Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

segunda-feira, 6 de março de 2017

Raízes judaicas do cristianismo segundo Ratzinger

Já vimos (Sim Sim Não Não 15 de março de 2009, pg.1-6) a relação de Ratzinger com a Comunidade Católica de Integração (CCI) que datam de 1972. O então Cardeal Ratzinger em 1997, na introdução ao livro aqui citado na nota nº 1 escrevia; “O outro grande tema que adquire sempre mais relevo no âmbito teológico é a questão da relação entre a Igreja e Israel. A consciência de uma culpa, bastante removida, que pesa sobre a consciência cristã depois dos terríveis acontecimentos dos funestos doze anos de 1933 a 1945, é sem dúvida uma das razões primárias da urgência com a qual a questão é hoje sentida." O interesse dele pelas relações entre Igreja e Israel remonta, como ele mesmo diz, ao 1947-1948, quando estudava em Mônaco sob a direção do professor Gottieb Sönghen, de quem já tínhamos falado (Sim Sim Não Não cit.). A importância da “shoah” no desenvolvimento da sua teologia judaico-cristã é fundamental e remonta aos seus primeiros vinte anos. Onde erraríamos se quiséssemos ver na sua inclinação ao holocautismo judaico, uma novidade, devida – talvez – as pressões do lobby judaico-americanista ao explodir do “caso Williamson”.

* * *


O incipit do livro “Muitas religiões uma única aliança” é significativo: “Depois de Auschwitz a tarefa de reconciliação e acolhimento se apresentou a nós com toda sua imprescindível necessidade." Na página 14, Ratzinger cita o texto do Evangelho de São João (IV, 22): “A salvação vem dos judeus” e o aplica erroneamente na relação entre judaísmo pós-bíblico e cristianismo. Esta frase de Jesus à Samaritana perto do poço de Jacó diz respeito, ao invés, à controvérsia entre os judeus e os samaritanos sobre o Templo. Estes, na realidade, em 722 a.C. haviam feito cisma na Judeia e haviam acolhido as usanças e superstições dos povos pagãos e politeístas que lhe haviam invadido, corrompendo a pureza da Fé abraâmica ou do Antigo Testamento para dar lugar a uma falsa religião sincretista. A pergunta samaritana sobre se a verdadeira Fé era aquela do Templo de Jerusalém ou aquela dos samaritanos que adoravam sobre o monte Garizim, considerado como sagrado, celebravam os seus ritos, Jesus responde que na Antiga Aliança a verdadeira Fé é aquela dos Judeus (salux ex judaeis) que adoram Deus em Jerusalém como Deus mesmo havia prescrito no Pentateuco, mas acrescenta também que se avizinha a hora [Nova Aliança, NDA], antes é já vinda “em que se adorará Deus em espírito e verdade (com sacrifício da Missa, em todo o mundo) e então nem sobre este monte nem em Jerusalém adorareis o Pai” [cessação da Antiga Aliança]. Ora, dizer que a salvação hoje, depois do Sacrifício de Cristo, vem – como escrevia Léon Bloy – ainda dos Judeus, é objetivamente falso e contrário aquilo que revelou realmente Jesus no Evangelho de João.


Ratzinger, ao invés, depois de haver citado João IV, 22 afirma: «Esta origem [“a salvação vem dos judeus”] mantém vivo o seu valor no presente» (ivi), mesmo se depois acrescenta, contradizendo-se como é seu costume: «não é possível nenhum acesso a Jesus [...], sem a aceitação crente da revelação de Deus [...], que os cristãos chamam Antigo Testamento» (ivi). A sua frase precedente, porém, dizia que a salvação vem ainda hoje dos Judeus, e não do Antigo Testamento, o qual não é certamente o coração do judaísmo pós-bíblico, porque o Antigo Testamento é todo relativo a Cristo e então ao Novo Testamento, que os Judeus de hoje recusam obstinadamente como os seus antepassados. Infelizmente todo o pensamento de Ratzinger é uma “coincidentia oppositorum” e esta é também a essência do modernismo como a descreveu São Pio X na Pascendi (1907): “leia uma página de um livro modernista e é católica, vire a página e é racionalista." Em Ratzinger isto acontece até mesmo passando de uma frase àquela sucessiva.

