Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

domingo, 31 de janeiro de 2016

Comentários Eleison CDXLVII (447) - Hospedeiro e Parasita II

De uma mãe leprosa alguns filhos desertarão,
Outros que não forem alertados, demasiadamente se aproximarão.

Há duas semanas, estes “Comentários” voltaram a pisar em campo minado e defenderam a posição de que ainda existe algo de católico no que se tornou a Igreja Católica desde o Vaticano II. Esta posição é altamente disputada. Por exemplo, de um lado os atuais líderes da Fraternidade Sacerdotal São Pio X agem como se a Igreja oficial em Roma fosse ainda tão católica que a FSSPX não pudesse atuar sem seu reconhecimento oficial. Do outro lado, muitas almas que realmente possuem a fé católica repudiam absolutamente a ideia de que ainda resta algo de católico na “Igreja”, agora comandada pelo “Papa” Francisco. O que segue é somente uma tentativa de discernir que verdade pode estar em ambos os lados.

No coração do problema está o modernismo, que foi a doença essencial do Vaticano II. O modernismo é necessariamente, por sua natureza, um animal singularmente escorregadio. Isto porque seu princípio básico é adaptar o catolicismo ao mundo moderno intrinsecamente anticatólico. Assim, Papas conciliares como “Paulo VI” e “Bento XVI” queriam romper e não romper com a Tradição Católica. Para qualquer mente sã isto é impossível porque é contraditório. Mas, dado que estes papas foram eleitos para corresponder ao mundo moderno, eles já não têm mentes sãs. Ao contrário, possuem a contradição da realidade em sua corrente sanguínea. E dado que tiveram aproximadamente 50 anos para conformar a Igreja à sua insanidade, de cima para baixo, uma Igreja tão diferente emergiu a partir da Igreja pré-conciliar, que ela realmente merece o nome de Neoigreja.

Mais ainda, mesmo onde uma prática pré-conciliar é mantida na Neoigreja atual, por exemplo, a Benção do Santíssimo Sacramento, o fundamento mental que descansa nas cabeças daqueles que assistem é passível de ser qualquer coisa que não sólido, porque a doutrina da Real Presença é agora tanto tradicional como não tradicional, já que a consagração é realizada por sacerdotes atualizados, que são ambos, sacerdotes e não sacerdotes. São sacerdotes se você quiser, mas também, ao mesmo tempo, meros presidentes se você quiser. O que quer que você sinta como tal é o que se considera verdadeiro, porque a mente está desenganchada da realidade objetiva. Está nadando em sentimentos agradáveis e subjetivos, e está inconsciente do que está fazendo porque (quase) todos o fazem. Para qualquer um que tem a Fé real, tal carência de objetividade está longe de ser agradável: é nauseante. Não é de estranhar que tais almas possam repudiar a totalidade da Neoigreja.

Mas se alguém respeita a realidade, está obrigado a admitir que ainda há fé na Neoigreja. Um leigo disse-me que seu pai tem ido fielmente ao NOM pelos últimos 45 anos, e ele ainda mantém a fé. Um padre me contou que se lembrava de uma leiga apresentando ao próprio Arcebispo Lefebvre suas razões sobre a necessidade que tinha de assistir ao NOM, e ele só encolheu os ombros. E eu poderia multiplicar esses testemunhos que chegaram a mim sobre a fé católica sobrevivendo a ataques de tudo o que é errado no NOM. A razão para tais testemunhos serem reais deveria ser óbvia. 

Como uma parte essencial da religião subjetiva e ambígua, o NOM pode ser o que você faz dele. Um padre pode celebrá-lo “decentemente”, um católico pode assisti-lo “devotamente”. As aspas são para aplacar os linha-duras que insistirão que com o NOM não pode haver nem verdadeira decência nem verdadeira devoção. Mas quando eles dizem tais coisas, penso que estão indo contra a realidade. Graças a Deus, Deus é juiz! Não há dúvida que o NOM, como se apresenta, está constantemente minando e erodindo a decência e a devoção católicas, mas dizer que não restou absolutamente nada disso na “Neoigreja” parece-se ser um grave exagero.

Não é que os líderes da FSSPX estão certos em querer ser reincorporados à Neoigreja. Longe disso. Quaisquer ovelhas ali dentro que ainda não estejam infectadas pelo subjetivismo, estão abertas ao terrível perigo. Nem os pastores estão imunes. Ai dos bispos que falharam em manter o subjetivismo fora da Igreja católica! Estes carregam uma responsabilidade tremenda.

Kyrie eleison.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Da seita neomodernista que ocupa a Igreja Católica


Cinquenta anos depois do Concílio Vaticano II e da reação do movimento tradicionalista na subsequente crise da Igreja, podem-se distinguir três tendências divergentes sobre a relação a ter entre a Igreja Católica e a Igreja oficial. Quer dizer, entre o corpo místico de Nosso Senhor Jesus Cristo e os clérigos e fiéis unidos à hierarquia e às reformas pós-conciliares.

Para uns, são duas igrejas substancialmente distintas, absolutamente separadas, e não se pode pertencer às duas ao mesmo tempo. Estas duas igrejas tem uma fé diferente, ritos diferentes, uma legislação diferente. A lógica os leva também a já não rezar publicamente pelo papa atualmente reinante, porque ele é papa de outra Igreja, que não é – ou já não é – católica.

Para outros, ao contrário, a Igreja oficial, hierárquica, romana, conciliar não é uma Igreja à parte, mas sim a Igreja Católica real, una, a verdadeira, a visível, a Igreja de hoje, e é inadmissível fazer uma distinção real entre a Igreja conciliar, oficial, e a Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. A lógica levará também a procurar a pertença oficial, visivelmente, canonicamente, a esta hierarquia, para bem assegurar a pertença à única Igreja, católica e apostólica.

Estas duas concepções, durante já cerca de meio século de debates entre tradicionalistas, dividiu-os e levou-os a formar duas pontas extremas, conhecidas comumente por “sedevacantistas” e “acordistas”. Nossa análise pode parecer sumária, mas a experiência o tem provado: quando um tradicionalista, clérigo ou leigo, já não faz a distinção entre a Igreja oficial e a Igreja católica, ele acaba um dia ou outro se colocando a serviço da primeira, e assim abandona o combate da fé exigido pela segunda nestes tempos de clara e geral apostasia.

Na verdade, o problema é mal colocado, e permanece um dilema entre dois termos de uma alternativa. Pois há uma distinção a fazer entre a Igreja oficial e a Igreja Católica, e ela foi feita por todos os nossos antigos combatentes da fé depois do concílio. Basta que refresquemos a memória e nos lembremos de fórmulas bem conhecidas: “A Igreja ocupada”, “Roma ocupada”.

A Igreja conciliar e neomodernista não é portanto nem uma Igreja substancialmente diferente da Igreja Católica nem absolutamente idêntica; ela tem misteriosamente algo de um e de outra: é um corpo estranho que ocupa a Igreja Católica. É preciso distingui-las sem separá-las.

