Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Comentários Eleison CCLXXII (272) - Sarto, Siri?

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Borboletas ao Luar

29 de setembro de 2012


      Em um sermão para a Festa de São Pio X eu me vi pronunciando «quase uma heresia»: me perguntava em voz alta se Giuseppe Sarto teria desobedecido a destruição da Igreja de Paulo VI se, ao invés de morrer como o Papa Pio X em 1914, ele tivesse morrido como um cardeal em, digamos, 1974. Dentro da Fraternidade São Pio X isso deve soar como uma heresia, porque como a sabedoria do patrono celeste da FSSPX pode ser de algum modo falha? No entanto, a questão não é supérflua.

      Em 1970 o Arcebispo Lefebvre fez visitas pessoais a alguns dos melhores cardeais e bispos da Igreja, na esperança de persuadir um mero punhado deles a oferecer resistência pública à revolução do Vaticano II. Ele costumava dizer que apenas meia dúzia de bispos resistindo juntos poderia ter obstruído seriamente a devastação Conciliar da Igreja. Infelizmente, nem mesmo a preferência de Pio XII por seu sucessor, o Cardeal Siri de Gênova, viria a ter promovido uma ação pública contra o Establishment da Igreja. Finalmente, o Bispo de Castro Mayer deu um passo à frente, mas só na década de 1980, quando a Revolução Conciliar já estava bem instalada no topo da Igreja.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Elenco dos Comentários Eleison

Listam-se abaixo os Comentários Eleison publicados no blogue até hoje:

Comentários Eleison LXXXIV (84) - Harmonias Heroicas

Comentários Eleison CXII (112) - A Conversão da Rússia



Comentários Eleison CCCXLIII (343) - A Infalibilidade da Igreja I









Comentários Eleison CCCXCVIII (398) - Sinal Encorajador


Comentários Eleison LXXXIV (84) - Harmonias Heroicas


Por Dom Richard N. Williamson


07 de fevereiro de 2009



O heroísmo figurou no primeiro movimento da Terceira Sinfonia de Beethoven inspirado pela ideia de heróis católicos que fazem a guerra pela Igreja.


      Pouco antes do clamor da mídia nas últimas duas semanas, um querido amigo me pediu para escrever sobre qualquer música que me apraze especialmente. Teria de ser uma peça de Beethoven (1770-1827). Então eu poderia destacar o primeiro movimento de sua Terceira Sinfonia, conhecida como "Eroica", ou Sinfonia Heroica.

      Em efeito toda a sinfonia é heroica. É o retrato musical de um herói, originalmente Napoleão, até que Beethoven soube, do Primeiro Cônsul da República Francesa, que ele se transformara num Imperador ao velho estilo do Império Francês, após o qual Beethoven arrancou a página de dedicação a Napoleão e dedicou a Sinfonia simplesmente a um herói. Mas a música permaneceu inalterada: a expressão revolucionária das ardentes esperanças de Beethoven para uma nova era heroica do gênero humano a emergir de uma cansada velha ordem de reis e cardeais.

      E todavia, foi a velha ordem, tal como expressa Haydn (1732-1809) e Mozart (1756-1791) em particular, que deu a Beethoven as estruturas musicais dentro das quais moldaram e contiveram suas novas emoções dramáticas. O primeiro movimento da "Eroica" foi sem precedentes para o mesmo período de Beethoven - mais de 600 bares, com duração em qualquer lugar em torno de quinze minutos. No entanto, da primeira à última batuta, a variedade da riqueza e a força dinâmica das ideias musicais devem sua estreita unidade e controle total à forma sonata clássica que Beethoven herdara do século XVIII: Exposição, Desenvolvimento e Recapitulação (ABA), com um Coda Poderoso o suficiente (inovação de Beethoven) para equilibrar o Desenvolvimento (ABAC).

      Entrando em ação com dois acordes de Mi bemol maior, o herói avança com seu tema principal, o primeiro assunto, construído solidamente fora desse acorde. O tema verte sobre a guerra. Uma valente nova apresentação precede várias novas ideias de diversos ritmos, chaves e estados da alma até momentos de calma vêm com o classicamente mais tranquilo segundo assunto. Mas a guerra volta logo, com ritmos inusitados e violenta luta, culminando em seis martelares de cordas em dois tempos que cortam os três tempos do movimento. Alguns traços vigorosos concluem a Exposição.

      Transtornos e calma alternam-se para o restante do movimento. Notável no desenvolvimento é a mais tremenda agitação de todas, culminando em uma tríplice discordância de Fá maior com Mi natural nos metais, de cuja boca do leão flui o mel de uma nova melodia lírica, mas ainda a passos largos! Notável no Coda é a repetição quádrupla do triunfante tema principal do herói, culminando com lógica inexorável em um resplendor de glória.

      Senhor, concede-nos heróis da Fé, heróis tenros e valorosos, heróis da Igreja!

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Comentários Eleison DXLIX (549) - Sobrevivência na Prisão

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Borboletas ao Luar

20 de janeiro de 2018


      O inferno globalista vindoiro desperta-lhe temor?  
      Construa bem, e preencha com Deus seu castelo interior.

      Alexander Solzhenitsyn (1918-2008) é um dos poucos escritores do século XX verdadeiramente proeminentes por não ser ele ateu, pois se voltou para Deus graças a seus sofrimentos sob a tirania totalitária da Rússia comunista, que durou de 1917 até 1989. Sua principal obra é o Arquipélago Gulag, em três volumes, nos quais ele descreve extensivamente sua própria experiência de ter vivido de 1945 a 1953 dentro do arquipélago comunista de campos de prisioneiros espalhados por toda a Rússia. Ele sobreviveu à experiência, e seus escritos incluem sugestões ou conselhos válidos de como sobreviver em prisões totalitárias modernas. Ouve-se dizer que os globalistas já construíram prisões em todos os Estados Unidos para calar os inimigos do estado globalista, que seguramente incluirão cristãos convictos. A seguinte receita em sete tópicos para a sobrevivência foi extraída do Arquipélago Gulag e apresentada recentemente na França:

      * No interrogatório preliminar, não tente enganar ou iludir os interrogadores quando, durante uma semana, você recebeu o mínimo de alimentos e de sono o suficiente para sobreviver. Em vez disso, banque o idiota do início ao fim, dizendo, por exemplo, "eu não sei", "não consigo lembrar". Em qualquer caso, não se engane, são os interrogadores que escrevem o interrogatório – o Partido é a consciência deles, e eles não querem perder seus empregos.

