Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

sábado, 19 de maio de 2018

Voz de Fátima, Voz de Deus - Nº 60

Mosteiro da Santa Cruz
19 de maio de 2018


“Vox túrturis audita est in terra nostra”     

(Cant. II, 12)






Perdoem-me os leitores pela falha que cometemos em nosso número anterior, pois, vendo que o texto estava ultrapassando o espaço conveniente para a edição, resolvemos transferir o último parágrafo (aliás incompleto) para o número seguinte (este, no caso), mas esquecemos de apagá-lo no número anterior, o que resultou em um texto parcialmente incompreensível. Mas neste número retomamos, desde o começo, o parágrafo interrompido e o prosseguimos.

No decurso dos séculos, Deus permitiu as heresias; e um grande bem que Ele tirou desse mal foi a explicitação da doutrina já crida na Igreja. Creio que, semelhantemente, podemos aplicar isso à realidade da “Igreja Conciliar”. Dom Lefebvre e Corção afirmaram a real existência de uma “igreja parasita”, sem descer a detalhes sobre no quê ela consistia. Depois, procurou-se explicar essa realidade com comparações: moedas, câncer, “amante” etc.. Mas, como “toda comparação claudica”, fazia-se mister uma explicação mais precisa. Julgo haver sido encontrada na exposição feita em um artigo da revista Le Sel de la Terre (revista, aliás, que aconselho nossos leitores a assinar), cujo autor cuidou em não se identificar (provavelmente para não ser “punido”) e que parece haver encontrado o verdadeiro significado dessa Igreja Conciliar: é uma seita, uma reunião de pessoas que têm uma doutrina “religiosa” diferente da da Santa Igreja, organizada, com a finalidade de “reformar” essa mesma Santa Igreja por dentro, sem sair dela, tomando os seus postos de comando.

Então, essa “igreja” se encontra dentro da Igreja Católica, mas é distinta dela. E os membros dessa seita, tendo nas mãos os postos de comando da Santa Igreja, impõem a sua “organização eclesial”, para os católicos se submeterem a ela. Daí vêm a Nova Missa, o novo Catecismo, o novo Magistério, o novo Código de Direito Canônico, os novos Sacramentos… Não foi a Santa Igreja que decretou a Nova Missa, não foi a Santa Igreja que decretou o novo Catecismo, não foi a Santa Igreja que decretou o novo Código de Direito Canônico, não foi a Santa Igreja que decretou os novos Sacramentos. Foi um homem que ocupa o mais alto grau da hierarquia católica, mas que pertence à dita seita ao mesmo tempo que pertence ao corpo da Santa Igreja, pois é batizado, e talvez até mesmo pertença à alma da Igreja (só Deus o sabe), pois o modernismo estraga de tal modo as cabeças, que é possível haver verdadeira Fé (interior) junto com erros doutrinais.

Ainda não terminamos o nosso assunto. Em um próximo número, se Deus quiser, o concluiremos.




Arsenius



U.I.O.G.D

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Comentários Eleison DLXV (565) - Sonhos Piedosos - I

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Introibo ad Altare Dei

12 de maio de 2018

Pobre Menzingen perdida em seus sonhos piedosos.
A gentileza neomodernista não é o que parece.


      Em junho do ano passado um confrade na França escreveu um bom artigo sobre se a Fraternidade Sacerdotal São Pio X deveria ou não obter das autoridades da Igreja em Roma um status canônico que protegeria os interesses da própria Fraternidade. Obviamente, o quartel general desta em Menzingen, na Suíça, acredita que obterá tal status, e se o atual Superior Geral for reeleito para um terceiro mandato em julho, esse é o objetivo que a Fraternidade continuará a perseguir. No entanto, é bastante menos óbvio que esse objetivo deva ser perseguido. Um argumento de oito páginas inteiras de Ocampo nº 127 de junho de 2017 está resumido abaixo em uma única página.