Precisemos bem: um “corpo”, e não uma “doença”, uma “tendência”, um “espírito”, uma “concepção falsa” como se procura demonstrar no DICI n°273, recusando em princípio considerar a Igreja conciliar como uma “sociedade distinta de outra” (p. 8). Esta negação poderia, rigorosamente, ser admitida no sentido definido acima, de uma sociedade absolutamente, substancialmente diferente da Igreja Católica. Mas ela nos parece perigosa, em seu sentido óbvio, e, em todo caso, contrária à doutrina de São Pio X, que qualifica os modernistas de associação secreta (cladestinum foedus; Motu proprio de 1 de setembro de 1910) que se oculta no seio mesmo e no coração da Igreja (sinu gremioque Ecclesiae; Pascendi, 1907).

O que o magistério ensina originalmente como modernismo, nossos antigos o chamaram em termos enérgicos de sujeito do neomodernismo, qualificando suas hierarquias de “seita”; e não se vê em que o princípio tenha mudado hoje em dia... Que se nos permita, mesmo se este debate desagrade hoje em dia a alguns na Tradição, trazer à memória algumas citações lapidares:

Dom Lefebvre: Isso é uma seita que se apossou de Roma, se apossou da alavanca de comando da Igreja” (Conferência em Flavigny, dezembro 1988, Fideliter n° 68, p. 10).

Padre Tissier de Mallerais: “[...] nas circunstâncias de uma Igreja ocupada pela seita progressista [...]” (Fideliter n° 53, p. 38, set-out 1986).

Padre Calmel: “[...] organizações ocultas de uma falsa Igreja, de uma Igreja aparente” (Itinéraires n° 123, p. 174, maio 1968); “Igreja aparente no seio mesmo da Igreja verdadeira” [...]” (Itinéraires n° 106, p. 178, set. 1966).

Padre Marcille: “[...] a seita no poder na Igreja [...] a seita conciliar a favor do poder que ela ocupa [...]” (Fideliter n° 96, pp. 67 e 71, nov-dez 1993).

Marcel de Corte: “É a parte que se erige para tudo, a seita que se erige na Igreja una, santa, católica, apostólica e romana. Por um instante, a parte permanece no todo que ela corrompe pouco a pouco” (Itinéraires n° 131, p. 266, março de 1969).

Jean Madiran: “[...] a seita campeada na Igreja [...]” (Itinéraires n° 137, p. 28, nov. 1969).
Henri Rambaud: “[...] a seita, pequena pelo nome em relação ao resto do rebanho, mas instalada nos postos de comando [...]” (Itinéraires n° 143, p. 111, maio 1970).

Resumindo com o Padre Berto: “Jacques Maritain, em 1966, falou de ‘febre’ neomodernista. Mas ele esquece que [se trata de] neomodernistas que jamais se admitirão tais, que permanecerão a todo o preço no interior da Igreja, para ‘fazê-la crescer de dentro uma mutação substancial que não lhe deixará da Igreja senão o nome [...]; eles constituem na Igreja uma associação secreta de assassinos da Igreja” (Itinéraires n° 112, p. 69, abril 1967).

Em 1964, em pleno concílio, Jean Madiran escreveu um artigo especial intitulado “A sociedade secreta do modernismo”, em Itinéraires. Cinquenta anos depois, seu diagnóstico permanece ainda válido:

"Uma sociedade secreta que consegue sobreviver quando é combatida, não vai ela conseguir prosperar quando já não for combatida? Depois da morte de São Pio X, ocupam-se de outra coisa, incluindo o modernismo doutrinal, jurídico, social, mas já não se ocupam da sociedade secreta instalada no seio da Igreja. A consequência de tal abstenção é que a sociedade secreta reforçou sua instalação, multiplicou seus progressos, desenvolveu seu poder; que é poder oculto e se torna muito maior; que ela foi muito mais forte para colocar à frente seus adeptos, para liquidar seus adversários, e para prevenir que se fale dela: impor um silêncio público a respeito dela mesma é o objetivo de todas as sociedades secretas." (Itinéraires n° 82, abril 1964, p. 100.)

Reduzir a Igreja conciliar e neomodernista a um conceito, uma tendência, um espírito, recusando-lhe o status de seita, de sociedade, de associação (Ecclesia = assembleia em grego), em que ela deve necessariamente se encarnar, e para qual de fato ela se move concretamente e eficazmente, é ignorar os ensinamentos de São Pio X e de nossos antepassados na Tradição. Isso não é somente um erro teórico, mas também, em suas consequências práticas, uma predisposição de espírito a identificar puramente e simplesmente a Igreja Católica, a que todos querem pertencer, e a hierarquia oficial e visível que a ocupa e a dirige depois de décadas, de que nós não fazemos (ainda) parte. Situação portanto “anormal”, que convém regularizar de uma maneira ou de outra.

Citemos algumas frases significativas de Dom Fellay: “O fato de ir a Roma não quer dizer que se esteja de acordo com eles. Mas é a Igreja. E é a verdadeira Igreja” (Sermão em Flavigny, em 2-9-2012, Nouvelles de Chrétiente, n° 137, p. 20.)

“A Igreja do Cristo está presente e move-se como tal, quer dizer, como única arca de salvação, somente lá onde está o vigário de Cristo” (Carta aos amigos e benfeitores de 13-04-2014).

“A Igreja oficial é a Igreja visível; é a Igreja Católica, e ponto final” (Sermão no Seminário de la Reja, 20-12-2014).

Compare-se com o que Dom Lefebvre disse a nossos padres reunidos em Écône, em 9 de setembro de 1988: “Nestes últimos tempos, disseram-nos que era necessário que a Tradição entrasse na Igreja visível. Eu penso que se comete nisso um erro gravíssimo, [...] isso é enganar-se assimilando Igreja oficial e Igreja visível. Nós pertencemos à Igreja visível, à sociedade de fiéis submissos ao Papa, pois não recusamos a autoridade do papa, mas o que ele faz... Saímos, então, da Igreja oficial? De certa maneira sim, evidentemente. Todo o livro de M. Madiran A Heresia do 20° século é a história da heresia dos bispos, deve-se então sair do meio destes bispos, se não se quer perder sua alma” (Fideliter n° 66, nov.-dez.1988, pp. 27-28).

Concluímos: com são Pio X, guardemos sempre no espírito que os neomodernistas formam uma seita que não quer jamais deixar a Igreja Católica, que a subverte do interior, e que são seus piores inimigos, verdadeiros lobos revestidos de pele de ovelha.

Com Monsenhor Lefebvre, não nos juntemos aos “católicos que confundem a Igreja Católica e romana eterna com a Roma humana e suscetível de ser invadida pelos inimigos cobertos de púrpura” (Carta ao Figaro, de 02-08-1976).