      * Uma vez dentro da prisão, pratique qualquer tipo de atividade mental de modo suficientemente intenso para que nenhum tipo de sofrimento seja capaz de desequilibrar sua mente.

      * Coloque em sua cabeça, o mais rápido possível, que sua vida anterior acabou, e inclusive a sua própria vida. Uma vez que não tiver mais nada a perder e estiver convencido disto, que você tiver tomado uma decisão que cumprirá a qualquer custo e seguirá fielmente qualquer linha de ação que tiver traçado, então você não terá mais medo, encontrará automaticamente as respostas certas e o modo de dá-las, e eles não terão mais poder sobre você, que se tiver de morrer, fará isto com dignidade e consciência tranquila. Aqui está a força moral que eles temem e que eles fazem tudo o que podem para romper, por exemplo, levantando falsas esperanças de receber um perdão.

      * Não possua nada, seja separado de tudo, e você terá a calma e a liberdade mental para julgar serenamente as pessoas e as circunstâncias. Confie somente em sua memória para recordar tudo o que conhece do homem e da natureza humana.

      * Desista de qualquer desejo de organizar sua própria vida, a fim de preservar sua paz mental.

      * Não acredite em ninguém, desconfie de todos: dentro do gulag, ninguém faz algo por nada.

      * Finalmente, fique perto de companheiros de prisão decentes contra os criminosos e os informantes, fazendo justiça com suas próprias mãos se necessário. Pois, de fato, uma das descobertas mais notáveis em sua jornada através desta cena do Inferno é que seus piores inimigos não são os guardas da prisão, mas ... seus companheiros de prisão. A lei desta selva é, hoje é você que chuta o balde, amanhã é a minha vez. Tudo o que você pode fazer é atacar em primeiro lugar, mesmo se você for esfaqueado em troca... em breve, faça-se respeitar se você não quiser ser explorado.

      Quanto ao uso da força física pela autodefesa, a Igreja ensina que deve ser proporcional à ameaça de ataque. Mas o ponto principal de Solzhenitsyn é a renúncia a toda esperança terrena, o desapego de todos os bens, a calma da mente, a paz da consciência; resumindo, a força moral interior que transfere o medo de si para os adversários. Aqui os católicos são universalmente reconhecidos como vitoriosos, que têm uma vida de oração com a qual vivem perto de Deus. "Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé" (I Jo 5, 4).


      Kyrie eleison.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Voz de Fátima, Voz de Deus - nº 47

20 de janeiro de 2018


“Vox túrturis audita est in terra nostra”     
(Cant. II, 12)

Voltando ao assunto do artigo de Olavo de Carvalho na revista Verbum (números 1 e 2 de julho e novembro de 2016), recordemos algumas verdades.

Religião: só há uma verdadeira, a católica. Os milagres de Nosso Senhor, a sua doutrina e a realização das profecias a seu respeito e a respeito da Igreja o provam.

Infiéis: são os que não creem na Revelação. São os pagãos. Eles rejeitam a fé católica que nunca possuíram.

Judeus: são os que rejeitam o que em figura (Antigo Testamento) seus pais haviam crido. Abraão, Isaac e Jacó, assim como todos os santos do Antigo Testamento, creram em Nosso Senhor Jesus Cristo, o Messias, e pertencem à Igreja Católica triunfante. Os judeus de hoje (judeus enquanto religião) não creem em Nosso Senhor Jesus Cristo nem pertencem à Igreja.

Hereges: são os que dão seu assentimento à doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas escolhem ou rejeitam nesta doutrina o que lhes é sugerido pela sua própria mente. Exemplo: Lutero.

Apóstatas: são os que abandonam a fé e a Igreja. Exemplo: René Guénon.

Gnósticos: aqueles que creem não em Deus – ou seja, não creem nem no que Deus revelou nem no Deus que revela -, mas no demônio (como Adão e Eva fizeram) e lhe prestam culto de uma maneira ou de outra. Em outras palavras, são os que dão fé ao que o demônio diz e não ao que Deus diz.

Ecumenismo: tal como o ensina a Igreja conciliar, é uma verdadeira heresia, que consiste em dizer que se pode salvar em e por qualquer religião. Exemplo: João Paulo II.

União transcendental das religiões: não há união transcendental das religiões. Uma religião é verdadeira ou falsa. Que união pode haver entre Cristo e Belial, entre a luz e as trevas?

Metafísica: para a verdadeira filosofia, é o estudo do “ser enquanto ser”. Alguns preferem dizer “do ente enquanto ente”, que traduz melhor o termo latino “ens”. A Metafísica estuda Deus tanto quanto Ele pode ser conhecido pelas simples forças da razão natural.

Para Guénon, Metafísica é outra coisa. Para Schuon também. Olavo diz que segue Guénon e Schuon no uso deste termo (Cf. Verbum, nº 1, pág. 41).

“La ‘metafísica’ hindú es para él (Guénon) un gnosticismo perfecto y absoluto, pues termina en el panteísmo (incluso si Guénon no cita jamás la palabra gnosis, emplea sin embargo el término sánscrito ‘jnána’, que es el equivalente, y prefiere usar el término ‘metafísica’, que ‘guenonianamente’ significa ‘conocimiento’ o… gnosis).” (Pe. Curzio Nitoglia – Jesus Christus – nº 67, página 24.)