A conclusão prática da teologia judaico-cristã, nascida depois da reflexão sobre a “shoah” é – segundo Ratzinger – a seguinte: «Hebreus e cristãos devem acolher-se reciprocamente em uma profunda reconciliação, sem nada tirar a sua fé e, tanto menos, sem renegá-la, mas de fato a partir do fundo desta mesma fé, na sua recíproca reconciliação, esses devem se tornar para o mundo uma força de paz, mediante o seu testemunho diante do Deus único…». Ora, como pode um cristão, que acredita na SS. Trindade e na divindade de Cristo, acolher “a partir do fundo desta mesma fé” o hebraísmo que nega terminantemente a SSma. Trindade e a divindade de Cristo? Apenas a dialética hegeliana, a coincidentia oppositorum cusano-spinoziana o permitem. Mas a reta razão, o princípio por si mesmo notável de identidade e não contradição e, além disso, a divina Revelação o negam.

* * *

Naquilo que diz respeito às relações entre a Antiga e a Nova Aliança, as coisas se complicam. De fato, Ratzinger escreve que o termo “Testamentum” (Testamento), usado pela antiga versão latina e feito por São Jerônimo com “foedus” ou “pactum” (Aliança ou Pacto), não foi uma escolha propriamente correta para traduzir a palavra hebraica berit. Os tradutores gregos da Bíblia hebraica (tradução dos Setenta) lhe fizeram, na realidade, quase sempre (267 sobre 287 passagens) não com o equivalente grego de “pacto” ou “aliança” (syn-theke), mas sim com o termo dia-theke, que quer dizer não “um acordo recíproco”, mas «uma disposição em que não são duas vontades a colocarem-se de acordo, mas onde há uma vontade que estabelece um ordenamento». Pareceria coisa de pouca conta. Ao invés Ratzinger, a partir desta distinção, chega – como veremos – a formular a teoria que a Antiga Aliança não cessou jamais: porque berit, feito como Aliança em latim, significa apenas vontade divina e não comporta a correspondência humana, Deus manteve a Aliança com Israel, mesmo se este tenha sido infiel. Ratzinger, de fato, escreve: «Aquilo que nós chamamos “Aliança”, na Bíblia, não é concebido como uma relação simétrica entre dois partner que estabelecem entre eles uma relação contratual paritética com obrigações e sanções recíprocas. [...] “a aliança não é um contrato que empenha a uma relação de reciprocidade, mas um dom, um ato criativo do amor de Deus» . E cita São Paulo (2 Cor. III, 4-18 e Gal. IV, 21-31), no qual se encontra a «contraposição mais clara entre os dois Testamentos» , enquanto, quando fala de Aliança (Hebr., XIII, 20), usa o termo de «aliança eônica, isto é eterna, com uma terminologia que retomada pelo Cânon romano [da Missa]». Ratzinger especifica que, se São Paulo na segunda carta aos Coríntios «põe em clara antítese a Aliança instaurada por Cristo e aquela de Moisés», as coisas vão diversamente entre Abraão e Cristo. De fato, «no nono capítulo da carta aos Romanos» São Paulo utiliza não mais o termo Pacto ou Testamento, mas Aliança no plural e Ratzinger comenta: «o Antigo Testamento conhece três alianças: o sábado, o arco-íris, a circuncisão [...]. A aliança com Abraão [São Paulo] a vê como uma aliança verdadeira e própria, fundamental e permanente, enquanto aquela com Moisés “sobreveio em seguida” (Rm., V, 20), 430 anos depois daquela com Abraão (Gal.3,17) e não privou inteiramente está última do seu valor». Então o Pacto ou Testamento estipulado por Deus com Moisés (1330 a. C.) é transitório e não eterno, enquanto a Aliança estipulada com Abraão (1900 a.C.) é permanente e eterna! Portanto, a Antiga Aliança com Abraão subsiste ainda, não cessou jamais. Mas – observamos – quando os judeus incrédulos afirmavam de ter por pai Abraão, Jesus responde a eles que Abraão o é apenas carnalmente, porque ele acreditava no Messias próximo, enquanto eles o queriam matar, então o seu pai espiritual é o diabo (Gv., VIII, 42) e acrescenta: ”Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; eis porque vós não lhe escutais: porque não sois de Deus” (Gv.VIII, 47). Ora, como conciliar a Revelação do Evangelho de São João com a interpretação ratzingeriana, segundo a qual Abraão seria ainda agora pai dos incrédulos hebreus pós-bíblicos, desde que a Aliança estipulada por Deus com ele é eterna? Certo, se pode responder que essa é eterna no momento em que é vivida na Fé de Abraão no Messias Jesus Cristo, onde a Aliança com Abraão continua naquela Nova e eterna, a que era destinada, e é aperfeiçoada e realizada por esta no Sangue de Cristo. Mas os hebreus pós bíblicos, que recusam Cristo Deus e a SS. Trindade, não estão em Aliança nem com Abraão nem com Deus, como afirma Jesus no Evangelho de São João. Ratzinger, porém, afirma o contrário: «com esta distinção [entre aliança abraâmica e aliança mosaica] fica menos rigorosa a contraposição entre Antiga e Nova Aliança e se explícita a unidade [...] da história da salvação, em que nas diversas alianças se realiza a única Aliança», onde o hebraísmo hodierno, apesar de incrédulo, estaria ainda em Aliança eterna com Deus através de Abraão (e não Moisés). Mas mesmo isso é falso, embora Ratzinger busque – distinguindo entre Moisés e Abraão - dar um fundamento mais sólido a teoria de João Paulo II da «Antiga Aliança jamais revogada» (Mainz, 1981).