Revista “Le Sel de la terre” dos dominicanos de Avrillé, edição de inverno de 2015

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Em defesa de Dom Williamson (I), por D. Tomás de Aquino

Dom Williamson escreveu no seu Comentário Eleison 438: “Se a evidência dos milagres ocorridos dentro da Igreja do Novus Ordo é tão séria quanto parece, então os católicos têm de conformar suas mentes à mente de Deus, e não o inverso."


Muitos atacaram Dom Williamson por causa destes comentários a respeito do possível milagre eucarístico ocorrido em Buenos Aires. Entre os argumentos utilizados retenho os seguintes:

1- Fora da Igreja não pode haver milagres. A Igreja conciliar não é a Igreja católica. Logo não houve milagre em Buenos Aires.
2-Ninguém age sem um fim. Um milagre na Missa Nova não poderia ter outro fim senão induzir os fiéis a assistirem a Missa Nova. Logo não houve milagre em Buenos Aires.
3-O milagre é a assinatura de Deus. Deus não pode assinar uma heresia. A Missa Nova favorece a heresia. Logo não houve milagre em Buenos Aires.

Vejamos cada um desses argumentos.

1- O primeiro simplifica em demasia a questão e simplificando-a ele confunde duas questões. Uma é a de saber se pode ou não haver milagres fora da Igreja. A outra é a de se saber se a Igreja conciliar é totalmente alheia à Igreja católica ou não.

À primeira questão deve-se responder com santo Tomás que sim. Pode haver milagres "fora da Igreja" dentro de certas condições. Veja-se os artigos do Prof. Carlos Nougué a esse respeito. O que Deus não faz é confirmar o erro ou o vício com um milagre, mas ele pode confirmar a verdade ou a virtude com um milagre, e isto, mesmo entre os pagãos. Se alguns bens foram realizados entre os pagãos, estes bens foram realizados por inspiração ou ação de Deus (cf. De Potentia, questão VI, artigo V, ad 5um). No mesmo artigo santo Tomás diz ser possível que Deus tenha feito um milagre para atestar a castidade de uma virgem pagã. Pode-se lembrar também o milagre da mula de Balaão que falou distintamente como se lê nas Sagradas Escrituras. Ora Balaão era um mago pagão. A mula falou porque Deus queria adverti-lo de não levar adiante seu intento de amaldiçoar os judeus. (Num XXII)

À segunda pergunta deve-se responder que as autoridades da Igreja conciliar, constituem uma seita modernista a qual, ocupando os postos chaves da Igreja, a mantêm cativa. Não se pode dizer de maneira absoluta nem que a Igreja conciliar seja a Igreja católica, nem que ela não o seja. Pela doutrina modernista e a intenção de destruir a Igreja católica ela não o é, evidentemente; mas pelo fato de deter em seu poder uma jurisdição que pertence à Igreja católica, ela tem algo de católico em seu poder. Se o Papa atual se convertesse ele exerceria catolicamente um poder que hoje ele exerce modernisticamente.
Esta parece-me ter sido a posição que Dom Lefebvre sempre adotou.

2- Ninguém age sem um fim. Mas que fim Deus poderia ter fazendo um milagre na Missa Nova?

Dom Faure já respondeu a esta pergunta. Se Nosso Senhor está presente na hóstia consagrada numa Missa Nova com o agravante desta hóstia ter sido profanada não parece absurdo que Deus faça um milagre para indicar a gravidade desta profanação.

Mas, dirão alguns, Dom Williamson citou também um suposto milagre ocorrido na Polônia. O mesmo raciocínio se impõe. Onde há presença real pode haver milagre sem se faltar com a verdade.

Mas não seria isso aprovar a Missa Nova?
Não, assim como não é aprovar o paganismo que demostrar, através de um milagre, a inocência de uma virgem pagã.

3- O milagre é uma assinatura de Deus e Deus não pode assinar uma heresia. Mas este milagre, se milagre houve, não é uma assinatura do novo rito da missa mas sim da presença real. O sacramento recebido na Igreja conciliar pode ser verdadeiro e a doutrina que o acompanha pode ser falsa. Mas são duas coisas distintas. Uma não anula a outra. Afirmar um, mesmo com milagre, não é afirmar o outro, como provar a inocência de uma virgem pagã não é aprovar o paganismo.

Os argumentos apresentados não me parecem conclusivos. Seja como for, eles não podem servir para desacreditar Dom Williamson que permanece o Bispo que se opôs à política suicidária dos acordistas e que sagrou Dom Faure, ordenou padres para a Resistência, confirmou inúmeros fieis dando assim a todos a esperança de continuar o bom combate de Dom Lefebvre que não é outro senão o bom combate da Santa Igreja una, católica, apostólica e romana e, como dizia São Pio X, perseguida.


Ir. Tomás de Aquino O.S.B

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Tríduo a São Luiz Gonzaga



(Padroeiro da juventude)

Ó Luiz santo, adornado de angélicos costumes, nós, vossos indigníssimos devotos, vos recomendamos especialmente a castidade de nosso corpo e de nossa alma. Rogamo-vos, pela vossa angélica pureza, que nos recomendeis ao Cordeiro imaculado, Cristo Jesus, e à sua Mãe santíssima, a Virgem das virgens, e nos preserveis de todo o pecado. Não permitais que sejamos manchados com nódoa alguma e impureza; mas quando nos virdes em tentação ou perigo de pecar, afastai de nossos corações todos os pensamentos e afetos impuros e, despertando em nós a lembrança da eternidade e de Jesus crucificado, imprimi profundamente em nossos corações o sentimento do santo temor de Deus; e, afervorando-nos no amor divino, fazei que vos imitemos na terra, para que mereçamos gozar de Deus convosco no céu. Assim seja.

Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória ao Pai.
V. Rogai por nós, São Luis.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

OREMOS

Ó Deus, distribuidor dos dons celestiais, vós unistes no angélico jovem São Luiz uma admirável inocência de vida à prática da penitência; concedei-nos por seus méritos e preces que o imitemos na penitência, já que não o acompanhamos na inocência. Por Cristo, Senhor nosso.
R. Amém.


Retirado de "Manual de Cânticos e Orações". Porto Alegre: Oficinas Gráficas da Livraria Selbach de Selbach & Cia, 1948, 2ª edição.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Comentários Eleison CDXLV (445) - Hospedeiro e Parasita I

Por Dom Richard Williamson
Tradução: Andrea Patrícia (Blog Borboletas ao Luar)


Assim como sem o bem o mal não existe,
Sem a verdadeira Igreja a Neoigreja não subsiste.


O motivo de eu ter dito seis meses atrás que um padre não está obrigado, em todas as situações, a proibir um católico de assistir à Nova Missa (NOM) não foi obviamente afirmar que está tudo perfeitamente bem em assistir ao NOM. O rito da Nova Missa é, em si mesmo, o ato central de culto da falsa religião do Vaticano II centrada no homem, cujo despertar se deu em 1969. De fato, a obrigação de manter-se longe do NOM é proporcional ao conhecimento que uma pessoa tenha sobre quão mal ele é. O NOM tem contribuído enormemente para que um incontável número de católicos perca a fé quase sem perceber.

