Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

domingo, 27 de dezembro de 2015

Comentários Eleison CDXLI (441) - Comparação com a família

Por Dom Richard Williamdon
Tradução: Cristoph Klug

Duas famílias podem ambas por um homem ser mantidas
Assim o podem duas igrejas por um Papa conduzidas.


Enquanto que no melhor dos casos os argumentos provam, as comparações no melhor dos casos ilustram. Logo, as comparações não provam, mas podem lançar muita luz desde o conhecido até o desconhecido. Pois bem, concernente à presente crise da Igreja, de meio século de idade, necessitamos de toda luz que possamos obter, porque com cada dia que passa se torna menos e não mais compreensível. Então, segue aqui uma comparação fecunda que me enviou há pouco tempo um recente convertido à Tradição. Ele compara a Igreja Católica e a Igreja Conciliar, ou a Neo-Igreja, com as famílias legítima e ilegítima de um e o mesmo homem. Apliquemos a comparação ao seu matrimônio, à sua autoridade e aos seus filhos.

Por um casamento legal com sua verdadeira esposa, um homem inicia uma família e têm filhos legítimos. Mas passando um tempo ele é infiel, e se divorcia dela para viver com sua amante, por adultério com a qual têm outros filhos que são bastardos. Assim mesmo, por uma eleição canônica de um Cardeal como Papa, este Cardeal vem a ser o pai legítimo da Igreja católica e o pai espiritual pela verdadeira Fé de uma multidão de verdadeiros Católicos. Mas desde há 50 anos, como Papa Conciliar, se prostitui seguindo o mundo moderno, e por adultério com este forma uma nova família de bastardos Conciliares. Assim, tanto como o mesmo homem pode ser pai de uma família legal e de uma família ilegal, assim um Papa pode ao mesmo tempo ser cabeça da Igreja Católica e da Neo-Igreja.

Em segundo lugar, assim como o pai de família tem verdadeira autoridade sobre sua verdadeira família, mas não verdadeira autoridade sobre sua segunda família porque não é sua família verdadeira, assim o Papa Conciliar tem verdadeira autoridade sobre os verdadeiros Católicos, mas nenhuma autoridade sobre a Neo-Igreja com seus Católicos Conciliares. E assim como a primeira família necessita de seu verdadeiro pai, e ambos, esposa e filhos, farão tudo o que puderem para trazê-lo de volta para casa mas ele se aferra à sua companheira em adultério e a seus filhos ilegítimos que também farão tudo o que puderem para mantê-lo consigo, do mesmo modo o Papa Conciliar, mesmo que respeitado pelos Católicos Tradicionais que clamam a ele para que faça seu dever por eles, prefere aos Católicos Conciliares que têm pouco respeito real por ele mas se aferram também a ele para cobrir seu estado ilegal.

E, em terceiro lugar, assim como nenhuma verdadeira esposa aceitará ser posta ao mesmo nível que a companheira adúltera que a substituiu, nem os verdadeiros filhos (se suficientemente maduros) aceitarão ser adotados pela falsa família e assim comparados aos bastardos, do mesmo modo a Tradição é absolutamente incompatível com a Neo-Igreja, nem tampouco os verdadeiros Católicos aceitam ser incorporados nela por qualquer tipo de acordo de rendição ou traição à Tradição. Não é para eles irem se prostituindo sob seu verdadeiro pai em seu ambiente adúltero mesmo se ele é seu verdadeiro pai e eles verdadeiramente o necessitam. É para o pai retornar à sua verdadeira família. Nem tampouco podem os filhos legítimos razoavelmente esperar trazer a seu pai de volta à casa reunindo-se com ele em seu ambiente sedutor. A probabilidade muito maior é que eles também sejam seduzidos. O neo-modernismo é muito sedutor!

Esta comparação de qualquer Neo-Papa com um pai de duas famílias é fecunda em muitos outros pontos porque pertence à natureza de um Papa ser um pai. Mas, “Qualquer comparação coxeia” (outra brilhante comparação), e a perna má desta comparação consiste principalmente no fato de que enquanto a distinção entre duas famílias de um único pai está perfeitamente clara na vida real, pelo contrário, a distinção entre a Igreja Católica e a Neo-Igreja, enquanto que perfeitamente clara em teoria, é muito difícil de se desemaranhar na prática, porque elas estão quase de modo desesperado entrelaçadas na vida real. 