Continuaremos o assunto se Deus quiser. Que sua graça nos assista.



+ Tomás de Aquino OSB




U.I.O.G.D

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Recomendações sobre as boas leituras

      “Por conseguinte, em geral, julgue-se que devem se evitar todos os livros e escritos, ainda que estes sejam folhas ou periódicos pequenos, nos quais são louvados com epítetos honoríficos os inimigos da Igreja e os aborrecedores da liberdade cristã; igualmente os escritos que cheiram a superstição ou paganismo; os que destroem a fama dos próximos, principalmente dos eclesiásticos e príncipes, e são contrários aos bons costumes e à disciplina cristã; os que estão contra a liberdade, imunidade e jurisdição eclesiástica; os que contém exemplos e sentenças, narrações ou ficções que ferem e violam os ritos eclesiásticos; e principalmente os que propagam o que se chama o volterianismo, ou o desprezo ou irrisão, ou ao menos o indiferentismo pelo que se refere à religião e à inteireza dos costumes” (Concílio Plenário da América Latina, art. 130).

      Não esqueçamos do critério e norma interior de Santo Inácio de Loyola. Para proscrever um livro de Erasmo não precisou de outra coisa que notar que se lhe diminuía a devoção com sua leitura. Se, pois, não só lhe diminui ao leitor a devoção, senão que vai se aficionado ao mundo, perdendo o horror ao pecado, à desonestidade, vendo-a como coisa inevitável; tendo ao duelo por ato nobre, ao suicídio por obra de grande valor; vai se decaindo em seu ânimo o respeito e amor à Igreja e aos seus ministros; se começa a vacilar em seu entendimento as ideias mais assentadas; se seu critério, até agora católico, se quebra; se sua fé e simples adaptação ao dogma, aos costumes antigos e tradicionais se ressentem, que mais sinais quer para conhecer a maldade de tais leituras?

      Além disso, tenha-se em conta estas reflexões:
     

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Comentários Eleison DXLVIII (548) - A Fé é Crucial - II

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Leticia Fantin


Deus está sempre ali, ainda que para nós seja invisível,
Somente se um homem crer n’Ele, compartilhar Seu Céu lhe será possível.



Sua Excelência,

            Conversando com um sacerdote de indulto (que diz a verdadeira Missa, mas obedece aos oficiais da Igreja em Roma), fiquei confuso sobre Dom Lefebvre e a posição que ele tomou em defesa da Fé. Eu acreditava que ele estava certo, mas agora já não tenho tanta certeza. Eis aqui alguns dos argumentos do sacerdote:

1 O Arcebispo desobedeceu Roma. Isto prova que ele era orgulhoso.
2 Tivesse ele desistido de sua Fraternidade e seminários para obedecer Roma, isto teria sido heroico.
3 Se ele desobedeceu Roma para salvar a Tradição, ele fez o mal para alcançar o bem, o que é errado.
4 Obedecer a um papa tão mal orientado quanto o Papa Francisco é um martírio pelo qual se imita a Cristo.
5 Dom Fellay entrar na jaula dos leões romanos é, em termos espirituais, heroico.


Prezado Senhor,

            Em tempos sãos a Igreja Católica dá às almas uma direção clara sobre o que é verdadeiro ou falso, certo ou errado, e o senhor não estaria confuso. Mas desde o Concílio Vaticano II (1962-1965) estes não têm sido tempos sãos, porque os próprios clérigos romanos naquele Concílio abandonaram a verdadeira religião católica de Deus e adotaram uma falsa religião feita pelo homem, à qual podemos chamar conciliarismo. Assim, a partir dos anos 60 os católicos tornaram-se confusos de alto a baixo na Igreja por tentarem ir em duas direções ao mesmo tempo. Por exemplo, este sacerdote de indulto diz a Missa da verdadeira religião, enquanto pretende obedecer aos romanos subordinados à falsa religião. Não admira que o senhor esteja confuso após ouvi-lo. E continuará confuso até que compreenda completamente a diferença entre a verdadeira religião de Deus e o conciliarismo dos homens – talvez Deus queira que faça mais dever de casa!

Um católico é um católico pela Fé na qual acredita, pelos sacramentos que recebe e pela hierarquia à qual obedece. Mas ele é primeiramente católico pela Fé, sem a qual não se interessaria pelos sacramentos e hierarquia católicos. Portanto, a Fé católica é fundamental para um católico, e foi esta Fé que os oficiais romanos abandonaram no Vaticano II para saírem da sintonia com Deus e entrarem na sintonia com o homem moderno. Assim, o conciliarismo é fundamentalmente diferente do catolicismo, e cria um ponto de vista extremamente diferente sobre o que considera orgulho, heroísmo, obediência, e assim por diante. O ponto de vista católico é verdadeiro, o ponto de vista conciliar é falso. Agora, vamos aos argumentos do sacerdote de indulto:

1 O Arcebispo não era orgulhoso, pois estava defendendo a verdade de Deus e colocando-O antes dos homens. Em contrapartida, hereges como Lutero e os conciliaristas são orgulhosos por desafiarem a Deus para agradar aos homens.
2 Ele foi heroico por não ceder a Roma, e por resistir a ela, para colocar Deus em primeiro lugar.
3 Quando fez o que fez para salvar a Tradição, ele não estava fazendo um mal, mas um bem para alcançar um bem.
4 O martírio católico consiste em sofrer o mal e a morte não por qualquer causa, mas somente pela verdadeira Fé católica. O Arcebispo sofreu um verdadeiro martírio por não ceder aos Papas que erravam, e por fazer tudo o que pôde para que eles enxergassem como estavam abandonando a Fé verdadeira.
5 Em contrapartida, seus sucessores vêm pelo menos desde o ano 2000 fazendo tudo o que podem para colocar a Fraternidade do Arcebispo sob o controle dos romanos conciliares, não sendo, portanto, de modo algum heroicos, porque estão colocando os homens antes de Deus. Tampouco são mártires ou verdadeiros imitadores de Cristo. São, na verdade, orgulhosos.