* * *

Note-se que para Ratzinger não apenas a aliança de Deus com os israelitas em Abraão, mas também a aliança de Deus com todos os homens em Jesus Cristo é “incondicionada”, isto é, não “ligada a conduta dos homens” porque “Deus, pela sua própria essência, não pode deixar cai a aliança, por quanto essa venha rompida” e portanto, diante da infidelidade dos israelitas, assim como diante da infidelidade dos “cristãos, Ele a “renova” no sentido que “a aliança condicionada, que depende da fidelidade do homem a Lei e que por isto foi pesada, vem substituída pela aliança incondicionada em que Deus se empenha irrevogavelmente.” Este “renovamento da aliança” é, para os Cristãos, a S. Missa.

“Deus non deserit nisi prius deseratur” (“Deus não abandona, se primeiro não é abandonado”) diz Santo Agostinho, retomado pelo Concílio de Trento. Também a Nova e Eterna Aliança (como já a Aliança abraâmica) é um pacto bilateral condicionado. Essa é irrevogável apenas com a Igreja de Roma; mas não com todo homem: os dons de Deus “são irrevogáveis” com a condição que o homem a Ele permaneça fiel. Por Fé sabemos que “as portas do inferno não prevaleceram” contra a Igreja; mas nenhum homem sabe “se é digno de ódio ou de amor”, ou seja, a perseverança final é qualquer coisa que não é garantida a nenhum homem em particular: se rompe com Deus ele é abandonado por Deus. Apenas a Igreja, nascida do lado di Cristo, tem a promessa formal de indefectibilidade e da perseverança usque ad finem, in virtude do Sangue de Cristo, mas não tem esta promessa Israel em virtude dos méritos de Abraão.

Na realidade, Ratzinger (como doutor privado) funda, infelizmente, a sua distinção sobre Martinho Lutero. De fato, para ele, a nova e eterna aliança “resulta nova” precisamente porque “não se trata de um pacto em certas condições, mas do dom da amizade [de Deus] que vem irrevogavelmente oferecido. No lugar da Lei entra a graça. A redescoberta da teologia paulina na Reforma [luterana] colocou particularmente o acento sobre este aspecto: não as obras, mas a fé; não aquilo que o homem faz, mas o livre dispor da bondade de Deus. [...]. As expressões referidas a exclusividade da ação de Deus, vale dizer, aquelas contendo o adjetivo solus (solus Deus, solus Christus), são para entender-se neste contexto.” Pecado, porém, que São Tiago escreveu, sob inspiração divina: “a Fé sem as Obras é morta” (II,26) e que o Concílio de Trento definiu esta verdade de Fide catholica! (Sess. VI, cc. 6-7). A “teologia” de Lutero é a negação e a destruição da verdadeira Religião (de religar, ou seja, unir o homem a Deus), daqui Lutero dizia “pecca fortiter, sed fortius crede”, mas o pecado separa de Deus e não une a Ele. A “experiência desconfiante” luterana é a “presunção de salvar-se sem méritos”, que leva a «impenitência final» e é um “pecado contra o Espírito Santo”. São Paulo jamais quis ensinar a inutilidade das “Boas obras” (isto é, observar os 10 Mandamentos), antes ensina que a caridade ou estado de graça é conditio sine qua non para entrar no Céu: “se tivesse a Fé que transporta montanhas, mas se não tenho a caridade sou um nada” (1 Cor., 13, 2). O Apóstolo, quando ensina que a justificação não se consegue com as obras da Lei, mas pela fé em Cristo (cfr. Gal. 2,3), mas das observâncias rituais, das prescrições legais e cerimoniais da legislação mosaica, reservada ao povo hebreu para prepara-lo para Cristo (“pedagogo para Cristo”), mas pelas quais o farisaísmo imperante se lisonjeava de poder chegar a salvação sem a fé em Cristo e sem a Sua graça.