Para manter a cabeça católica nos ombros de alguém, é tão necessário conhecer a clara distinção em teoria como o é reconhecer a desesperada confusão na prática.


Kyrie Eleison.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Comentários Eleison CCCLXIX (369) - Israelenses, Israelitas?

Por Dom Richard Williamson
Tradução: Andrea Patrícia (Blogue Borboletas ao Luar)
09 de agosto de 2014

Admitamos então (CE 368) que as ordens do Deus Todo-Poderoso para exterminar certos povos no Antigo Testamento (por exemplo: I Sm 15) foram atos de justiça e misericórdia para com os próprios pagãos, e um ato também designado para ajudar os israelitas a seguirem adiante na preparação do berço para a chegada, muitos séculos depois, do Deus Encarnado, Nosso Senhor Jesus Cristo. Este berço os israelitas proporcionaram, especialmente a Santíssima Virgem Maria, a quem toda a raça humana tem uma dívida sem limites de gratidão. Quem quer de nós que chegue ao Céu, só o faz por sua intercessão.

Então, que relação pode haver entre esses judeus por meio dos quais veio a salvação (Jo 4, 22), e os tantos judeus de hoje que estão massacrando os palestinos ou apoiando moralmente ou financeiramente o massacre? A maioria dos judeus de hoje são judeus Askenazi, e podem muito bem não ser descendentes de Abraão; mas seja como for, é certo que eles absorveram do Talmude, o livro sagrado do Judaísmo pós-cristão que Nosso Senhor chamou de “o fermento dos fariseus e dos saduceus” (Mt 16, 11), que é o espírito de seus inimigos implacáveis que o crucificaram e têm combatido Sua Igreja desde então. Como pode esse Povo Eleito ter se tornado consistentemente um dos Seus piores inimigos? (Se esta simples pergunta parece “antissemita”, nos recordemos que a verdade é boa, enquanto que o “antissemitismo” é mau; então, nenhuma verdade pode ser “antissemita”, e nada que seja “antissemita” pode ser verdade. O que se segue é a verdade, e nada tem que ver com o chamado “antissemitismo”).

Em primeiro lugar, se o Povo Eleito se voltou contra seu Deus, o problema pode parecer cronológico, mas não é. Em todo o Antigo Testamento houve israelitas que se voltaram contra Deus, como, por exemplo, os adoradores do bezerro de ouro, ou os judeus exilados na Babilônia. Deus teve de punir frequentemente seu próprio povo “de dura cerviz” e rebelde. Da mesma forma, desde o início do Novo Testamento até os nossos dias houve sempre judeus notáveis convertidos, como São Paulo, que foi tão judeu quanto poderia sê-lo (cf. Rm 9, 1-5; II Co 11, 21-22; Fl 3, 4-6). A diferença entre os israelitas e os israelenses é a mesma diferença que sempre houve entre aqueles de qualquer raça que amam a Deus e aqueles que se rebelam contra Ele. A verdadeira linha “judaico-cristã” estende desde Abel, passando, por exemplo, por Abraão, Moisés, Davi e a Mãe de Deus até a Igreja Católica. A falsa linha “judaico-cristã”, mas verdadeiramente “judaico-maçônica” se estende desde o amaldiçoado Caim, passando, por exemplo, pelos assassinos dos profetas de Deus, por Anás e Caifás, até a moderna Maçonaria, que foi criada pelos judeus e continua controlada por eles com o propósito de lutar contra a Igreja Católica, ainda que muitos maçons ignorem este fato.

Muito bem, mas não é especialmente acentuado o contraste entre israelitas e israelenses? Sim, porque como diz o velho ditado, “Quanto mais altos eles são, maior sua queda”. Como aqueles membros do Povo Eleito se recusaram a ser os servos especiais de Deus, como têm feito desde a Encarnação, acabaram sendo obrigados a se tornarem servos especiais do Diabo. Não houve para eles possibilidade de escolha entre uma coisa e outra. E o que estava por trás dessa recusa? Em uma só palavra: orgulho. Em vez de usar os dons especiais que Deus os deu para a Sua glória, eles os redirecionaram para a sua própria glória. Antes que o Messias chegasse, eles o conceberam erroneamente como seu salvador material ao invés de salvador espiritual, de modo que, quando Ele veio, eles se recusaram a reconhecê-Lo, e desde então lutam contra Ele por ter substituído sua religião mosaica racialmente exclusiva com a religião católica racialmente inclusiva, aberta a todas as raças.