Prezado senhor, espero que agora possa ver que tudo na Igreja deve, em última análise, ser julgado à luz da Verdade e da Fé. Isto porque a fé de um homem ou a falta dela é sua atitude básica para com Deus. Um homem pode escolher ir para o Inferno se quiser, mas se ele quer ir para o único Céu verdadeiro do único Deus verdadeiro, então deve começar acreditando n’Ele, de acordo com a verdadeira Fé.

Kyrie eleison.



Retirado de: Borboletas ao Luar

domingo, 14 de janeiro de 2018

Voz de Fátima, Voz de Deus - Nº 46

13 de janeiro de 2018
Mosteiro da Santa Cruz



“Vox túrturis audita est in terra nostra”
(Cant. II, 12)


Conversando com um professor universitário a respeito do artigo de Olavo de Carvalho publicado na revista Verbum números 1 e 2 de julho e novembro de 2016, abordamos a seguinte questão: este artigo exprime apenas o pensamento de René Guénon e de Schuon  ou também o do autor do artigo? Que haja críticas do pensamento de Guénon ao longo do artigo é evidente. O artigo, cujo título é “As Garras da Esfinge”, com subtítulo: “René Guénon e a Islamização do Ocidente”, revela este projeto de Guénon de islamizar o Ocidente. Mas aí se encontram também várias ideias do Olavo, o que é normal. Nenhum pensador escreve um longo artigo sem dizer nada do que ele mesmo pensa. E o que pensa Olavo de Carvalho?

Para melhor examinar esta questão, pedi ajuda ao Rev. Pe. Joaquim FBMV. Procurei também ler o que já foi escrito sobre Guénon e sobre Schuon, além de ler atentamente o artigo citado. A que conclusão cheguei?

A conclusão é que Olavo de Carvalho, apesar de criticar Guénon e Schuon, conserva algumas de suas ideias. São estas ideias que é preciso analisar.

No artigo de Verbum nº 1, página 41, ele escreve: “Que as tradições materialmente diferentes convergem na direção de um mesmo conjunto de princípios metafísicos é algo que não se pode mais colocar seriamente em dúvida. A tese da ‘Unidade Transcendental das Religiões’ é vitoriosa sob todos os aspectos.”

Esta passagem não é uma citação nem de Guénon nem de Schuon. Ela é um juízo feito por Olavo de Carvalho. Este juízo é falso, pois não existe “Unidade Transcendental das Religiões”. Isto é ecumenismo e ecumenismo do Vaticano II. Religião não é uma especulação. Que alguns pagãos tenham dito alguma coisa de verdadeiro sobre Deus é uma coisa. Que as religiões pagãs participem de uma “unidade transcendental” com a religião católica é outra e é falsa. João Paulo II talvez desse razão a Olavo. Quem não lhe dá razão é a Igreja Católica. Por quê? Porque os deuses dos pagãos são demônios, diz a Sagrada Escritura. Não há, nem pode haver união entre a verdadeira religião e as falsas, sejam elas quais forem.

Esta heresia ecumênica, pois se trata de uma heresia, é causa da perda da fé de milhões de católicos e, em consequência, da perda eterna de suas almas.

Que nossos fiéis estudem a doutrina Católica nas encíclicas dos Papas de antes do Concílio Vaticano II, o qual foi o maior desastre da história da Igreja desde a sua fundação, como diz Dom Lefebvre. O ecumenismo conciliar, assim como a tese desta unidade transcendental das religiões procedem do mesmo erro e da mesma recusa de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua única Igreja, fora da qual não há salvação.

Com a graça de Deus, esperamos voltar ao assunto.




+ Tomás de Aquino OSB




U.I.O.G.D

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Comentários Eleison DXLVII (547) - FSSPX, 2018?

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Introibo ad Altare Dei

06 de janeiro de 2018


      São Paulo exige “doutrina e piedade”,
      Católicos! Leiam e rezem, ou vocês cairão.


      À medida que o mundo mergulha num declive, mais e mais pessoas estão abrindo os olhos e se perguntando onde isto terá fim. Como a Igreja Católica é conduzida decididamente em declive por um Papa que parece que tenta somente apagar os últimos vestígios da Igreja pré-conciliar, cada vez mais católicos estão abrindo os olhos e sendo levados a pensar se o Concílio (1962-1965) não teria sido um tipo de problema para a verdadeira Igreja Católica. Então eles olham para a Fraternidade São Pio X, porque foi fundada em 1970 pelo Arcebispo Lefebvre precisamente para garantir a continuidade da Igreja pré-conciliar; e o que encontram? Um grupo de sacerdotes cada vez mais solidários com a Igreja pós-conciliar, cada vez menos claros sobre o Vaticano II, e deslizando nos braços dos romanos conciliares. Resultado? Muitas dessas almas que procuram a Verdade estão mais confusas do que nunca. Então, para onde se dirigem a Igreja e a Fraternidade São Pio X em 2018?

      As almas que procuram a Verdade devem ler (por exemplo, O Reno se Lança no Tibre, de Ralph Wiltgen, ou Carta Aberta aos Católicos Perplexos, de Dom Lefebvre). Foi assim que muitos católicos descobriram seu caminho, nos anos de 1970 e nos de 1980, em direção ao movimento tradicional, onde encontraram novamente a verdadeira Igreja que eles sabiam que haviam perdido depois da “renovação” do Concílio. E em Dom Lefebvre (1905-1991) eles encontraram um líder com uma visão clara e católica do que aconteceu no Concílio – que ocorreu sob a pressão do mundo moderno para conformar-se ao mundo, enquanto que desde o início da Igreja até o século XX foi sempre a Igreja quem pressionou o mundo para conformar-se com Deus. Nesta perspectiva, o Vaticano II representou uma convulsão, uma reviravolta sem precedentes em toda a história da Igreja, mas os Padres do Concílio estavam quase todos meio deslumbrados com o mundo moderno. Foi essa convulsão que estabeleceu o curso da Igreja oficial do Concílio até hoje. E dado que os inimigos de Deus e do homem estavam por trás do mundo moderno e por trás do Vaticano II, e uma vez que, por um justo castigo de Deus, eles estão agora profundamente enraizados nos escritórios do Vaticano, então, em 2018, sem que um milagre ou que eventos graves intervenham, a Igreja oficial continuará sua queda em declive.