      A posição do artigo é a de que a Fraternidade não pode de modo nenhum colocar-se sob as poderosas autoridades da Igreja imbuídas dos princípios da Revolução Francesa tal como incorporados no Vaticano II, porque são os Superiores que moldam os assuntos, e não o contrário. Dom Lefebvre fundou a Fraternidade para resistir à traição da fé católica pelo Vaticano II. Ao submeter-se aos conciliaristas, a Fraternidade estaria unindo-se aos traidores da Fé.

      As autoridades da Igreja são os bispos diocesanos e o Papa. Quanto aos bispos, aqueles francamente hostis à Fraternidade podem ser menos perigosos do que aqueles que podem ser amigáveis, mas não entendem as exigências absolutas da Tradição Católica, que não são apenas exigências da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Quanto ao Papa, se suas palavras e ações o mostram trabalhando contra a Tradição Católica, a qual é seu dever defender, então os católicos têm o direito e o dever de protegerem-se a si mesmos tanto contra o modo pelo qual ele está abusando de sua autoridade, como contra a própria necessidade inata deles de seguir e obedecer à autoridade católica. Ora, em teoria, um Papa conciliar pode prometer uma proteção especial para a Tradição da Fraternidade, mas na prática ele deve, por suas próprias convicções, esforçar-se para que a Fraternidade reconheça o Concílio e abandone a Tradição. Dada então sua grande autoridade como Papa para impor sua vontade, a Fraternidade deve manter-se fora de seu caminho.

      A experiência mostra que os tradicionalistas que se incorporam à Roma conciliar podem começar simplesmente guardando silêncio sobre os erros conciliares, mas geralmente acabam por aceitar esses erros. O acordo inicial para ficarem silenciosos é, no final das contas, fatal para sua profissão de fé. E pelo declínio natural de um compromisso a outro, eles podem até acabar perdendo a Fé. Foi a Fé que fez o Arcebispo Lefebvre dizer que, a menos que os romanos conciliares voltem à doutrina das grandes encíclicas papais antiliberais – o que eles não fizeram desde o seu tempo e não estão prestes a fazer no momento –, um diálogo maior entre os romanos e os tradicionalistas é inútil, e – ele poderia ter acrescentado – positivamente perigoso para a Fé.

      O artigo também lista oito objeções a essa posição, apresentadas aqui em itálico com as mais breves das respostas:

1 Com a Prelazia Pessoal, Roma oferece à Fraternidade uma proteção especial. Proteção dos bispos diocesanos, talvez, mas não da autoridade suprema do Papa na Igreja.  2 As exigências de Roma para o acordo vêm diminuindo. Somente porque as concessões à cooperação prática são mais eficazes para obter a submissão dos católicos, como bem sabem os comunistas. 3 A Fraternidade insiste em ser aceita por Roma “tal como somos”, isto é, Tradicional. Para os Romanos, isso significa “como vocês serão, uma vez que a cooperação prática tenha feito vocês verem como somos bons”. 4 Assim, a Fraternidade continuará a atacar os erros do Concílio. Nada há de mudar. Roma pode em seu tempo insistir em mudanças cada vez maiores. 5 Mas o Papa Francisco gosta da Fraternidade!  Tanto quanto o grande Lobo Mau gostava de Chapeuzinho Vermelho! 6 A Fraternidade é virtuosa demais para deixar-se enganar por Roma. Tola ilusão! O próprio Arcebispo foi inicialmente enganado pelo Protocolo de 5 de maio de 1988. 7 Várias comunidades tradicionais incorporaram-se à Roma sem perder a verdadeira Missa. Mas várias delas passaram a defender erros importantes do Concílio. 8 O Papa Francisco como pessoa está no erro, mas sua função é sagrada. Reconhecer a sacralidade de sua função não pode-me obrigar a seguir seus erros pessoais, isto é, o mau uso de sua função. A verdadeira Fé está acima do Papa.