E o que os católicos podem fazer para resistir à esmagadora dominância material dos outrora Eleitos à nossa volta? Materialmente, quase nada, mas uma simples alma que esteja a orar espiritualmente e sinceramente para o reino de Deus vir, e para que seja feita a Sua vontade, pode fazer com que Deus mova montanhas, o que é brincadeira de criança para Ele, que permite esse domínio apenas para nos levar de volta para Si.


Kyrie Eleison.

NOVA E ESCANDALOSA ENTREVISTA AO P. SCHMIDBERGER



ACI Imprensa: O gesto do papa Francisco [concessão de jurisdição para confessar desde 8 de dezembro de 2015 até 20 de novembro de 2016. Nota do NP] foi disposto para o ano da Misericórdia, mas o papa não dirá, depois de 20 de novembro de 2016, que estará revogado? Você espera ainda outros gestos desta natureza, até a respeito de outros sacramentos?

P. Schmidberger: Certamente, uma restrição para o ano da Misericórdia é dificilmente concebível e provavelmente não corresponda ao pensamento do papa. Talvez seguirão até outros gestos da mesma natureza. Mas, a longo prazo, certamente haverá uma normalização definitiva, com uma estrutura canônica para os sacerdotes da FSSPX.

ACI Imprensa: Já seu predecessor, o papa Bento XVI, buscou uma aproximação com a FSSPX. Agora o papa Francisco escreve em sua carta literalmente: “Confio que no futuro próximo se possam encontrar soluções para recuperar a plena comunhão com os sacerdotes e os superiores da Fraternidade”. Como o senhor considera esta declaração?

P. Schmidberger: Certamente, o papa Francisco vê em nossa Fraternidade uma força que pode ajudar na Nova Evangelização pedida por vários setores. Também nossa obra corresponde ao seu pedido de pobreza, nós não recebemos impostos eclesiásticos e nem mesmo o apoio do Estado, senão que apenas vivemos das doações e do espírito de sacrifício de nossos fiéis. Se o papa realmente considera uma estrutura canônica, isto abriria muitas portas para um trabalho mais extenso de nossos sacerdotes do que agora é possível. Sobretudo, podemos ajudar formando uma geração de novos sacerdotes com grande espírito de fé e zelo apostólico.


Texto completo da entrevista (em alemão) aqui.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

“Como é possível milagre fora da Igreja Católica”, pelo Cardeal Lépicier*

Prof. Carlos Nougué


«Põe-se aqui uma grave questão: pode haver milagre fora da Igreja Católica? Nossa resposta é que se pode, em verdade, sustentar a possibilidade e até a existência de verdadeiros milagres fora da religião católica. Isso não pode dar-se por uma lei ordinária, mas somente por exceção e em casos isolados, e jamais fora do fim que distingue a verdadeira religião de Jesus Cristo. Por isso dizemos que o milagre pode dar-se fora do corpo desta religião, mas não fora de sua alma. Como fato sistemático, que constitui, por assim dizer, um sistema, um todo harmonioso governado por princípios invariáveis e por uma lei fixa, o milagre existe somente na religião que se intitula universal ou católica, porque fundada pela Causa Primeira que reuniu tudo, e em favor da qual foram operados os milagres mesmos da antiga lei.

Em verdade, pode admitir-se que, de maneira excepcional, e em casos isolados, o milagre se dê fora do corpo da religião católica, sendo livre o Espírito Santo para escolher seus instrumentos por onde quer que queira. Isso não deve constituir nenhuma dificuldade, sobretudo se o taumaturgo é um homem de vida santa e não busca outra coisa em suas obras que a honra de Deus.

Será bom, a este respeito, lembrar aqui o que lemos em São Marcos. Tendo dito a Jesus o Apóstolo João: “Mestre, vimos um homem, que não vai conosco, expulsar os demônios em vosso nome, e lho impedimos”, Nosso Senhor falou nestes termos: “Não o impeçais, pois ninguém pode fazer milagre em meu nome e logo depois falar mal de mim. Quem não é contra vós é por vós”. Isto equivale a dizer que, se algum milagre se cumpre por um homem fora do corpo da Igreja de Jesus Cristo, tal fato é necessariamente ordenado à manifestação da verdade pregada pelo Salvador, e de modo algum em favor do erro.