      E a Fraternidade São Pio X em 2018? No início de julho, no prazo de seis meses, a FSSPX realiza suas eleições para aqueles que devem ser nos próximos doze anos seus três superiores, o Superior Geral e seus dois Assistentes. Se os quarenta principais sacerdotes da Fraternidade que votarem nessas eleições desejam dar continuidade ao deslizamento da Fraternidade para os braços da Roma Conciliar, ou seja, a Igreja oficial, então, sem dúvida eles votarão para que o Bispo Fellay seja Superior Geral, a fim de que ele possa terminar o trabalho de substituir a visão clara do Arcebispo sobre a necessidade de resistir ao Vaticano II com sua confusa visão de misturar a Tradição Católica com o Vaticano II, que é como misturar o fogo com a água. Pois assim como Paulo VI (1963-1978) sonhou em salvar a Igreja e o mundo moderno, misturando-os no Vaticano II, e quase destruiu a vida da Igreja por seu sonho tirânico, assim o Bispo Fellay neutraliza a vida da Fraternidade ao impor sobre ela o seu sonho paralelo de salvar a Tradição e o Concílio em uma reconciliação messiânica de sua própria imaginação. A visão dele é bastante diferente da do Arcebispo. Então, como os 40 sacerdotes votarão? De seu voto depende a forma como a Fraternidade se desenvolverá em 2018, pelo menos a partir de julho.

      No entanto, havia um motivo para o Vaticano II, e esse era o abismo cada vez maior entre a verdadeira Igreja de Deus e o homem moderno. A tensão de mantê-los juntos tornou-se insuportável, e os padres do Concílio cederam. O Arcebispo Lefebvre manteve sua posição católica e fundou a Fraternidade, mas seus sucessores na liderança desta, por sua vez, cederam sob a mesma pressão. O mundo sem Deus de hoje rodeia-nos a todos, e seus encantos de sereia são altamente sedutores. Os católicos devem “vigiar e orar” – eles precisam ler e continuar lendo, e devem ter uma forte vida de oração para se unirem a Deus – os Quinze Mistérios do Santo Rosário, todos os dias.

      Kyrie eleison.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Voz de Fátima, Voz de Deus - Nº 44

30 de dezembro de 2017

“Vox túrturis audita est in terra nostra”

(Cant. II, 12)

  

Por mais que a vida contemplativa afaste os monges da atualidade, a atualidade não se afasta dos monges.

Neste final de dezembro, recebemos, entre outras, a visita de Dom Williamson, Dom Faure, Padre Tarcísio Ferreira da Costa (da Fraternidade São Pio X), Professor Marcos Paulo, Noel Neder (admiradores de certos escritos e aulas do Prof. Olavo de Carvalho).

A Dom Williamson pedimos o retiro anual e a ordenação do Pe. Rodrigo da Silva; ao Padre Tarcísio permitimos celebrar a missa em nossa Capela São Miguel; do Prof. Marcos Paulo ouvimos conferências.

Quem olha de fora pode pensar: Resistência, Dom Fellay, admiração por certas posições de Olavo de Carvalho; eis o ecumenismo de bom tom do Mosteiro da Santa Cruz.

Quem aprofunda a questão verá que ela é mais sutil, pois se honramos todos os nossos visitantes (honrar todos os homens, diz a Regra de São Bento), a atitude em relação a cada um é distinta.

De Dom Williamson recebemos o depósito da Fé, a doutrina dos Papas que condenaram o Liberalismo. Ao Pe. Tarcísio, meu sobrinho, cedemos a capela e escutamos a exposição das razões deste jovem sacerdote, ordenado há poucos dias, que deseja guardar fidelidade a Dom Lefebvre. Admiramos sua retidão. Lamentamos sua inexperiência. Rezamos pela sua perseverança. Quanto aos admiradores de alguns escritos e aulas do Prof. Olavo de Carvalho, expusemos-lhes nossas graves reservas e tomamos mais consciência de que, por mais que a vida contemplativa nos afaste da atualidade, o apostolado e, mais ainda, o episcopado nos obriga a tratar das questões atuais sejam elas religiosas ou políticas, pois, no fundo, tudo na vida humana depende essencialmente da relação do homem com Deus. Até a economia, diz Pio XI, não escapa à solicitude da Igreja.

Tentaremos, com o auxílio da graça, voltar a estes assuntos na esperança de que alguns encontrem em nossos escritos um eco fiel do ensinamento do Verbo que se fez carne e habitou entre nós para ensinar-nos a verdade. Veritatem Dilexisti.

  

+ Tomás de Aquino OSB






U.I.O.G.D

Comentários Eleison DXLVI (546) - Importância da Cultura II

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Borboletas ao Luar

30 de dezembro de 2017


A cultura superior pode vir de Deus somente.
Por ter a Ele renunciado, no lixo deve chafurdar o Ocidente.


