Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

domingo, 6 de dezembro de 2015

Aquela palavra chamada "Conservadorismo"


G. K. Chesterton * 1874 / + 1936
Tradução: Wendy Aelson Carvalho.
Publicado originalmente no The Illustrated London News, 6 Julho de 1912.
Traduzido do site chesterton.wordpress.com


Vejo que o Sr. Wells descreveu o ideal que temos eu e alguns amigos com grande senso de humor e considerável precisão, pois define-o como “uma concepção de homens vínicos [ébrios], cantores espalhafatosos, terrosos [vulgares], trabalhadores, moralistas, robustos e imundos.” Uma concepção por demais engraçada, eu acho. Mas não é deste egotismo que venho tratar, e sim de um assunto mais interessante ao público, inerente ao posterior. Aquelas palavras de Wells eu não as li no seu livro, mas num ótimo semanário, onde foram publicadas. Depois de proferi-las, o crítico não se demorou em citar Wells e resumiu-o (suponho) assim: “Não nos voltamos ao Conservadorismo, ou mesmo ao desplanificado progressismo de um Radical ou Socialista.” Veja a palavra Conservadorismo e pense – pense bem, e a Inglaterra poderá ser salva.

[…]

Ora, o que quis dizer este crítico ao me chamar “Conservador” (sua impudência confunde; pois seu artigo foi muito bom)? Reitero, o que ele quis dizer chamando-me “Conservador” e relacionando a homens ébrios, que cantam alto, vínicos, terroso, moralistas, robustos, imundos e tudo o mais? Conservadorismo, eu presumo, significa tentar conservar seu pais tal como é. Como o nosso país está nesta manhã?

Cantando aos berros? Em parte pelo fato de que o país tenha pouco sobre o que cantar, é notório que ele não canta: é notório que agora, como há bastante tempo, o inglês prefere jactar-se de não demonstrar seus sentimentos de maneira estrondosa, lírica ou simbólica.

Será que o país está vínico? Não existem vinhas desde a Idade Média; e nenhum quarentão poderia produzir o mais barato vinho que seja. E embora os subúrbios estejam cheios de embriagados e a Smart Set (muito pior), de drogados, o Sr. Wells é muito mais magnânimo e compreensivo ao sugerir que quero as pessoas naquele estilo vínico.

O país seria terroso? Obviamente que não. “Sujo” estaria muito mais enquadrado e mais justo. Toda a organização da Civilização é industrial, não agrícola; precisaríamos explodi-lo em pedaços a fim de que modelássemos um país agrícola.

É trabalhador? Sim; sem canção, sem vinho, sem a vista da Natureza: mas com certeza é trabalhador – ou melhor, sem certeza. Esta é a única coisa que nosso progresso tem lutado para “conservar”: a maldição depois da Queda. Mas mesmo aqui a frase é infeliz, pois o grande fenômeno de nosso dias é a abstenção do trabalho, aquela coisa engraçada que foi tão aclamada por certa classe como uma coisa prazerosa e agora é usado como arma por outra.

Moralista? Muito pelo contrário. Em determinadas grandes cidades e, mais ainda, nos distritos ao redor delas, as pessoas ficam cada vez mais nômades; e uma pedra a rolar não costuma nada. Pai e filho estão mais liberais um com o outro, e em diferentes maneiras (mesmo em sala de aula), do que qualquer sociedade já conhecida antes.

O país é – para usar a agradável e última antítese do Sr. Wells – robusto e imundo? Seria difícil conceber uma sociedade onde houvesse tanto saneamento e tão pouca robustez.

Isso tudo pode ser calmamente resumido no seguinte: pelo fato de eu querer algo que ainda não exista; querer transformar as pessoas silenciosas em cantoras espalhafatosas; por dever me regozijar se um país sóbrio venha a ser crescentemente ébrio; pela possibilidade de eu tornar um mundo de escravos assalariados um mundo de contratados; porque eu possivelmente fomentaria empregos saudáveis em vez de um hediondo desemprego; por querer que o povo, agora guiados por manias alheias, seja guiado por suas próprias leis e liberdades; por odiar a sujeira estabelecida e mais ainda a limpeza estabelecida; por querer, em suma, mudar quase tudo o que há. Por esses motivos, um maldito, altivo, orgulhoso, instruído, salvador do mundo, sofisticado, minucioso, animal acadêmico, um comum reformador social e escritor que, exaltado, chama-me um Conservador!

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