É neste sentido que se devem explicar os milagres atribuídos, em tempos muito próximos dos nossos, a um padre ortodoxo grego de grande piedade, chamado Ivã ou João Serguief, da principal igreja de Cronstadt. A fama de santidade deste padre era tal que, no mês de outubro de 1894, o imperador Alexandre III, morrendo, o chamou na esperança de obter por sua intercessão um alívio para seus sofrimentos.

Tais milagres, supondo-os autênticos, seriam fatos isolados, cumpridos aparentemente fora da Igreja Católica, mas lhe pertenceriam de direito, porque não tinham por objeto a confirmação de uma falsa doutrina, mas antes a recompensa de uma santidade em harmonia com os princípios proclamados precisamente pela Igreja Católica. Tais milagres teriam tido pois por fim fornecer novas provas da existência da ordem sobrenatural.

Santo Agostinho expõe luminosamente esta verdade quando, comentando precisamente o fato contado por São Marcos na passagem há pouco citada, explica que as palavras pronunciadas então por Nosso Senhor: “Quem não é contra vós é por vós”, não contradizem as referidas em São Mateus: “Quem não está comigo é contra mim”. “Nesse caso”, diz o santo Doutor de Hipona (o daquele que expulsara o demônio), “ele não era contra os discípulos, mas, ao contrário, era por eles, enquanto operava curas pelo nome de Cristo... Ele devia ser confirmado na veneração de tal nome e, portanto, não era contra Igreja, mas pela Igreja.” Lembremos ainda, aqui, o episódio tão interessante contado no livro dos Números. Dois indivíduos, Eldad e Medad, embora não tivessem ido com os outros ao tabernáculo, profetizaram todavia no campo na ausência e sem o conhecimento de Moisés. O chefe do povo de Deus, tendo-o sabido, quis que eles fossem deixados livres para profetizar.»




* * *


1) Ademais, “A generalidade dos Padres e dos teólogos admitiu a possibilidade de milagres entre os hereges”, como se lê no prestigioso DTC: 


2) Por fim, como nos escreveu um sacerdote, “o milagre da liquefação do sangue de São Genaro, que desde há 45 anos se vem produzindo no âmbito do Novus Ordo, devemos atribuí-lo agora aos demônios? Diga-se o mesmo do milagre permanente da conservação da tilma de Guadalupe. Segundo os que negam a possibilidade de milagre no âmbito da Igreja conciliar, esse tecido já deveria ter-se desfeito ‘porque Deus não pode aprovar o N.O.’. E assim com os muitos milagres permanentes na Igreja conciliar em todo o mundo” – e que de modo algum, acrescentamos, se ordenam a aprovar a Igreja conciliar no que tem de conciliar, senão que se ordenam à manifestação da verdade sobrenatural da Igreja Católica.


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* Sobre el Card. Lépicier: 

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Afirmar que ninguém fora da Igreja se salva, extraordinariamente e apesar de sua falsa religião, é herético

Professor Carlos Nougué

Afirmar que ninguém fora da Igreja se salva, extraordinariamente, é herético, porque nega o que sempre disse o Magistério infalível (como o Concílio de Trento) e a Tradição bimilenar. E isto não implica contradição com o axioma “Fora da Igreja não há salvação”, porque, ao se salvar pela graça final e eficaz, o que estava fora da Igreja entra automaticamente para a Igreja. Isto, repita-se, é extraordinário, excepcional, mas efetivo. Quem quer que tenha estudado os documentos do Magistério da Igreja o sabe. E negá-lo, repito, implica indocilidade ao Espírito Santo. Naturalmente, se alguém que está fora da Igreja se salva, salva-se apesar de sua religião: e por isso mesmo é que entra para a Igreja Católica na hora da morte. Transcrevo abaixo trechos da Resposta a uma pergunta acerca da possibilidade de milagres fora da Igreja.

«2) Em resumo, diz Santo Tomás duas coisas: uma, que os demônios podem fazer coisas que se assemelham a milagres mas não o são; outra, que Deus, pelo ministério dos anjos, podia fazer milagres entre os pagãos (ou seja, não apenas entre o povo eleito), assim como, embora ordinariamente a salvação das almas se desse entre os judeus, também se dava, extraordinariamente, entre os pagãos, como sempre disseram nossos Doutores. Santo Agostinho, por exemplo, pensava que Cícero se teria salvado, o que se provaria pelo que disse antes de morrer: “Causa causarum, miserere mei” (Causa das causas, tem misericórdia de mim).