Mas existem dois fatores que, mesmo nos dias de hoje, têm tornado mais fácil os católicos serem enganados pelo NOM. Em primeiro lugar, ele foi imposto a toda a Igreja de rito latino, porque o Papa Paulo VI fez de tudo que pôde para parecer que o rito fora imposto pela força de sua autoridade papal, a qual em 1969 parecia imensa. Ainda hoje o NOM passa como o rito “ordinário”, enquanto a Missa de sempre é oficialmente reduzida a um rito “extraordinário’. Desse modo, mesmo 47 anos depois, um católico honesto pode sentir-se ainda obrigado pela obediência a assistir ao NOM. É claro que na realidade não pode haver tal obrigação, porque nenhuma lei da Igreja pode obrigar um católico a pôr sua fé em perigo, o que ele normalmente faria se fosse ao NOM, tamanha é a falsidade deste.

Em segundo lugar, o NOM foi introduzido paulatina e notavelmente, por uma série de mudanças habilidosamente graduadas, em 1962, 1964 e 1967, de modo que a revolução generalizada de 1969 encontrou católicos prontos para a novidade. De fato, ainda hoje o rito do NOM inclui opções para o celebrante, que torna a este possível celebrá-lo como uma cerimônia de puro sangue da nova religião humanista, ou como uma cerimônia que lembra a verdadeira Missa, semelhante o suficiente para enganar muitos católicos, fazendo-os acreditar que não há diferença significante entre o velho e o novo rito. É claro que na realidade, como Monsenhor Lefebvre sempre dizia, é melhor o velho rito numa língua moderna, que o novo rito em latim, por causa da diminuição ou clara falsificação da doutrina católica da Missa no NOM.

Além destes dois fatores, a imposição oficial das mudanças e o caráter às vezes opcional destas, intrínsecos ao NOM, são mais que suficientes para explicar porque hoje deve haver milhares de católicos que querem e pretendem ser católicos ainda que assumam que a maneira correta de agir é assistir ao NOM todo domingo. E quem ousará dizer que em meio a essa multidão não há pessoas que ainda estejam alimentando sua fé obedecendo o que lhes parece ser (subjetivamente) sua obrigação (objetiva)? Deus é seu juiz, mas por quantos anos simplesmente a maioria dos seguidores da Tradição católica não teve de ir ao NOM antes de compreender que sua fé a obrigava a não fazer isto? E se o NOM os tivesse feito perder a fé por todos estes anos, como teriam eles chegado à Tradição católica? Dependendo de como o celebrante usa as opções do NOM, nem todos os elementos que podem nutrir a fé são necessariamente eliminados, especialmente se a consagração é válida, uma possibilidade que ninguém que saiba sua teologia sacramental pode negar.

Entretanto, dados a fraqueza da natureza humana e o risco de encorajar os católicos a seguirem a nova e fácil religião por causa destas últimas palavras ditas em favor de seu rito central de culto, por que então dizer uma palavra em favor de qualquer característica da Neoigreja? Por ao menos duas razões. Em segundo lugar, para afastar o desprezo potencialmente farisaico em relação aos crentes que estão fora do movimento tradicional; e, em primeiro lugar, para afastar o que começa a ser chamado de “eclesiavacantismo”, a saber, a ideia de que na Neoigreja não restou nada de católico. Em teoria, a Neoigreja é pura podridão, mas na prática essa podridão não pode existir sem algo que ainda não apodreceu e que está ali com potência para apodrecer. Todo parasita necessita de um hospedeiro. Tendo esse particular hospedeiro: a verdadeira Igreja, desaparecido completamente, não teriam então as portas do inferno prevalecido sobre ela? Mas isto é impossível (Mt. XVI, 18).
                                                                                                                                          
Kyrie eleison.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

ACERCA DO SUMO PONTÍFICE, SUA SANTIDADE BENTO XV (1914-1922)




Não foi apenas com João XXIII (1958-1963), que tivemos pela primeira vez um papa neo-ecumenista ou com tendências ao neo-ecumenismo. Nos tempos de Bento XV, no século Giacomo Della Chiesa, o número de publicações condenadas no Index Librorum Prohibitorum caiu consideravelmente em relação aos pontificados de Leão XIII e de São Pio X, seus predecessores. Ademais, o neo-ecumenismo em seu tempo deu passos significativos, embora não revolucionários como o fizeram João XXIII e Paulo VI.

Em uma praça pública de Constantinopla (Turquia), a 11 de dezembro de 1921, foi inaugurada em homenagem a Bento XV (1914-1922) uma estátua, em cujo sopé se lê o seguinte:

«Al grande Pontefice 
dell'ora tragica mondiale 
Benedetto XV 
Benefattore dei popoli 
senza distinzione 
di nazionalità e di religione 
in segno di riconoscenza
l’Oriente 
1914-1919».

("Ao grande Pontífice
de um momento trágico do mundo
Bento XV
Benfeitor dos povos
sem distinção
de nacionalidade e de religião
como um sinal de gratidão
do Oriente.")

Fontes: Documentos da Igreja. "Documentos de Pio X e de Bento XV. São Paulo: Paulus, 2002.
Site da Santa Sé. Biografia de Bento XV. Disponível em http://goo.gl/nXisUg. Acesso em 12/01/2016

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Pe. Bruno OSB: "Nos reconhecer tal como somos"?



Pe. Bruno OSB

Ao final da “palavra do superior geral” (1º de novembro de 2015) do último boletim do Cor Unum, Mons. Fellay precisa algumas coisas aos membros da Fraternidade sobre “a situação da Igreja e nossas relações romanas”. 

Há muitos pontos que poderiam ser comentados: “a santa Igreja, enferma, [...] perdendo cada dia mais sua unidade” (?) – “o papa [...] está mais ao lado dos progressistas” (sério?) – “a graça da fidelidade a esta obra maravilhosa que é a FSSPX”...

Tomemos aqui simplesmente o que nos parece mais importante: Mons. Fellay, depois de ter explicado que “em julho Roma fez novas proposições para uma regularização”, afirma que “a condição sine qua non de nossa aceitação” é a expressão “nos reconhecer tal como somos”. Ele indica ali as “aplicações práticas”: curiosamente, já somente se trata da missa e dos sacramentos (em resumo: “que Roma não nos peça para participar na nova missa”), mas de nenhum modo dos problemas doutrinais e da necessária denúncia dos erros e escândalos.

A fórmula “nos reconhecermos tal como somos” reaviva as dolorosas recordações deste antigo membro do Barroux [mosteiro beneditino que esteve vinculado a Mons. Lefebvre. NP] que eu sou: Dom Gérard [superior desse mosteiro. NP] tinha a mesma linguagem em 1988, insistindo vigorosamente: “sem contraprestação, sem concessões, sem renegar.” E em sua famosa declaração de 18 de agosto de 1988, colocou os pingos nos i’s: “Que nenhuma contraprestação doutrinal ou litúrgica seja exigida de nós, e que nenhum silêncio seja imposto à nossa pregação antimodernista”. Sabemos, desgraçadamente, o que aconteceu com estas belas resoluções.

