagamento do último centavo; outra coisa, receber simultaneamente o valor e o salário da fé. Uma coisa é ser torturado com longo sofrimento pelos pecados, para ser limpo e completamente purificado pelo fogo; outra coisa é ter sido purificado de todos os pecados pelo sofrimento. Uma coisa é estar suspenso até que ocorra a sentença de Deus no Dia do Juízo; outra coisa é ser coroado pelo Senhor" (Epístola 51,20).

S. Gregório de Nissa, no mesmo sentido, ensina: "Quando a alma é separada do corpo e a diferença entre a virtude e o vício é conhecida, o homem não pode aproximar-se de Deus até que seja purificado com o fogo que limpa as manchas com as quais a sua alma está infectada. Esse mesmo fogo em outros cancelará a corrupção da matéria e a propensão ao mal" (Sermão sobre a Morte 2,58)

S. Gregório Magno: “Tal como alguém sai deste mundo, assim se apresenta no Juízo. Porém, deve-se crer que exista um fogo purificador para expiar as culpas leves antes do Juízo. A razão para isso é que a Verdade afirma que se alguém disser uma blasfêmia contra o Espírito Santo, isto não lhe será perdoado nem neste século nem no vindouro. Com esta sentença se dá a entender que algumas culpas podem ser perdoadas neste mundo e algumas no outro, pois o que se nega, em relação a alguns, deve-se compreender que se afirma em relação a outros (...). No entanto, tal como já disse, deve-se crer que isto se refere a pecados leves e de menor importância.” (Diálogos 4,39: PL 77,396).

B) A cláusula do Filioque não foi inventada pela Igreja Católica em 1054

Os autodenominados ‘ortodoxos’ acusam o Papado de ter inserido a cláusula Filioque de forma arbitrária. Para eles, a doutrina do "Filioque" (segundo a qual o Espírito Santo procede não só do Pai, mas também do Filho) constituiria uma novidade...

A contrario sensu, vejamos a doutrina à luz dos Padres da Igreja que viveram antes do Cisma de 1054.

Dídidimo de Alexandria salienta estas palavras do Divino Redentor: "Ele não falará sem Mim e sem a decisão do Pai, porque Ele não tem origem em si, mas é do Pai e de Mim. Pois o que Ele é como subsistência e como palavra, Ele o é pelo Pai e por Mim" (De Spiritu Sancto 34).

Santo Epifânio de Salamina: "É preciso crer, a respeito de Cristo, que Ele vem do Pai, é Deus proveniente de Deus, e, a respeito do Espírito, que Ele provém de Cristo, ou, melhor; de ambos, pois Cristo disse: '...Ele procede do Pai' e 'receberá do que é Meu'" (Ancoratus 67).
Do mesmo santo, outro texto comprobatório: "Já que o Pai chama Filho o que procede do Pai e Espírito Santo o que provém de ambos,... fica sabendo que o Espírito Santo é a luz que vem do Pai e do Filho" (Ancoratus 71).

São Cirilo de Alexandria: "O Espírito é o Espírito de Deus Pai e, ao mesmo tempo, Espírito do Filho, saindo substancialmente de ambos simultaneamente, isto é, derramado pelo Pai a partir do Filho" (De adoratione, livro I, PG 68,148).

São João Damasceno: "O Espírito Santo provém das duas Pessoas simultaneamente" (De recta fide 21, PG 76,1408).

Textos da Sagrada Escritura:

O Evangelho de São João diz: "...o Espírito da verdade, que procede (ekporeúetai) do Pai" (XV,26).

O Evangelho diz que o Espírito Santo procede do PAI, mas não disse que procede SOMENTE do Pai.

Jesus disse que "Receberá do que é Meu e vô-lo anunciará" (Jo XVI,14s) ou ainda: "Quando vier o Paráclito, QUE VOS ENVIAREI de junto do Pai" (Jo XV,26).

"Receberá do que é Meu e vô-lo anunciará" (Jo XVI,14s).

[CONTINUA]