3) Ademais, como diz o sacerdote que lhe escreveu, parece que “se encontram alguns casos de milagre entre os ortodoxos, por exemplo para testemunhar a verdade do Novo Testamento diante de um judeu” – o que de algum modo concorre para o bem da Igreja. – Aliás, todos os que se salvaram antes de Cristo (judeus ou pagãos) não o fizeram senão em ordem a Cristo, que é o eixo dos tempos. E os que extraordinariamente se salvam fora da Igreja depois de Cristo (o que é afirmado, entre outros, pelo Concílio de Trento) tornam-se da Igreja no ato mesmo em que são salvos, razão por que não há contradição com o axioma “fora da Igreja não há salvação”.

4) Mas a melhor passagem de Santo Tomás de Aquino para entender o assunto ainda me parece a da Suma Teológica, II-II, q. 178, a. 2 (“Se os maus podem fazer milagres”), ad 3: “Por isso, os maus que ensinam falsas doutrinas [ou seja, os heréticos] não poderiam jamais fazer verdadeiros milagres para confirmar seu ensinamento, embora, às vezes, possam fazê-los em nome de Cristo, que eles invocam, e pela virtude dos sacramentos que administram”. E isso, que, como dito, sempre será extraordinário, Deus não o faz senão por algum bem, ou imediatamente da Igreja, ou porque se destina a cumprir a predestinação de quem atualmente não está no seio da Igreja, ou por qualquer outra razão que esteja entre os ocultos desígnios de Deus.»

sábado, 12 de dezembro de 2015

Os pecados capitais (vícios capitais)

100. – Os pecados capitais são apetites desordenados dos quais, como de uma fonte, promanam outros pecados. Melhor se diriam vícios capitais.

Chamam-se “capitais” estes pecados não tanto pela gravidade, quanto pelo número e variedade dos pecados que deles nascem. São sete:

I. A soberba. É um desejo desordenado da própria superioridade. É pecado mortal “ex toto genero suo”, quando leva o homem ao desprezo dos Superiores e à desobediência às suas leis. É pecado venial “ex toto genere suo”, quando não chega a tanto, se bem que alimente no homem excessivo desejo de honra e distinção entre seus iguais; pode tornar-se pecado mortal pelas circunstâncias: por exemplo, se leva a desprezar gravemente o próximo; é pecado venial se leva o homem só a ofender levemente os seus iguais.

Filhas da soberba, são: a) a ambição e a presunção, que constituem pecado grave, quando levam a aceitar um emprego que não se está capaz de cumprir; b) a vanglória, que em si é pecado venial, mas pode tornar-se mortal se alguém manifesta a própria superioridade injuriando gravemente os outros, ou coloca nela o fim último de todas as suas ações, pronto a praticar qualquer ação, antes que reprimi-la. Da vanglória nascem: a) a jactância, leve em si mesma, quando alguém se jacta do bem que faz. Constitui, porém, pecado grave, quando alguém se vangloria de matéria gravemente pecaminosa (cf n. 96); b) a hipocrisia, que é simulação de virtudes que não se tem; pode constituir culpa grave, quando redunda em desprezo de Deus, ou em injustiça em relação ao próximo; c) a ostentação que visa fazer-se notar pelo fausto do qual se faz alarido ou por certas singularidades; é pecado mortal quando tem por fim a corrupção dos costumes e é causa de escândalo.

101.- II. A avareza. É o desejo desordenado dos bens da terra. É pecado venial “ex toto genere suo”, se se opõe só a liberdade; é pecado mortal “ex genere suo”, se se opõe à justiça e à caridade.

III. A luxúria. É o desejo desordenado dos prazeres sensuais.

Sobre este pecado cf. o VI Mandamento do Decálogo, n. 211 ss. (será publicado em outro momento)

102. - IV. A gula. É o desejo desordenado da comida e da bebida; é pecado venial “ex genere suo”. Pode, porém, tornar-se mortal se se chega a excessos que impossibilitem uma pessoa de cumprir seus deveres de estado, ou quando se torna causa de pecados graves. Com efeito, a gula pode levar à incontinência, à intemperança da língua, etc.