A experiência nos ensina que quando Roma diz: “se lhes reconhecem tal como são”, Roma pensa de fato: “os reconhecemos tal como vocês serão”, tal como aquilo em que vocês, lenta porém seguramente, vão se converter (e talvez não tão lentamente). Roma prevê com razão que depois de um pacto (se lhe chame acordo, reconhecimento, regularização), o grupo que está submetido à sua autoridade irá evoluir, sobretudo se a evolução já começou há muito... Roma sabe bem que a integração dos “integristas” será sua desintegração.

Rezemos para que entre os sacerdotes da Fraternidade – todos receberam este texto de seu superior – ao menos alguns salvem a honra, opondo-se publicamente a esta deriva. Que eles tenham o valor de dizer bem alto: “nós queremos permanecer tal como somos, e é por isso que não podemos sob nenhum preço aceitar que a Roma conciliar nos reconheça tal como somos”.

A verdadeira “condição sine qua non de nossa aceitação”, a formulou Mons. Lefebvre de maneira simples e luminosa: que Roma volte a coroar Nosso Senhor. “Quando se nos coloca a questão de saber quando haverá um acordo com Roma, minha resposta é simples: quando Roma voltar a coroar Nosso Senhor Jesus Cristo”. (Conferência em Flavigny, dezembro de 1988). Em outros termos: que Roma reconheça a Cristo tal qual Ele é: o único Rei, o único Deus, o único Salvador.

Hoje em dia estamos bastante longe disto, com o odioso sincretismo do papa Francisco, do qual acaba de dar uma prova suplementar com seus desejos para o ano novo. 

Antes de “nos reconhecer tal como somos”, que Roma o reconheça tal qual é a Ele, Nosso Senhor Jesus Cristo.


Padre Bruno.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

UMA HIERARQUIA PARA DUAS IGREJAS – DOMINICANOS DE AVRILLÉ

UMA HIERARQUIA PARA DUAS IGREJAS

DOMINICANOS DE AVRILLÉ

Fonte: Non Possumus

Le Sel de la Terre n°59, inverno de 2006-2007



O Non Possumus torna a publicar este importante texto dos Dominicanos de Avrillé acerca da dualidade “Igreja Católica – igreja conciliar”.

A equivocidade da expressão “igreja conciliar” causa confusão. Ela pode ser entendida ao menos em 4 sentidos principais:

Segundo um primeiro sentido, a “igreja conciliar” é a organização da religião conciliar que coexiste com a Igreja Católica num mesmo sujeito. É o que explicam os Dominicanos de Avrillé neste texto.

Conforme um segundo sentido, a “igreja conciliar” é a Igreja Católica tal e como é atualmente, decaindo e corrompendo-se (em seus aspectos humanos) pelas mãos dos modernistas que controlam a Igreja desde o Concílio Vaticano II.

Estes dois primeiros sentidos da expressão “igreja conciliar” não se excluem reciprocamente, mas se excluem aos dos dois seguintes.

Em um terceiro sentido, a “igreja conciliar” é essa sociedade que as pessoas comuns identificam erroneamente com a Igreja Católica. A sociedade cuja cabeça está Francisco e que é conhecida em todas as partes como “Igreja Católica”, já não é católica. A verdadeira Igreja Católica existe reduzida a dimensões domésticas e individuais. Este terceiro sentido exclui os outros três, é sustentado por muitos sedevacantistas, e se inclina ao sedevacantismo e ao cisma.

Segundo um quarto sentido, a “igreja conciliar” é unicamente um mal espírito (liberal e modernista) existente na Igreja Católica. É o que sustentam Mons. Felay, o pe. Glaize e os acordistas em geral. Este quarto exclui os outros três.


Em uma carta datada de 25 de junho de 1976 enviada a Monsenhor Lefebvre por parte do Papa, Monsenhor Giovanni Benelli emprega pela primeira vez uma expressão que se tornou famosa: “A Igreja Conciliar.” “Se eles (os seminaristas) são de boa vontade e seriamente preparados para um ministério presbiterial na verdadeira fidelidade à Igreja Conciliar, encarregar-nos-emos de encontrar a melhor solução para eles.”

Desta Igreja conciliar temos falado frequentemente em Le Sel de la Terre, mas não é-nos inútil voltar a esta questão já que é tão importante. A questão que particularmente queremos abordar aqui é a seguinte: A Igreja católica e a Igreja conciliar têm uma mesma hierarquia?



ESTADO DA QUESTÃO 


Por princípio, de onde partimos? Procuraremos definir as duas Igrejas em questão. Fá-lo-emos segundo as quatro causas que distinguem geralmente a filosofia escolástica.

Uma sociedade é um ser moral (no caso da Igreja Católica, não há somente união moral. Também há união espiritual devido à participação de bens sobrenaturais (a fé, por exemplo): é uma união de pessoas que estão unidas pelo mesmo fim (um mesmo bem comum). Pode-se distinguir:

- A causa material, são as pessoas que estão unidas na sociedade. Diremos que no caso da Igreja Católica como no da Igreja conciliar, são os batizados (com um batismo válido).

- A causa eficiente é o fundador da sociedade: Nosso Senhor Jesus Cristo no caso da Igreja Católica, os papas do concílio, no caso da Igreja conciliar. Depois da ascensão de seu fundador, é a autoridade quem continua fazendo o rol de causa eficiente e mantém unida à sociedade. Atualmente, é essa mesma hierarquia que cumpre o rol de causa eficiente para a Igreja Católica e para a Igreja conciliar.

- A causa final, é o bem comum buscado pelos membros da sociedade: no caso da Igreja Católica, o bem que se busca é a salvação; no caso da Igreja conciliar o bem que se busca é – mais ou menos conscientemente – a unidade do gênero humano (o ecumenismo em sentido amplo) “O que define melhor toda a crise da Igreja é verdadeiramente este espírito ecumênico-liberal” (Monsenhor Lefebvre, conferência de 4 de abril de 1978).

- A causa formal é a união dos espíritos e vontades dos membros na busca do bem comum. Na Igreja Católica, há união de espíritos em uma mesma profissão de fé e uma união de vontades na prática de um mesmo culto na obediência aos mesmos pastores (portanto às leis que eles estabelecem, a saber, o Direito Canônico). Na Igreja conciliar, encontra-se também uma união de espíritos na aceitação de um mesmo ensino (o Concílio) e união de vontades na prática de uma nova liturgia e na obediência às novas diretrizes da Igreja conciliar (como o novo código de direito canônico). (Esta união de espíritos e de vontades é muito menos estrita na Igreja conciliar que na Igreja Católica. Basta “aceitar o concílio” e em seguida cada qual por fazer o que quer).