   
      Kyrie eleison.

sábado, 12 de maio de 2018

Voz de Fátima, Voz de Deus - Nº 59

Mosteiro da Santa Cruz
12 de maio de 2018


“Vox túrturis audita est in terra nostra”     

(Cant. II, 12)




      A Igreja Católica é Una. Essa unidade é requerida porque a verdade se opõe à falsidade. Uma diferença (de culto, por exemplo, entre os orientais) que não inclui uma falsidade não requer uma diversidade de igrejas.

      A Igreja (com maiúscula) é a Igreja Católica. Ela é a Igreja, por antonomásia. É o protótipo, aquela em que se realiza plenamente o significado dessa palavra (a qual vem do latim ecclesia, que quer dizer reunião, com motivo religioso, organizada, com finalidade religiosa). É a reunião por excelência: a melhor de todas e que todas devem considerar como modelo. Assim, por exemplo,  acontece com a palavra bíblia (que quer dizer: o livro): isso não porque os outros livros não sejam livros, mas porque a Bíblia é o livro por excelência.

      O mesmo não se pode dizer da palavra religião, a qual só se aplica verdadeiramente ao Catolicismo, pois ela significa religar, ligar novamente o que estava separado; e o que se trata aqui é de religar o homem com Deus, os quais haviam sido separados pelo pecado, tanto o de Adão como os nossos. Ora, só a Igreja fundada pelo mesmo Deus é depositária do Sacrifício Redentor que realizou a obrar de reunir o que havia sido separado. Portanto, é um uso indevido aplicar às outras “igrejas” o nome de religião, pois não religam nada.

      Diante do que foi dito, vamos considerar a expressão “Igreja Conciliar”. Ela foi empregada pelo Cardeal Beneli. Dom Lefebvre, já em 1976, havia denunciado a existência de uma outra “igreja” no seio da Santa Igreja. Afirmação, portanto, não causada por uma emoção passageira por ocasião das sagrações episcopais de 1988 (como, parece, está-se pensando entre aqueles que, na “Tradição”, não querem acreditar na existência dessa outra “igreja”, pois agora eles têm em vista um “acordo” ou “entendimento” ou “reconhecimento” ou “oficialização” ou qualquer outro nome que queiram dar à mesma realidade). De seu lado, também Gustavo Corção já falava na “outra”, referindo-se à mesma infiltrada “igreja”.

      Em um próximo artigo pretendo dar continuidade a esse assunto.



Arsenius



U.I.O.G.D

Capela São José abriga noviciado da Ordem dos Frades Menores


Com grande alegria anunciamos que no último sábado, 05/05/2018, Festa de São Pio V, recebemos em nossa capela os irmãos da Ordem dos Frades Menores.

Os frades, que residiam nas terras do Mosteiro da Santa Cruz em Nova Friburgo, passarão a residir agora em Atibaia/SP, a fim de auxiliarem no apostolado desenvolvido pelo Rev. Pe. Rodrigo H. Ribeiro da Silva, SAJM. 

Rendemos graças ao bom Deus por mais essa graça alcançada, a Dom Tomás de Aquino, OSB, pela confiança, autorização e envio dos frades e a todos os nossos benfeitores. 

Aproveitamos para solicitar a generosidade de todos os fiéis que puderem nos ajudar a manter a estrutura da casa e a cobrir todas as despesas. Que Deus retribua a caridade de todos. 


Frei Afonso, Frei Pedro Maria (guardião), Pe. Rodrigo, Frei José, Andrew Matos (postulante) 

quarta-feira, 9 de maio de 2018

O VERBO E AS PALAVRAS

 
Aquele que escreve um texto deve levar em conta um público. Atualmente a possibilidade de se expressar por meios virtuais se generalizou de tal forma que quase qualquer pessoa pode se dirigir a um número indeterminado de leitores e iniciar uma conversa pela Internet. Supostamente as redes sociais serviriam a isso e embora ninguém questione a eficácia da reprodução massiva de imagens e textos pelo ambiente virtual, o fato é que a “liberdade de expressão” tornada possível pelos veículos de comunicação em massa não está gerando progresso. A comunicação em público tornou-se uma atividade inflacionada e, portanto, perdeu parte de sua relevância. Precisamos de menos circulação da palavra externa e mais circulação da Palavra interna, precisamos de menos discursos humanos e mais do Verbo Encarnado. Conhecer-se a si mesmo, ao invés de adotar uma máscara virtual. Isso exigirá obviamente toda uma reeducação moral e intelectual que provavelmente não será efetivada nesta geração, até porque pertencemos à geração da amplificação dos discursos e não à dos contemplativos.