* * *

Todavia a teologia ratzingeriana é uma tentativa de conciliar o inconciliável na ótica cusana da coincidentia oppositorum; metaforicamente essa é oxímoro ou o hircocervus de Pera e Benedetto Croce(v. sim sim não não de 15 de março de 2009) e as ‘convergências paralelas” de Aldo Moro. Realmente na parte final de seu livro Ratzinger cita exatamente o De Pace Fidei de Nicolar de Cusa (1453), em que «Cristo como logos universal [cfr. o “cristo cósmico” de Teilhard de Chardin, nda] convoca um concílio [cfr. il concilio Vaticano II, nda], porque o escândalo da multiplicidade das religiões sobre a terra, se tornou intolerável».

O mesmo Ratzinger explica que o caminho do movimento ecumênico começou no séc. XIX com os protestantes, depois se avizinhou a ortodoxia e enfim «a aproximação da Igreja Católica começou em alguns grupos de Países em que se sofria maiormente a divisão entre as Igrejas, enquanto o concílio Vaticano II abre as portas da Igreja a busca da unidade de todos os cristãos». Onde, para Ratzinger (1997) – objetivamente – entre Concílio e Tradição não existe continuidade, mas ruptura, ainda que – subjetivamente ou hermeneuticamente – Bento XVI (2005) ali a quer ver.

Como resulta do acima exposto, a teologia do judeu-cristianismo é congênere a Ratzinger e a Bento XVI (como doutor privado). Para entender a sua reação diante do quadro do “caso Williamson” não se deve olhar a pessoa do monsenhor “criminalizado”, mas a doutrina judaizante do Pontífice modernizante. Parece-nos, portanto, inútil, se não perigoso, ir dialogar com ele (ou quem por ele) e a tal fim “lançar ao mar Jonas”. 



Teologia da história e joaquimismo em Ratzinger.

Sempre com o mesmo professor Sönghen o jovem Ratzinger fez a sua Tese de licenciatura sobre São Boaventura (que era de Viterbo e não de “Fiuggi”) em 1956-1957, apenas dez anos depois da curva de Auschwitz, tese em aparece a sua concepção de Deus e do dogma, considerada não objetivamente, mas historicamente e subjetivamente e para mais vistos (cfr. sim sim não não cit.) em uma ótica tendencialmente e moderadamente milenarista. Esta tese foi reeditada pelas Edições Porciúncula sob o título São Boaventura/A teologia da história.

Segundo o Nosso, São Boaventura estuda Joaquim de Fiore como Geral da Ordem franciscana, “que quase chegou ao seu ponto de ruptura por causa da questão joaquimita”, mais que como teólogo privado, mas não obstante a isto, «Joaquim de Fiore é interpretado no interior da tradição, enquanto os joaquimitas o interpretaram contra a tradição. Boaventura não recusa totalmente Joaquim (como havia feito Tomás): ele o interpreta mais em modo eclesial, criando assim uma alternativa aos joaquimitas radicais». Como se vê a ideia da “hermenêutica da continuidade” é congênere também essa ao jovem e ao velho Ratzinger (1956-2005). Ratzinger reconhece que «a ideia de uma nova ordem, em que a ecclesia contemplativa dos últimos tempos deve encontrar a sua verdadeira e definitiva forma de existência, vem claramente expressa em Joaquim de Fiore. O conceito de “ordem” adquire assim um novo significado e “novus ordo” [...] poderia traduzir-se agora como “nova ordem salvífica” e “nova ordem religiosa da sociedade”. [...] Se poderia talvez fazer “novus ordo” até mesmo como “novo povo de Deus” ». Em suma, Santo Tomás refutou radicalmente a teologia da história de Joaquim, «o Doutor Seráfico [tem, segundo Ratzinger] uma atitude mais positiva em relação a teologia joaquimita da história».


Refutação tomista do Joaquimismo.

Santo Tomás de Aquino refuta melhor que qualquer outro os erros milenaristas e tendencialmente judaizantes de Joaquim e da sua escola. Na Suma Teológica demonstra que a Nova Aliança durará até o fim do mundo (S. Th., I-II, q. 106, a. 4). De fato, a Nova Aliança sucedeu a Velha, como o mais perfeito ao menos perfeito. Ora, no estado da vida humana neste mundo, nada pode ser mais perfeito que Cristo e a Nova Lei, porque algo é perfeito enquanto se aproxima do seu fim. Ora, Cristo nos introduz – graças a sua Encarnação e morte – no Céu. Então, não pode existir – sobre esta terra – nada de mais perfeito que Jesus e a sua Igreja.