Podemos definir a Igreja católica como a sociedade de batizados que buscam salvar suas almas professando a fé católica, praticando o mesmo culto católico e obedecendo aos mesmos pastores, sucessores dos Apóstolos.

Quanto à Igreja Conciliar, ela é a sociedade de batizados que se submetem às diretivas do papa e os bispos atuais em sua vontade de promover o ecumenismo conciliar e que, por consequência, admitem toda o ensinamento do Concílio, praticando a nova liturgia e submetendo-se ao novo direito canônico.

Nestas condições, é possível que uma mesma hierarquia possa dirigir as duas sociedades?



OBJEÇÕES


- Primeira objeção: Não é possível que uma mesma hierarquia dirija duas Igrejas. Pode se imaginar que um mesmo patriarca possa dirigir os coptas católicos e os coptas ortodoxos? Portanto é impensável imaginar uma hierarquia comum à Igreja Católica e à Igreja Conciliar.

- Segunda objeção: De fato, não há uma hierarquia, senão duas. De um lado estão os bispos conciliares que dirigem a Igreja conciliar e do outro os bispos da Tradição que dirigem a Tradição, ou seja, a Igreja Católica.

- Terceira objeção: Quem não vê que a hierarquia da Igreja Conciliar é uma pseudo-hierarquia? O papa não é papa porque não é católico; quanto aos bispos, não são bispos porque o rito das consagrações episcopais não é válido.

[Nós adicionamos uma quarta objeção, lida na internet. Diz essa objeção: “a religião do Concílio Vaticano II é uma religião especificamente distinta e inclusive oposta à católica. É impossível que a religião conciliar esteja dentro da Igreja Católica”. Respondemos: a ideia é esta: “a religião conciliar é uma heresia e é impossível que haja hereges dentro da Igreja católica”. Mas a verdade é que se pode professar a religião conciliar sem culpa, incorrendo em heresia apenas material, e dado que os batizados que incorrem em heresia unicamente material não deixam de pertencer à Igreja, pode se professar a religião conciliar sem deixar de ser católico ou de estar na Igreja Católica. Nota do blog]



ARGUMENTO DE AUTORIDADE


Nós não somos os primeiros a afirmar que as duas Igrejas têm a mesma hierarquia. Esta afirmação se encontra com a maioria dos que abordaram a a questão antes de nós:

“Que exista no presente duas Igrejas, com um só e mesmo papa Paulo VI à cabeça de uma e outra, nós não o dissemos por nada, não o inventamos, nós constatamos que é assim.” Gustavo Corção na revista Itineraires de novembro de 1974, em seguida o padre Bruckberger no “L’Aurore” de 18 de março de 1976 tem-no sublinhado publicamente: a crise religiosa não é como no século XVI de ter para uma só Igreja dois ou três papas simultaneamente; agora é de ter um só papa para duas Igrejas, a Católica e a pós-conciliar […]

O mundo moderno nos apresenta um espetáculo oposto ao do grande cisma do ocidente: duas Igrejas com um só Papa.

O texto mais interessante é do padre Julio Meinvielle. Data de 1970: é o primeiro texto que conhecemos sobre este assunto. O sacerdote argentino escreveu – e é a conclusão de seu magistral livro “De la Cábala ao progresismo”:

“Um mesmo Papa presidiria ambas Igrejas, que aparente e exteriormente não seriam senão uma. O Papa, com suas atitudes ambíguas daria pé para manter o equívoco. Porque, por um lado, professando uma doutrina inatacável, seria a cabeça da Igreja das Promessas. Por outro lado, produzindo atos equívocos e até reprováveis, apareceria como alentando a subversão e mantendo a Igreja gnóstica da Publicidade.

A eclesiologia não tem estudado suficientemente a possibilidade de uma hipótese como a que aqui propomos. Mas se pensarmos bem, a Promessa de assistência da Igreja se reduz a uma assistência que impeça o erro de introduzir-se na Cátedra Romana e na mesma Igreja, e ademais que a Igreja não desapareça nem seja destruída pelos seus inimigos”.



REFLEXÃO TEOLÓGICA.


Nosso Senhor prometeu que as portas do inferno – os poderes infernais – jamais prevalecerão contra sua Igreja. Portanto ela é indefectível: ela deve continuar até o fim dos tempos para fornecer às almas de boa vontade os meios de salvação, a saber: a sã doutrina, sacramentos válidos, o santo Sacrifício da Missa, uma autêntica vida espiritual; Tudo isto supõe que a hierarquia católica durará até o fim do mundo e poderá – ao menos para os que verdadeiramente o desejam, cumprir com seu fim que é conduzir as almas ao Céu.

Além disso, Nosso Senhor também anunciou que sua segunda vinda seria precedida de uma “tribulação tal que não houve desde o princípio do mundo até agora, e não haverá outra.” (Mt. XXIV, 21). Esta tribulação será acompanhada de uma decaída da fé ao ponto que Nosso Senhor se pergunta se encontrará ainda fé sobre a terra no momento de sua segunda vinda (Lc. XVII, 8). Esta apostasia está profetizada por São Paulo (II Tes. III, 4) e São Tomás de Aquino explica comentando este versículo, que os povos cristãos se emanciparão da fé da Igreja Romana. Isto parece indicar bem que uma boa parte da hierarquia será infiel à sua missão.

No tempo que precede à vinda de Nosso Senhor, o sol e a lua não iluminarão mais (Mt. XVIII, 8), o que, sem sentido simbólico, significa que a Igreja e a sociedade cristã perderão a sua influência.



RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.


Podemos agora responder às objeções contra a possibilidade de uma única hierarquia para as duas “Igrejas”.

- O erro da primeira objeção é o de imaginar a Igreja conciliar como uma sociedade que impõe formalmente o cisma ou a heresia, tal como uma igreja ortodoxa ou uma comunhão protestante. Se eu me adiro à igreja anglicana, por exemplo, sou formalmente cismático, ou seja, herege, e já não formo parte da Igreja Católica.

Mas eu posso ser conciliar – ou seja, para simplificar, ecumenista – conservando a fé católica. Sem dúvida que ponho minha fé, e a de outros, em perigo. Mas não abjuro dela em seguida.

É por isso que os membros da hierarquia, desde o momento em que não levam seus erros ao ponto de renegar a fé católica, continuam sendo membros da hierarquia católica, inclusive quando são conciliares.

O que concedemos ao objetante é que os bispos da Tradição não formam parte da Igreja conciliar.

- Contrariamente ao que declara a segunda objeção, os bispos conciliares e os bispos da Tradição não constituem duas hierarquias. Monsenhor Lefebvre, ao consagrar os bispos em 30 de junho de 1988, protestou contra a ideia de estabelecer outra hierarquia. Não há mais do que uma hierarquia, tendo em sua cabeça o papa e sob ele todos os bispos católicos (compreendidos os da Tradição).

Quando um sacerdote da Tradição celebra a santa Missa, nomeia no cânon os membros da hierarquia: o papa e o bispo do local.