À gula se referem a intemperança no beber até à perda do uso da razão (embriaguez), a qual, se é perfeita, isto é, se chega a impedir completamente o uso da razão, é pecado mortal “ex genere suo”, se causada sem motivo suficiente.

Por graves razões, provavelmente, pode permitir-se a embriaguez, como por exemplo, para curar uma doença ou para com mais segurança submeter-se alguém a uma operação cirúrgica. Afastar a melancolia não é motivo suficiente para embriagar-se. A embriaguez que priva só parcialmente do uso da razão (imperfeita) é somente pecado venial, mas poderia tornar-se mortal pelo dano ou escândalo produzido, pela tristeza que poderia causar aos pais, etc.

Em relação ao uso de entorpecentes (morfina, cocaína, heroína, clorofórmio, etc.) valem os mesmos princípios, isto é: usados em pequenas doses por motivo suficiente, por exemplo, para acalmar os nervos, dores, etc., são lícitos. Sem motivo justo, porém, é pecado venial.

Mas tomá-los em doses tais que privem o homem do uso da razão, é pecado grave, salvo se há um motivo suficiente proporcionado; por exemplo, uma operação cirúrgica, dar alívio a um paciente, de doenças muito dolorosas, etc.

A eutanásia, ou seja, a morte indolor que alguns desejam proporcionar aos doentes incuráveis e destinados a penosas agonias, ou a todos os que são fisicamente tarados ou portadores de doenças hereditárias, é ilícita.

103. – V. Ira. É um desejo desordenado de vingança.

Pode ser má por dois motivos: a) pelo objeto, se alguém procura vingar-se de um inocente, ou se procura a vingança, não enquanto é justa, mas para satisfazer um sentimento de malevolência; é, nesse caso, pecado mortal “ex genere suo”, porque se opõe à caridade e à justiça; b) pelo modo de vingar-se, se se está demasiado exaltado exteriormente, na manifestação desta paixão, é então pecado venial, mas poderia tornar-se moral, se a tais exaltações se seguissem blasfêmias, imprecações, escândalos, etc.

É lícita a ira justa, manifestada pela indignação razoável por causa de um pecado, ou que exige a justa punição dele.

Filhas da ira, são: a indignação e o mau-humor, o endurecimento do coração, as blasfêmias, as contumélias, etc.

104. – VI. A Inveja. É o descontentamento que se sente pelo bem alheio considerado como diminuição da própria excelência. É pecado mortal “ex genere suo”, porque se opõe diretamente à caridade, a qual, quer que nos alegremos com o bem do próximo. Quanto maior o bem invejado, tanto mais grave é o pecado.

Muitas vezes se confunde a inveja com o ciúme: este consiste no amor excessivo do próprio bem acompanhado com o receio de que outros no-lo tirem. Há também diferença entre inveja e emulação. Esta é um sentimento louvável que nos leva a imitar, a igualar e se possível, superar, com meios justos, as boas qualidades do próximo.

105. – VII. A Acídia. a) Em sentido geral: é o aborrecimento das coisas espirituais pelo esforço que as acompanha.

b) Em sentido particular, é o desgosto da amizade divina por causa dos sacrifícios que esta impõe para a sua conservação.

A acídia considerada sob o primeiro aspecto torna-se pecado mortal quando por ela se viola um preceito afirmativo ou negativo. Considerada sob outro aspecto, é pecado mortal “ex toto genere suo”, porque se opõe diretamente ao amor de Deus.


Del Greco, Padre Teodoro da Torre. Teologia Moral. São Paulo: Edições Paulinas, 1959.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Aquela palavra chamada "Conservadorismo"


G. K. Chesterton * 1874 / + 1936
Tradução: Wendy Aelson Carvalho.
Publicado originalmente no The Illustrated London News, 6 Julho de 1912.
Traduzido do site chesterton.wordpress.com


Vejo que o Sr. Wells descreveu o ideal que temos eu e alguns amigos com grande senso de humor e considerável precisão, pois define-o como “uma concepção de homens vínicos [ébrios], cantores espalhafatosos, terrosos [vulgares], trabalhadores, moralistas, robustos e imundos.” Uma concepção por demais engraçada, eu acho. Mas não é deste egotismo que venho tratar, e sim de um assunto mais interessante ao público, inerente ao posterior. Aquelas palavras de Wells eu não as li no seu livro, mas num ótimo semanário, onde foram publicadas. Depois de proferi-las, o crítico não se demorou em citar Wells e resumiu-o (suponho) assim: “Não nos voltamos ao Conservadorismo, ou mesmo ao desplanificado progressismo de um Radical ou Socialista.” Veja a palavra Conservadorismo e pense – pense bem, e a Inglaterra poderá ser salva.