Voltemos ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao senso comum politicamente incorreto sobre a noção de "cultura", que ele está tomando em seu sentido mais amplo, mas real, como os valores, as normas e o modo de vida dos diferentes povos em nível nacional e internacional. Os inimigos do homem e de Deus desejam homogeneizar todas as nações em um mundo global com o qual será muito mais fácil para o Anticristo dominar na tirania mundial com a qual sonham. O Deus Todo-Poderoso, pelo contrário, estabelece uma variedade surpreendente ao longo de Sua Criação, porque a variedade ordenada de criaturas reflete melhor a Sua própria plenitude de ser. Mas qualquer variedade ordenada significa um alto e um baixo, ou seja, desigualdade. É por isso que seus inimigos desejam nivelar tudo em nome da igualdade – "Liberdade, Igualdade, Fraternidade", por exemplo. Os católicos, pelo contrário, devem desejar que todas as criaturas sejam tão variadas e tão desiguais quanto o Criador quis que elas fossem. Putin está neste sentido do lado do Deus Todo-Poderoso.

Veja aqui a conversa que ele teve com um grupo internacional de jovens que participaram do 19º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, realizado em Sochi, na Rússia, em outubro passado: http://​en.​kremlin.​ru/​events/​president/​news/​55842.

A Índia, nossa vizinha à esquerda, tem uma população de 1,2 bilhão, e a China tem uma população de 1,5 bilhão. Quanto aos Estados Unidos, continua recebendo cada vez mais imigrantes; e, em minha opinião, a população de cristãos brancos lá tornou-se recentemente uma minoria: menos de 50% da população total. O que quero dizer é que o mundo atravessa mudanças dramáticas e globais. Não estou dizendo que isso é bom ou ruim, apenas que as mudanças globais estão ocorrendo.

Vocês disseram que a Rússia é um vasto território – de fato. Mas da sua fronteira ocidental à sua fronteira oriental, é um espaço eurasiano. No que diz respeito à cultura, mesmo a linguagem, o grupo linguístico e a história, é, sem dúvida, um espaço europeu na medida em que é habitado por pessoas da cultura europeia. Digo isto porque é o que temos para preservar se quisermos continuar a ser um centro significativo no mundo – e não quero dizer isso no sentido militar ou em qualquer outro sentido similar. Não devemos dividir os povos de acordo com a sua etnia, e não devemos olhar para trás na história, pensando, por exemplo, na guerra entre a França e a Rússia de 1812 a 1814; em vez disso, devemos olhar para o futuro para encontrarmos formas de construir um futuro comum e seguir um caminho comum.

É assim que podemos preservar a Rússia e sua gente como um centro global significativo para as relações com os países asiáticos e com o continente americano. Se não conseguirmos preservar a Rússia, ela será dividida em associações quase nacionais de estados menores que eventualmente perderão seu significado no sentido global como centros independentes. Se preservarmos a Rússia, esta será uma grande vantagem para o desenvolvimento de toda a humanidade, porque a Rússia é uma parte importante da cultura global, e certamente tem de ser preservada.

Realmente. Uma parte importante da cultura do homem sempre foi sua literatura, suas artes visuais e sua música, porque os seres humanos de todos os tempos e em todos os lugares precisam especialmente contar histórias, exibir imagens e executar música para expressar e compartilhar o que está acontecendo dentro deles. É por isso que o teatro e o cinema, que podem combinar os três, são tão influentes, especialmente o cinema atual. Na literatura, a Rússia possui uma série de autores mundialmente famosos: Pushkin, Tolstoi, Dostoievski, Chekov, Soljenítsin, etc.; na música, Tchaikovsky, Rimsky-Korsakov, etc.; No cinema, Eisenstein e Tarkovski têm reputação internacional. Putin está certo – graças aos longos invernos e aos profundos pensadores russos, seu país tem contribuído muito para a cultura mundial, a qual é muito superior ao monte de lixo democrático que atualmente expressa o que se passa dentro dos homens.

Rezem para que Putin não seja assassinado, porque os inimigos de Deus o odeiam, e não sem razão – ele está levando seu país para a sua Consagração ao Imaculado Coração de Maria, que afastará, pelo menos por um tempo, o Anticristo. Que Ela o proteja.


Kyrie eleison.


Confira:
A Importância da Cultura - I

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Comentários Eleison DXLV (545) - Narrativa de Natal

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Borboletas ao Luar


23 de dezembro de 2017


O modo como Deus desceu aos homens faz com que nos maravilhemos.
Elevai-nos ao Céu, ó Deus, para que seus louvores entoemos!

O seguinte momento culminante de uma narrativa decerto apropriada para a época de Natal é colocado na boca da Mãe de Deus quando ela entra novamente na gruta sagrada em Belém para descrever aos amigos que a acompanham o nascimento humano de Deus, no lugar mesmo onde aconteceu. A pessoa que escreve é corajosa, e procura descrever a cena como sendo narrada pela Mãe. Nem todos os leitores destes "Comentários" concordarão que essa tentativa tenha sido bem sucedida. Não importa. Outros leitores poderão deleitar-se com a cena, que realmente aconteceu, e deve ter acontecido de maneira parecida; e para esses leitores apresentamo-la aqui:

"Maria põe-se de pé novamente e entra na gruta: "Tudo está como estava então... Só que na ocasião era noite... José acendeu uma luz quando entrei. Então, e só então ao descer do burro percebi o quão cansada e com frio estava. Um boi recebeu-nos. Eu aproximei-me dele para sentir um pouco de calor, para descansar sobre o feno... onde estou agora, José estendeu o feno para fazer-me uma cama, e ele a secou para nós dois, Jesus e eu, na pequena fogueira feita naquele canto... porque meu esposo angélico tinha por nós o amor de um verdadeiro pai... e ele e eu, segurando-nos um ao outro pelas mãos, como dois irmãos perdidos no escuro da noite, comemos nosso pão e queijo, e então ele foi lá alimentar o fogo, tirando antes seu manto para bloquear a entrada da caverna... Na verdade ele estava velando pela glória de Deus que estava por descer do Céu. Com Jesus, permaneci no feno entre o calor de dois animais, envolta no meu manto e com a manta de lã. Meu amado esposo!... Naquele momento de ânsia para mim, em que enfrentava só o mistério de dar à luz pela primeira vez, algo sempre uma vez desconhecido para qualquer mulher, mas ampliado para mim em razão da singularidade da minha maternidade, e ainda mais pela perspectiva de ver o Filho de Deus emergir da carne mortal, ele, José, foi como uma mãe para mim, como um anjo... meu consolo... ali e sempre...