O que dá uma aparência de verdade à objeção, é que o papa e os bispos atuais, muito frequentemente, atuam como representantes da Igreja conciliar>: nesta qualidade – quando promovem os novos sacramentos, o novo catecismo, etc. – os bons católicos, com razão, não os obedecem.

- Quanto à terceira objeção, esta repousa em afirmações gratuitas, como temos explicado muitas vezes nesta revista. Ninguém jamais apontou a prova decisiva de que o papa não seja papa, nem que os bispos atuais sejam consagrados com um rito inválido. Temos de tê-los – pela falta de prova em contrário – por representantes da hierarquia, resistindo-lhes quando utilizam sua posição para impor os erros conciliares.



ANEXO SOBRE A IGREJA CONCILIAR

Monsenhor Lefebvre:


Um tempo após haver recebido a carta de Monsenhor Benelli, em 29 de julho, Monsenhor Lefebvre comentou também esta expressão “igreja conciliar”:

"Nada mais claro! De agora em diante, é a igreja conciliar se deve obedecer e ser fiel, já não à Igreja católica. Esse é precisamente todo o nosso problema. Nós estamos suspensos a divinis pela Igreja conciliar, e para a Igreja conciliar, da qual nós não queremos formar parte.

Esta igreja conciliar é uma igreja cismática, porque ela rompe com a Igreja católica de sempre. Tem seus novos dogmas, seu novo sacerdócio, suas novas instituições, seu novo culto já condenado pela Igreja em repetidos documentos oficiais e definitivos.

É por isso que os fundadores da igreja conciliar insistem tanto sobre a obediência hoje em dia, fazendo abstração da Igreja de ontem, como se ela já não existisse.

(…)A igreja que afirma semelhantes erros, é por sua vez cismática e herética. Estra igreja conciliar não é, portanto, católica. Na medida em que o papa, os bispos, sacerdotes ou fiéis aderem a esta nova igreja, eles se separam da igreja católica. A igreja de hoje não é a verdadeira Igreja mais que na medida que ela continue em unidade com a Igreja de ontem e de sempre. A norma de fé católica é a Tradição”.

Outras citações de Monsenhor Lefebvre:

"Deste concílio nasceu uma nova igreja reformada que o mesmo Monsenhor Benelli chama a igreja conciliar.

É muito fácil pensar que qualquer um que se oponha ao concílio, seu novo evangelho, será considerado como fora da comunhão da Igreja. Podemos lhes perguntar: de qual Igreja? Eles respondem: da igreja conciliar. (Acuso o Concílio, pg. 7)

Este concílio representa, tanto aos olhos das autoridades romanas como aos nossos, uma nova igreja que eles chamam “a igreja conciliar”. (…)

Todos os que cooperam na aplicação desta alteração, aceitam e aderem a esta nova igreja conciliar, como a designou Monsenhor Benelli na carta que me enviou da parte do Santo Padre, em 25 de junho passado (1976), entram no cisma” (Um Bispo Fala, pgs. 97 e 98).

"A nova missa, como a nova igreja conciliar, está em ruptura profunda com a Tradição e o magistério da Igreja. É uma concepção mais protestante que católica que explica tudo o que está indevidamente exaltado e tudo o que tem sido reduzido (...) A reforma litúrgica de estilo protestante é um dos maiores erros da igreja conciliar e um dos mais ruinosos da fé e da graça (Carta Aberta ao Papa, suplemento nº 37 de Fideliter, janeiro-fevereiro de 1984, pg. 10).

"Os católicos que que assustam com a nova linguagem utilizada pela igreja conciliar, têm a vantagem de saber que este não é novo, que Lamennais, Fuchs, Loisy o iniciaram desde um século atrás, e que eles mesmos não fizeram mais reunir todos os erros que correram no curso dos séculos” (Carta Aberta aos Católicos Perplexos, cap. 16).

"O cardeal Ratzinger se esforça uma vez mais em dogmatizar o Vaticano II. Nos deparamos com pessoas que não têm nenhuma noção da Verdade. Estaremos cada vez mais forçados a atuar considerando esta nova igreja como já não católica” (Carta de Monsenhor Lefebvre a Jean Madiran, em 29 de janeiro de 1986).

"Louis Veuillot disse: “Dois poderes vivem e estão em guerra no mundo: A Revelação e a Revolução”. Escolhemos conservar a Revelação enquanto que a igreja conciliar escolheu a Revolução. A razão de nossos vinte anos de combate está nesta escolha” (Conferência em Ecône em setembro de 1986, Fideliter 55, pg. 18).

"Como é este espírito de diálogo liberal que é inculcado desde o início aos sacerdotes e missionários, compreendemos por que a igreja conciliar tem perdido completamente seu zelo missionário, o espírito mesmo da Igreja” (O Destronaram, pg. 104).

(…) "Esperando que vós possais realizar meu desejo de uma revisão que destrua os erros do concílio e da igreja conciliar professados cada vez mais abertamente pelo papa e a cúria romana, tirando à luz a doutrina católica. Agora enfrentamo-nos com os assassinos da fé católica, sem nenhuma vergonha” (Carta de Monsenhor Lefebvre ao padre prior de Avrillé, 7 de janeiro de 1991).

Terminemos com um extrato do sermão de Monsenhor Lefebvre em 30 de junho de 1988, durante a consagração dos quatro bispos:

"Penso que vossos aplausos de uns momentos atrás eram uma manifestação espiritual que traduzam vossa alegria por ter enfim bispos e sacerdotes católicos que salves vossas almas, que deem a vossas almas a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, através da doutrina, os sacramentos, a fé e o Santo Sacrifício da Missa. A vida de Nosso Senhor, da que tendes necessidade para ir ao Céu, está desaparecendo em todas as partes nesta igreja conciliar, Segue uns caminhos que não são os caminhos católicos. Simplesmente conduzem à apostasia. (...)

Se estou no erro, se ensino erros, está claro que se me deve trazer de novo à verdade, de acordo com os que me enviam este protocolo para ser firmado reconhecendo meus erros. Como se me dissessem: se reconhece seus erros, lhe ajudaremos para que volte à verdade. Que verdade é esta, segundo eles, senão a verdade do Vaticano II, a verdade desta igreja conciliar? Portanto é certo que para o Vaticano a única verdade que existe hoje é a verdade conciliar, o espírito do Concílio, o espírito de Assis. Essa é a verdade de hoje. E isso não o queremos por nada do mundo.”


Outras citações:

Não foi Monsenhor Lefebvre o único em utilizar esta expressão. O Padre Calmel, em 1071, falava da falsa igreja pós-conciliar.

"A falsa igreja que vemos entre nós desde o curioso concílio Vaticano II, afasta-se sensivelmente, ano a ano, da Igreja fundada por Jesus Cristo. A falsa igreja pós-conciliar se divide cada vez mais da Santa Igreja que salva as almas há vinte séculos. A pseudo-igreja em construção se divide cada vez mais da Igreja verdadeira, a única Igreja de Cristo, pelas inovações mais estranhas, tanto na constituição hierárquica como no ensino da moral”.