[…]

Ora, o que quis dizer este crítico ao me chamar “Conservador” (sua impudência confunde; pois seu artigo foi muito bom)? Reitero, o que ele quis dizer chamando-me “Conservador” e relacionando a homens ébrios, que cantam alto, vínicos, terroso, moralistas, robustos, imundos e tudo o mais? Conservadorismo, eu presumo, significa tentar conservar seu pais tal como é. Como o nosso país está nesta manhã?

Cantando aos berros? Em parte pelo fato de que o país tenha pouco sobre o que cantar, é notório que ele não canta: é notório que agora, como há bastante tempo, o inglês prefere jactar-se de não demonstrar seus sentimentos de maneira estrondosa, lírica ou simbólica.

Será que o país está vínico? Não existem vinhas desde a Idade Média; e nenhum quarentão poderia produzir o mais barato vinho que seja. E embora os subúrbios estejam cheios de embriagados e a Smart Set (muito pior), de drogados, o Sr. Wells é muito mais magnânimo e compreensivo ao sugerir que quero as pessoas naquele estilo vínico.

O país seria terroso? Obviamente que não. “Sujo” estaria muito mais enquadrado e mais justo. Toda a organização da Civilização é industrial, não agrícola; precisaríamos explodi-lo em pedaços a fim de que modelássemos um país agrícola.

É trabalhador? Sim; sem canção, sem vinho, sem a vista da Natureza: mas com certeza é trabalhador – ou melhor, sem certeza. Esta é a única coisa que nosso progresso tem lutado para “conservar”: a maldição depois da Queda. Mas mesmo aqui a frase é infeliz, pois o grande fenômeno de nosso dias é a abstenção do trabalho, aquela coisa engraçada que foi tão aclamada por certa classe como uma coisa prazerosa e agora é usado como arma por outra.

Moralista? Muito pelo contrário. Em determinadas grandes cidades e, mais ainda, nos distritos ao redor delas, as pessoas ficam cada vez mais nômades; e uma pedra a rolar não costuma nada. Pai e filho estão mais liberais um com o outro, e em diferentes maneiras (mesmo em sala de aula), do que qualquer sociedade já conhecida antes.

O país é – para usar a agradável e última antítese do Sr. Wells – robusto e imundo? Seria difícil conceber uma sociedade onde houvesse tanto saneamento e tão pouca robustez.

Isso tudo pode ser calmamente resumido no seguinte: pelo fato de eu querer algo que ainda não exista; querer transformar as pessoas silenciosas em cantoras espalhafatosas; por dever me regozijar se um país sóbrio venha a ser crescentemente ébrio; pela possibilidade de eu tornar um mundo de escravos assalariados um mundo de contratados; porque eu possivelmente fomentaria empregos saudáveis em vez de um hediondo desemprego; por querer que o povo, agora guiados por manias alheias, seja guiado por suas próprias leis e liberdades; por odiar a sujeira estabelecida e mais ainda a limpeza estabelecida; por querer, em suma, mudar quase tudo o que há. Por esses motivos, um maldito, altivo, orgulhoso, instruído, salvador do mundo, sofisticado, minucioso, animal acadêmico, um comum reformador social e escritor que, exaltado, chama-me um Conservador!

sábado, 5 de dezembro de 2015

Comentários Eleison CDXXXVIII (438) - Novus Ordo Missae - III

Por Dom Richard Williamson

Tradução: Cristoph Klug
05 de dezembro de 2015

Católicos, sejam generosos! O objetivo de Deus em ação
É salvar muitas almas fora da “Tradição”.

Se a evidência em favor dos milagres eucarísticos que teriam tido lugar dentro da Igreja Novus Ordo (ver CE 436 e 437) é tão séria como parece, segue que os católicos devem conformar suas mentes à mente de Deus e não o contrário. E os Católicos aderidos à Tradição têm uma especial necessidade de resolver o que Deus quis significar com esses milagres, porque estes fiéis da Tradição não entendem facilmente o que Ele tem podido significar quando sabem quão desagradável deve ser para Ele a Missa Novus Ordo (NOM) em si mesma.