Naquilo que diz respeito ao Espírito Santo como aperfeiçoador da obra da Redenção de Cristo, Ele foi enviado propriamente por Cristo para confessar o próprio Cristo, que prometeu formalmente aos seus Apóstolos:”O Espírito Santo que Eu lhes mandarei procedendo do Pai, dará testemunho de Mim”. Então o Paráclito não é um iniciador de uma terceira era, como queria o joaquimismo, mas testemunha e explica Cristo aos homens e lhes reforça para pode-lo imitar. Onde, depois da Antiga e a Nova Lei, sobre esta terra não existirá uma terceira Aliança, mas o terceiro estado será aquele da eternidade, sempre feliz do Céu ou sempre infeliz no Inferno. Joaquim erra no transportar a realidade ultra-mundana ou eterna sobre esta terra. O Reino, de que fala o abade de Fiore, não diz respeito a este mundo, mas ao outro. Realmente o Espírito Santo explicou aos Apóstolos (o dia de Pentecostes de 33 d.C.) toda a verdade que Cristo tinha pregado e que eles não tinham ainda entendido plenamente. O Paráclito não deve ensinar uma novíssima Lei ou um outro Evangelho mais espiritual do aquele de Cristo, mas deve apenas iluminar e dar força para bem conhecer e bem viver a doutrina cristã, que aperfeiçoa aquela mosaica (S. Th., I-II, q. 106, a. 4). Além disso, como a Velha Lei não foi apenas do Pai, mas também do Filho (prefigurado por Moisés); assim também a Nova Lei não foi só do Filho, mas também do Espírito prometido e enviado por Cristo aos seus Apóstolos. A Lei de Cristo escrita nos nossos corações (Jeremias) é a Graça do Espírito Santo, que ilumina, vivifica e robustece para poder observar a Lei divina. Assim como já no Antigo Testamento era a graça do Espírito Santo a iluminar e corroborar os Patriarcas e os Profetas, os quais, embora vivendo sob a Velha Lei, tinham já o espírito da Nova e a viveram heroicamente.

Quando Jesus ensina aos Apóstolos que “O Reino dos Céus é vizinho”, não se refere – explica Santo Tomás – apenas a destruição de Jerusalém como termo definitivo da Velha Aliança e inicio formal da Nova, mas também do fim do mundo (S. Th., I-II, q. 6, a. 4, ad 4; III, q. 34, a. 1, ad 1; III, q. 7, a. 4, ad 3-4). De fato, o Evangelho de Cristo é a “Boa nova” do Reino (ainda imperfeito) da ‘Igreja Militante’ sobre esta terra; e do Reino (agora e para sempre perfeito) da “Igreja Triunfante” nos Céus. Além disso, o Comentário a Mateus sobre discursos escatológicos de Jesus (XXIV, 36), Santo Tomás anota: “Qualquer um poderia crer que este discurso de Cristo, diga respeito apenas ao fim de Jerusalém...; porém seria um grande erro referir tudo quanto foi dito apenas a destruição da Cidade Santa e então a explicação é diversa,... quer dizer que todos os homens e os fiéis em Cristo são uma só geração e que o gênero humano e a fé cristã durarão até o fim do mundo” (Expos. In Matth. c. XXIV, 34).

O Angélico se baseia sobre tal texto para refutar o erro joaquimista, segundo o qual a Nova Aliança ou a Igreja de Cristo não durará até o fim dos tempos; ele retoma o ensinamento patrístico (especialmente de São João Crisóstomo e de S. Gregório Magno) e o desenvolve também na Suma Teológica (I-II, q. 106, a. 4, sed contra): o Cristianismo durará até o fim do mundo, e portanto não temos necessidade de uma “terceira Aliança pneumática e universal” (Catolikòs), mas a Igreja de Cristo, já é o Reino do Pai e do Filho e do Espírito Santo (com boa paz de Joaquim e sequazes)

Não é preciso sonhar com a substituição do cristianismo, basta apenas vive-lo sempre mais intensamente.




PARA CITAR ESTA TRADUÇÃO:

Sim Sim Não Não “A estranha teologia de Ratzinger”, SiSiNoNo italiano,Ano XXXV n. 6, de 31 de março de 2009, trad. br. por Sim Sim Não Não, junho 2015, http://simsimnaonao.altervista.org/site/component/content/article/28-edicao-on-line-ano-i-n-02-junho-2015/28-a-estranha-teologia-de-ratzinger

Nenhum comentário:

Postar um comentário