"E então o silêncio e o sono vieram envolver o Homem Justo... para que ele não visse o que era para mim o abraço diário de Deus... E começaram para mim as ondas ilimitadas de êxtase, rolando de um mar paradisíaco, elevando-me novamente às cristas luminosas, cada vez mais alto, levando-me com elas para cima, mais ainda, num oceano de luz, de mais luz, paz e amor, até encontrar-me perdida no mar de Deus, do seio de Deus... Ouvi ainda uma voz vinda da terra; "Estás dormindo, Maria?" Oh, quão longe! ... Um eco simples, chamando da terra!... tão fraco que quase não toca a alma. Eu não tenho ideia de qual resposta eu lhe dou enquanto subo, e ainda estou subindo nessa imensidade de fogo, de beatitude infinita, da presciência de Deus... até Deus, o próprio Deus... Oh, foi Jesus que nasceu de mim, ou fui eu que nasci dos esplendores da Santíssima Trindade naquela noite? Eu que dei à luz Jesus, ou foi Jesus que me aspirou para a luz? Eu não faço ideia...

"E então a descida, de Coro de anjos em Coro de anjos, de camada de astros em camada de astros; uma descida tão suave e lenta, bem-aventurada e pacífica, como a de uma flor sendo carregada no alto por uma águia que depois a deixa cair, descendo lentamente nas asas do ar, embelezada por uma gema de chuva, por um fragmento de arco-íris arrebatado do céu, e que aterrissa em seu solo nativo... E minha coroa de joias: Jesus, Jesus sobre meu coração...

"Sentada aqui, depois de adorá-Lo de joelhos, eu O amava. Por fim, pude amá-Lo sem as barreiras da carne entre nós, e daqui eu me levantei para levar-lhe ao amor do Justo, que merecia como eu estar entre os primeiros a amá-Lo. E aqui, entre estes dois pilares rústicos, ofereci-O ao Pai. E aqui Ele descansou pela primeira vez sobre o coração de José... Eu balancei-O enquanto José secava o feno ao fogo e mantinha-o quente para colocá-lo no berço do bebê; e depois, ali, adoramo-Lo, curvados diante d’Ele, assim como me curvo agora, bebendo Sua respiração, contemplando até que ponto o amor de Deus pode descer para amar os homens, chorando as lágrimas que são certamente choradas no Céu pelo gozo inesgotável de ver a Deus ".


Kyrie eleison.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Comentários Eleison DXLIV (544) - A Importância da Cultura I

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Introibo ad Altare Dei

16 de dezembro de 2017


A cultura está morta quando Deus está “morto”.
A única esperança dela reside em Seu “renascimento”.


“Quando eu ouço a palavra ‘cultura’, vou buscar minha arma”, é uma famosa citação (muitas vezes atribuída a Reichsmarchall Göring, mas que vem na verdade de uma peça apresentada em Berlim no ano de 1933) que pode ser interpretada no sentido de que a cultura não é a fonte última dos valores que frequentemente se lhe atribuem. A palavra serve muitas vezes como uma folha de figueira que cubra a profunda apostasia do Ocidente com uma hipocrisia vergonhosa, mas de longa data, que pode tentar instintivamente alguns portadores de armas a dar-lhe fim violentamente. Um americano de nosso próprio tempo que percebe que a cultura depende da religião ou de sua ausência é Ron Austin, quem escreveu na edição de dezembro da Revista First Things um artigo sobre a cultura pop, argumentando que esta não é pop nem cultura.

Austin é um escritor e produtor veterano de Hollywood que passou quase meio século produzindo cultura pop, principalmente para a televisão. Ele é membro da Academia Americana de Artes e Ciências Cinematográficas, mas também membro da Escola Dominicana de Filosofia e Teologia em Berkeley, Califórnia, o que lhe dá pelo menos uma ideia da verdadeira dimensão da “cultura”. Por exemplo, no início de seu artigo, ele escreve: A chave para a compreensão da modernidade e de seu fracasso reside nos muitos esforços em vão para encontrar substitutos para a fé religiosa... Foi a mídia de massa que promoveu uma “cultura pop” que era a mais influente e poderosa substituta para uma visão de mundo significativa... A cultura pop, diz Austin, é um ídolo... como tal é um embuste... não é nem pop nem cultura.

Austin define o “pop” como sendo pertencente antes ao povo do que a uma elite qualquer. Admite que a cultura pop tem considerável apelo popular atualmente, mas diz que é de natureza sintética e industrial, que não deriva de um modo de vida natural ou orgânico, e por isso não é realmente popular. A “cultura” é difícil de definir, mas ela significa um modo de vida com valores compartilhados que tem os meios para expressá-la. A cultura, neste sentido, só pode crescer organicamente como uma árvore, com a velocidade natural que não pode ser forçada, e requer uma memória compartilhada com um sentido do passado, uma continuidade de significado, metas e padrões. Mas a “cultura pop” apaga o passado. Portanto, não é uma cultura verdadeira. A partir desta perspectiva, Austin recorda então as décadas de sua própria vida.

Nas de 50 e 60, ele lembra uma crescente alienação do passado pela qual a mídia de massa passou a desempenhar um papel crucial. Na década de 70 desabrochou uma contracultura de fragmentação e narcisismo, com mais entretenimento do que nunca, e com isso um crescente desapego da realidade. O meio em si estava tornando-se a mensagem, e a moralidade baseava-se na emoção subjetiva, que a mídia embalava como um produto com fins lucrativos. O entretenimento substituiu o pensamento e a análise. Na década de 80, a tentativa de restaurar valores passados falhou nos EUA, na Europa e na Rússia. Na década de 90, algumas falsas esperanças tiveram fim, mas a massa de consumidores estava mais fragmentada do que nunca. No entanto, na década de 2010 a Fé Católica dá a Austin alguma esperança. A verdadeira cultura depende de que os seres humanos sejam humanos, diz, e os humanos têm para si verdadeiros modelos: Nosso Senhor e Nossa Senhora. A verdadeira cultura será replantada, e a Luz retornará.

