Por Dom Richard N. Williamson
08 de abril de 2017
Os
homens orgulhosos não querem por Deus ser superados,
E
ainda assim seus pensamentos são de longe por Deus sobrepujados.
Se há um momento do
ano em que é especialmente adequado contemplar-se o sofrimento e a morte de
Nosso Senhor Jesus Cristo, esse momento é certamente hoje, na véspera do
Domingo de Ramos, pouco antes da Semana Santa. E essa contemplação veio
tornando-se mais necessária a cada ano nos últimos 50 anos, porque o sofrimento
da Madre Igreja que apareceu com o Vaticano II se tornou cada vez mais
escandaloso, cada vez mais misterioso. Todos precisamos lembrar-nos a nós
mesmos de que Deus é misterioso; em outras palavras, que Ele vai infinitamente
acima e além de nossas pequenas mentes humanas. Caso contrário, corremos o
risco de recortá-lo e diminuir-lhe o tamanho até que se encaixe nessas mentes
pequenas. "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos; nem
os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, quanto os céus estão
elevados acima da terra, assim se acham elevados os meus caminhos acima dos
vossos caminhos, e os meus pensamentos acima dos vossos pensamentos" (Is LV,
8-9).
Esta grande lição é
ensinada no quinto Mistério Gozoso do Santo Rosário, quando, aos 12 anos de
idade, Nosso Senhor se permitiu ser perdido por Sua Mãe e São José, a fim de
lembrá-los de que Ele tinha de se ocupar dos negócios de Seu Pai. Sua Mãe não
pôde entender – "Filho, por que procedeste assim conosco?" Ele
causara três dias de intensa ansiedade a seus pais humanos: "Eis que teu
pai e eu te procurávamos cheios de aflição". Nosso Senhor respondeu-lhes
como se eles tivessem ficado aflitos sem nenhuma razão – "Para que me
buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai?”. Porém, tão
intensa tinha sido a aflição de Seus pais que humanamente esta resposta não
lhes fazia sentido – "E eles não entenderam o que lhes disse”. No entanto,
Sua Mãe sabia que era melhor não fazer mais perguntas ao Filho. Em vez disso, Ela
"conservava todas estas coisas em seu coração" (Lc II, 48-51), por
ver que Deus estava certo, ainda que Ela não pudesse entender.
Para a futura cabeça
da Igreja, a Pedra sobre a qual ela seria construída, a mesma lição sobre os
caminhos de Deus que transcendem em muito os nossos precisava ser ensinada,
ainda que de modo um tanto mais rude do que à Mãe gentil de Nosso Senhor. Bastante
humanamente Pedro repreende Nosso Senhor por atrever-se a dizer aos Apóstolos
que Ele subiria a Jerusalém para sofrer e morrer. A resposta de Nosso Senhor é contundente:
"Retira-te de mim, Satanás!", Mas a explicação é essencialmente a
mesma que foi para a sua Mãe, "não tens a sabedoria das coisas de Deus,
mas das coisas dos homens" (Mt. XVI, 21-23). Pedro, que acaba de ser
nomeado Pedra da Igreja (Mt. XVI, 18-19), deve ser o último a pensar
humanamente em vez de divinamente quando passar a governar a Igreja.
Mas, é claro, Nosso
Senhor reconhece o problema dos seres humanos que pensam humanamente demais
quando se trata das coisas de Deus. É por isso que, logo após a repreensão a
Pedro, levou-o com Tiago e João até o Monte Tabor para, por meio de Sua
Transfiguração, deixar a Divindade divina brilhar dentro da natureza humana.
Assim, os Apóstolos poderiam em breve ser profundamente abalados pelo terrível
deicídio em Jerusalém, mas três deles poderiam dar testemunho do que tinham
visto com seus próprios olhos (cf. II Pedro I, 16-18), antes da Paixão, da
Divindade que brilha de dentro do homem crucificado no Calvário.
E em nossos dias? Os
católicos sabem que a vida da Igreja Católica é a continuação na terra da vida
encarnada de Cristo na terra, de modo que em princípio eles sabem que assim
como os 33 anos de Cristo terminaram com Sua Paixão e Morte, assim a Igreja
também pode terminar seu tempo na terra pelo sangramento de todas as feridas até
que seja praticamente extinta. No entanto, vê-lo na prática, ocorrendo diante dos
olhos, pode abalar a fé de muitos homens bons – "Como é possível que esses
Papas, esses Cardeais e esses Bispos sejam portadores da autoridade de Deus na
estrutura de Sua única e verdadeira Igreja?". Claro que não são, em geral,
seus portadores fiéis, mas onde mais estariam seus portadores estruturais? Paciência.
Deus ainda estava lá, sendo arrastado para o Calvário, e então Ele ainda está ali,
sendo arrastado para a Nova Ordem Mundial. Mas Ele ainda não deu a Sua última
palavra!
Kyrie eleison.
Tradução: Borboletas ao Luar
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