Sob expressões análogas, encontramos a mesma noção em Gustavo Corção, em 1974 e 1978:

"Esta desordem que reina no cristianismo, aplica-se dia a dia, e nos deixa em uma situação única na histórica depois da santa natividade de Nosso Senhor: nós já não sabemos onde está nossa Igreja! Pelos sinais visíveis, temos uma ideia de pesadelo: o mundo moderno nos apresenta um espetáculo oposto ao do grande Cisma do Ocidente: duas Igrejas com um só papa.

Ora, minha sofrida e firme convicção, tantas vezes sustentada aqui, ali e acolá é que existe, entre a Religião Católica professada em todo o mundo católico até poucos anos atrás e a religião ostensivamente  apresentada como "nova", "progressista", "evoluída", uma diferença de espécie ou diferença por alteridade. São portanto duas as Igrejas atualmente governadas e servidas pela mesma hierarquia: a Igreja Católica de sempre, e a Outra..(…)

E note bem, leitor: quando acaso der a essa outra o nome de Igreja pós-conciliar não quero de modo algum insinuar a infeliz ideia de que, após o Concílio, a Igreja de Cristo se teria transformado a ponto de tornar-se irreconhecível, devendo os fiéis de bem forma­da doutrina católica acreditar nessa nova forma visível da Igreja, por pura disciplina, ainda que a maioria das pregações e dos novos ensinamentos sejam ostensivamente diversos e as vezes opostos à doutrina católica. Não! A Igreja Católica e Apostólica continua a existir na era pós-conciliar, submetida a duras provações, mas sempre permanente e fiel guardiã do depósito sagrado.

Se o leitor me perguntasse agora quais são as essenciais diferenças que separam as duas religiões, eu responde­ria: diferença de espírito, diferença de doutrina, diferença de culto e diferença moral. Como terei chegado a tão assustadora convicção? Com muito sofrimento e muito trabalho, são milhares os católicos que chegaram à mesma convicção. Começamos por confrontar os novos textos, as novas alocuções, as novas publicações pastorais com a doutrina ensinada até anteontem. A começar pelos textos emanados dos mais altos escalões, citemos alguns daqueles que mais dolorosamente e mais irresistivelmente nos levaram à conclusão de que se inspiram em outro espírito e se firmam em outra doutrina.”

Em 1976, no Supplement-Voltigeur da revista Itineraires, Jean Madiran escreveu:



"FORA DE QUAL IGREJA?

Em seu discurso ao consistório de 24 de maio (1976), onde Monsenhor Lefebvre é mencionado muitas vezes, Paulo VI (...) o acusa de se colocar fora da Igreja”.

Porém fora de qual Igreja? Há duas. E Paulo VI não renunciou a ser papa destas duas igrejas simultaneamente. Nestas condições, “fora da Igreja” resulta em equívoco e não resolve nada.

Que haja na atualidade duas Igrejas com um só e mesmo Paulo VI à frente de uma e da outra, não o inventamos, constatamos que é assim.

Alguns episcopados que se declaram em comunhão com o papa, e que o papa não nega sua comunhão, têm saído objetivamente da comunhão católica (...) Sim, mas prevaricadores, desertores, impostores, Paulo VI segue sendo sua cabeça sem desaprová-los e nem corrigi-los, conserva-os em sua comunhão, ele preside esta igreja também (...).

Se o concílio tem sido interpretado corretamente como o foi, é com o consentimento ativo ou passivo dos bispos em comunhão com o papa. Assim se constituiu uma igreja conciliar, diferente da Igreja Católica. (…)

Há duas Igrejas sob Paulo VI. Não ver que são duas, ou não ver que são completamente diferentes uma da outra, ou não ver que Paulo VI até agora preside uma e outra, é a cegueira, e em certos casos pode ser uma cegueira invencível. Mas tendo-o visto e não tendo-o dito seria a cumplicidade de seu silêncio e uma anomalia monstruosa.

Gustavo Corção na revista Itinerários de novembro de 1974, logo em seguida o Padre em L’Aurore de 18 de março de 1976, expressaram-no publicamente: A crise religiosa já não é como no século XV, quando se teve uma só Igreja e dois ou três papas simultaneamente: Hoje é ter um só papa para duas Igrejas, a católica e a pós-conciliar " (...)

O Padre Meinvielle, em 1970, falava da Igreja da publicidade para designar o que chamamos a igreja conciliar: mas ele descreve muito bem a situação atual, de uma mesma hierarquia governando duas Igrejas:

"Não é necessária muita sagacidade para ver que desde há cinco séculos o mundo se está conformando à tradição cabalística – O mundo do Anticristo de adianta velozmente. Tudo ocorre para a unificação totalitária do filho da perdição. Daqui também o êxito do progressismo. O cristianismo se seculariza ou vai se tornando ateu.

Como se hão de cumprir, nesta idade cabalística, as promessas de assistência do Divino Espírito à Igreja e como se verificará o portae in feri non prevalebunt, as portas do inferno não prevalecerão, não cabe na mente humana. Mas assim como a Igreja começou sendo uma semente pequenina (1), e se fez árvore frondosa, assim pode reduzir-se em sua frondosidade e ter uma realidade muito mais modesta. Sabemos que o mysterium iniquitatis já está trabalhando (2); mas não sabemos os limites de seu poder. Por outro lado, não há dificuldade em admitir que a Igreja da publicidade possa ser enganada pelo inimigo e converter-se de Igreja Católica em Igreja gnóstica. Pode haver duas Igrejas, uma, a da publicidade, Igreja magnificada na propaganda, com bispos, sacerdotes e teólogos publicitários, e ainda com um Pontífice de atitudes ambíguas; e outra, Igreja do silêncio, com um Papa fiel a Jesus Cristo em seu ensinamento e com alguns sacerdotes, bispos e fiéis que lhe sejam dependentes, espalhados como "pusillus grex" por toda a terra. Esta segunda seria a Igreja das promessas, e não aquela primeira, que pudesse defeccionar. Um mesmo Papa presidiria ambas Igrejas, que aparente e exteriormente não seria senão uma. O Papa, com suas atitudes ambíguas, daria pé para manter o equívoco. Porque, por um lado, professando uma doutrina intocável seria cabeça da Igreja das promessas. Por outro lado, produzindo atos equívocos e ainda reprováveis, apareceria como alentando a subversão e mantendo a Igreja gnóstica da Publicidade.

A eclesiologia não estudou suficientemente a possibilidade de uma hipótese como a que aqui propusemos. Mas se se pensa bem, a Promessa de Assistência da Igreja se reduz a uma Assistência que impeça que o erro se introduza na Cátedra Romana e na mesma Igreja, e além disso que a Igreja nem seja destruída por seus inimigos. ".

(1) Mq 13, 32.
(2) 2 Ts 2, 7.