Austin está na pista do verdadeiro problema, mesmo que seu tratamento do problema e de sua solução seja relativamente raso, pois todo o ambiente atual, ou cultura, é perigosíssimo para as almas e sua salvação. Tornou-se totalmente normal crer ou não crer em Deus, ou se alguém crê n’Ele, não levá-Lo a sério. O passado tem pouco a dizer-nos (exceto com relação aos “seis milhões”). A imoralidade não tem importância. Não há algo como o respeito à ordem e à natureza. A tecnologia salva. A liberdade é tudo. E esta doença é altamente contagiosa, porque é muito “libertadora” para nós. Que o Céu nos ajude!


Kyrie eleison.


P.S.: Como um recurso menor para a cultura de elite do passado, no sentido verdadeiro da palavra, realizar-se-á em Broadstairs, da sexta-feira 23 de fevereiro ao domingo dia 25 do próximo ano, uma sessão de Mozart paralela à “Explosão de Beethoven” de dois anos atrás. Fornecer-se-ão os detalhes em breve.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Comentários Eleison DXLIII (543) - Milagres no NOM?

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Borboletas ao Luar

09 de dezembro de 2017


Os pastores humanos podem abandonar as ovelhas,
Mas Deus não o faz – a menos que elas mesmas queiram dormir.


Quando estes "Comentários" afirmaram no ano passado que em Sokulka, na Polônia, houve em 2008 um milagre eucarístico numa hóstia consagrada em uma Missa Nova (NOM), alguns católicos no mundo de língua inglesa negaram que tal coisa fosse possível. Quando se fez mesma afirmação recentemente em Paris (https://youtu.be/IgQnQhxmhH4), foi a vez de alguns tradicionalistas franceses questionarem a evidência científica aparente do milagre fornecida de forma independente naquele momento por dois laboratórios poloneses, os quais afirmaram que a amostra da hóstia em questão que lhes foi entregue veio do músculo do coração de um ser humano padecente de agudo sofrimento.

Em face de tais evidências, são possíveis duas linhas opostas de argumento. Tanto se pode argumentar sobre o veneno modernista do NOM que há impossibilidade intrínseca de Deus operar tal "milagre" no âmbito do NOM, como se pode argumentar desde a seriedade da evidência pela necessidade da possibilidade de a Nova Missa, as novas ordenações sacerdotais e as novas consagrações episcopais serem válidas (já que o Padre e o Bispo envolvidos foram ordenado e consagrado em 2005 e 1980, respectivamente). Alguns valentes tradicionalistas disputam de modo veemente as três possibilidades dentro da Neoigreja modernista.

O que é certo, pelo menos dentro da Igreja Católica, é que tais questões devem ser decididas pela doutrina e não pela emoção. A razão deve prevalecer – um exemplo: pilotar por instinto pode ser fatal para os aviadores. O que a doutrina da Igreja diz sobre a validade de um sacramento é que esta requer quatro coisas: um Ministro válido, Forma, Matéria e Intenção sacramental. O NOM pode excluir um destes requisitos ou todos eles, mas não exclui automaticamente nenhum deles. Onde todos os quatro estão presentes, a Nova Missa é válida. É por isso que Dom Lefebvre, que conhecia sua teologia, nunca afirmou que o NOM era automaticamente inválido. É por isso que o NOM celebrado em Sokulka não foi necessariamente inválido. É por isso que parece mais razoável argumentar desde a evidência do milagre do que desde a impossibilidade do "milagre" pela falsidade da evidência. Caso contrário, é necessária uma razão precisa para questionar o testemunho preciso dos patologistas.

A grande objeção permanece: como o Deus Todo Poderoso pode fazer milagres no âmbito do NOM, claramente projetado por seus criadores para envenenar gradualmente a fé dos católicos e assim destruir a Igreja Católica? A resposta deve ser que Deus não está em princípio autenticando o NOM, mas mantendo sua possível validez para não abandonar tantas ovelhas católicas que ainda assistem a ele com relativa ignorância e inocência em relação ao veneno; e, portanto, Ele está basicamente alertando as ovelhas e os pastores, para que se lembrem de que Ele mesmo está presente sob as aparências do pão e do vinho.

Quando se tem em mente a doutrina católica pela qual o NOM pode ser válido; quando se traz à memória os dizeres de São Paulo dizer segundo os quais qualquer um que participe indignamente da Sagrada Eucaristia é "réu do Corpo e do Sangue do Senhor" (I Cor. XI, 27-39); e quando se vê quão generalizada na Neoigreja é a falta de respeito pela Presença Real, então, vemos imediatamente o quão necessária para a salvação de muitas almas pode ser uma advertência como o milagre em Sokulka. O pároco mesmo dá testemunho de como aumentou o nível de fé e da prática católica em toda o entorno daquela região.

Mas o objetor insiste: como poderia Deus permitir que um tal rito envenenado da Missa seja válido?


Resposta: Ele não tira o livre arbítrio dos homens, mas permite-nos em larga escala fazermos o que queremos. Neste caso, os neomodernistas queriam (e ainda querem) um Rito da Missa que seja envenenado o suficiente para matar a verdadeira Igreja em longo prazo, mas ainda católico o suficiente para enganar, no curto prazo, católicos ignorantes e inocentes que ainda confiam no que seus pastores dizem, como, por exemplo, que o NOM é o "rito Ordinário” da Igreja. O NOM nunca teria obtido aceitação na Igreja Universal se tivesse sido óbvio desde o início que era automaticamente inválido.


Kyrie eleison.