Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Introibo Ad Altare Dei
26 de abril de 2017
Deus é o Mestre da estrutura cósmica.
Os homens contorcem-se, o Céu enche-se da mesma forma.
O padre Jean-Michel Gleize, professor de Teologia no
Seminário de Écône da Fraternidade São Pio X, escreveu dois artigos sobre
problemas candentes de hoje que lançam uma interessante luz sobre as suas
soluções. Em primeiro lugar, pode o Papa cair em heresia formal? Resposta:
talvez, porque os Papas nem sempre foram tidos como isentos de erros, como tem
sido sustentado nos últimos séculos. Em segundo lugar, o documento papal
Amoris Laetitia mostra que o Papa
Francisco caiu em heresia formal? Resposta: estritamente falando, não, mas, na
verdade, pode-se afirmá-lo, porque o neomodernismo mina a doutrina enquanto
finge sustentá-la. Esta segunda pergunta terá de esperar por outro número destes
“Comentários”, pois se o Pe. Gleize não quis ser apanhado entre o
sedevacantismo e o liberalismo, ele teve de abordar a primeira questão antes.
No primeiro e mais curto artigo, ele diz que a partir
da “Reforma” Protestante, os teólogos católicos em geral, notadamente S. Roberto
Belarmino, sustentaram que o Papa não pode cair na negação consciente e pertinaz
do dogma da Igreja, isto é, em heresia formal. Eles citam Nosso Senhor dizendo
a Pedro para confirmar seus irmãos na Fé (Lc XXII, 32), o que pressupõe que
Pedro não pode perdê-la. E eles argumentam que nunca na História da Igreja um Papa
caiu em heresia formal. Por outro lado, antes da revolução protestante, diz o Pe.
Gleize, os teólogos católicos do século XII ao XVI geralmente julgaram que um Papa
pode cair em heresia formal, e esta opinião tem continuado, embora com menos
frequência, até os tempos modernos.
Pe. Gleize conclui que especialmente em vista dos Papas
conciliares, os teólogos posteriores não provaram seu argumento. Quanto a Pedro
sempre ser protegido por Nosso Senhor da heresia formal, a fé é um ato da mente
impulsionado pelo livre-arbítrio, e Deus raramente interfere no livre-arbítrio.
E quanto aos Papas na História, Honório, por exemplo, foi anatematizado por
seus sucessores por ter favorecido a heresia monotelita. Esta conclusão é
certamente discutível e contestada, mas se olharmos a questão da perspectiva
histórica das Sete Idades da Igreja, faz sentido.
Por três Idades (Apóstolos 33-70, Mártires 70-312, e
Doutores 312 a cerca de 500 d. C.), a Igreja rumou para a Quarta Idade, o
triunfo de 1000 anos da Cristandade (cerca de 500 a 1517). Mas, no final da
Idade Média o Demônio e o pecado original estavam minando a Cristandade, e os
homens lançaram-se para a Quinta Idade da Apostasia (1517-?), na qual os
cristãos que se degeneravam criaram uma forma de hipocrisia após outra
(Protestantismo, Liberalismo, Comunismo, dentre outras) para homenagear a virtude
e a civilização cristãs, mesmo quando se “libertam” a si mesmos para o último
vício, como, por exemplo, o “casamento” homossexual. Ora, Deus poderia ter
feito a Idade Média continuar para sempre, mas teria de interferir no livre-arbítrio.
Do modo como realmente aconteceu, Ele deu à Sua Igreja uma colheita especial de
santos para liderar a Contrarreforma, e durante o meio milênio seguinte obteve,
para variar a população de Seu Céu, uma colheita de santos pós-medievais. Mas
para contrariar a corrupção do homem pós-medieval, Deus escolheu reforçar a
autoridade em Sua Igreja, para que as almas que desejassem a salvação, mas
não mais suficientemente pela virtude interior, pudessem pelo menos ser guiadas
pela autoridade exterior ao Céu. Então, é claro, o Demônio preparou-se para
trabalhar especialmente nos homens da Igreja em altas posições de autoridade, e
depois de quase meio milênio é como se o Senhor Deus dissesse: “Se vocês não
querem Minha Igreja, então tenham sua própria Nova Igreja”, e isso foi o Vaticano
II.
Portanto, agora a autoridade da Igreja está destruída
além de toda possibilidade de reparação humana, e Ele usará outros meios para
arrancar do nosso mundo espiritualmente esgotado outra colheita de almas. Um
Castigo assegurará o brilho inicial da Igreja da Sexta Idade, mas o Demônio e o
pecado original terão uma natureza humana em que trabalhar, que foi
enfraquecida profundamente pelo liberalismo da Quinta Idade, de modo que não
deve demorar muito para introduzir a Sétima Idade do Anticristo. Mas esta será
uma Idade de alguns dos maiores católicos de toda a História da Igreja – uma
colheita de santos especialmente grandes.
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