Por muitos séculos Deus realizou tais milagres. A razão primária tem sido sempre fortalecer a fé dos Católicos em uma verdade da Fé que não é fácil de crer, mas está muito próxima ao Coração de Deus. Que no instante da Consagração do pão e do vinho durante a Missa, Deus mesmo tome o lugar de suas substâncias, é um acontecimento tão fora do curso normal da natureza, que esta invenção do amor de Deus desejando dar-se a Si mesmo como comida e bebida para o seu rebanho possa ser prática, mas parece também inacreditável. Por isso que em devidos momentos e lugares, Deus tem operado milagres visíveis sob uma ou outra forma para ajudar às almas duvidosas a crer. Uma razão secundária para estes milagres, especialmente onde tenha havido uma ou outra profanação da Sagrada Eucaristia, é para recordar aos Católicos o tratamento sagrado e a adoração que sempre se lhes deve às humildes aparências por trás das quais Deus mesmo se esconde.

Ambas destas razões se aplicam hoje em dia quando o NOM diminuiu severamente o sentido da Presença Real, sem sempre anulá-la (ver CE 437). Quem pode negar que o rito do NOM e sua prática através da Igreja Novus Ordo, por exemplo a Comunhão de pé e na mão, tem conduzido incontáveis Católicos até a descrer na Presença Real e a incontáveis sacerdotes até a falta de devido respeito no manipular da Santa Eucaristia? Quem pode negar que ambos, o decréscimo da fé e a falta de respeito ante Ela, têm imensamente aumentado desde que o NOM foi introduzido em 1969? Humanamente falando, o assombro pode não ser que tenha havido milagres dentro do limite do NOM, mas também que tenha havido muito mais. De qualquer modo, Deus tem sabido como atuar para o melhor. 

Por outro lado, estes milagres – sempre e quando são autênticos – deixam lições para os Católicos da Tradição também, que se colocaram mais ou menos distantes do limite do Novus Ordo. A lição mais óbvia é que nem todas as Missas Novus Ordo são inválidas, nem todas as Consagrações episcopais nem todas as Ordenações sacerdotais, como os “Tradicionalistas” podem estar tentados a pensar. Isto é seguramente porque mesmo que desde os anos 1960 uma massa da grei católica tem se tornado demasiadamente mundana para merecer manter o verdadeiro rito da Missa, as ovelhas têm sem dúvida amado suficientemente a Missa para não perdê-la totalmente. O NOM pode ter sido permitido por Deus para tornar mais fácil aos Católicos para que abandonassem a Fé se eles quisessem, mas não impossível de mantê-la, sempre que o quisessem.

Por conseguinte, o NOM e a Igreja Novus Ordo como um todo são perigosos para a Fé, e os Católicos estão corretos por terem aderido à Tradição para evitar o perigo. Mas como tiveram de pôr distância entre eles e a corrente principal da Igreja, assim eles se expuseram ao perigo oposto de um isolamento condutor a um espírito sectário e até farisaico, desligado da realidade. Há verdadeiros sacramentos no Novus Ordo e verdadeiros Católicos, os quais Deus cuida, e os “Tradicionalistas” deveriam estar contentes que os há. Que seu isolamento não os faça sentir que estão obrigados a negar que não haja sequer algo católico que reste no Novus Ordo. Isso é irreal e o pêndulo da realidade oscilará de volta, como com a liderança da FSSPX, que não vê mais suficientemente a necessidade de isolar-se da Igreja neo-modernista. Não. A Tradição necessita de isolamento, mas com um espírito generoso e não isolacionista.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Dom Bernard Fellay, superior geral da FSSPX, concede entrevista exclusiva à SF News

Cliquem na opção legendas. No início, Monsenhor Lefebvre fala das boas atitudes de Roma em relação à Tradição.

Sabemos que Roma ainda não se converteu. O resultado disso é o último Sínodo.

Mons. Bernard Fellay está fazendo, desde há muitos anos, o que Mons. Marcel Lefebvre tentou até 1988, quando percebeu que as intenções das autoridades vaticanas não eram outra coisa que engolir a FSSPX, como fez com a Fraternidade São Pedro, saída da FSSPX.

A História é mestra, mas Mons. Fellay não aprendeu com a experiência daquele que conferiu seu episcopado. Rezemos. E rezemos também por Mons. Williamson e Mons. Faure, para que não caiam na tentação da "legalização".