Estamos a apostar sempre nos ativismos, nas estratégias de ação, na militância político-social contra inimigos conhecidos, independentemente da origem destes. É típico das épocas de desordem social como a nossa, que oradores, retóricos, “artistas” do entretenimento tornem-se celebridades. Os contemplativos, ou seja, os que priorizam a vida interior como base do nosso pensar e agir, em geral são ignorados. É mais fácil protagonizar uma polêmica do que defender a verdade, pois as massas são apaixonadas por competições fúteis, alimentadas muitas vezes pelos egos dos próprios competidores. Querer vencer o outro apenas para obter aplausos é uma das piores formas de vaidade e facilmente envenena a alma, tristes aqueles que se enveredam por este caminho.

Mas estamos em guerra, dirão alguns. Precisamos escolher um lado, aliarmo-nos contra inimigos comuns, deixar desavenças secundárias de lado e batalhar pelo que verdadeiramente importa. Isto também é vaidade se a batalha que se trava visa ao inimigo errado, afinal, antes de aprender a lutar é necessário saber contra quem. Não se vence uma guerra lutando as batalhas erradas, ou com os meios inadequados ou sem o treinamento devido. Entretanto, tal tem sido a sina dos católicos contra o liberalismo, o modernismo e a apostasia geral das nações nos últimos três séculos.

Desde o Concílio Vaticano II os católicos estão divididos grosso modo entre os que aceitam o magistério conciliar e os que rejeitam. Na primeira categoria há os que aceitam sem reservas, e outros que aceitam com reservas. Estes últimos muitas vezes são simpatizantes dos que não aceitam o magistério conciliar, mas ao contrário destes, estão dispostos a “dialogar” com a Santa Sé. Imaginam ser capazes de corrigir os erros dos seus superiores com uma boa e velha conversa democrática. Há também aqueles que acreditam combater os erros do Concílio, mas adotam as mesmas posturas daqueles que não o combatem: são guerreiros que ingenuamente trabalham para o inimigo que imaginam combater. Há ainda como já adiantado anteriormente os que rejeitam o Concílio e efetivamente o combatem com as armas espirituais tradicionais: os sacramentos e a oração. Estes também buscam estudar e usar de argumentos para mostrar aos demais católicos que a crise da Igreja é grave e não se resolverá apenas com ativismo midiático. Todavia isto não parece suficiente para aqueles que chamei de guerreiros ingênuos nem para os dialogantes democráticos. Estes dois grupos católicos elegeram, cada qual a seu modo novas armas para além das armas espirituais tradicionais: são elas a polêmica e o diálogo, a retórica e a dialética. Esquecem, entretanto, que a crise da Igreja recai sob matéria de fé, o que necessariamente implica grau máximo de certeza. Dogmas são maximamente certos porque derivam de Deus mesmo, logo, qualquer concessão ao dogma é concessão ao inimigo.

Dogmas se transmitem, não se discutem. Se o magistério não segue os dogmas tradicionais então devemos resistir a ele e não dialogar. Tampouco tem eficácia a tática de criticar polemicamente certas atitudes da hierarquia que são apenas efeito dos seus desvios doutrinais. Um erro doutrinário deve ser combatido nas suas causas e não apenas nos seus efeitos sociais, econômicos ou políticos. Criar uma polêmica pública por tal ou qual membro da hierarquia ter agido ou deixado de agir de tal maneira é tão útil quanto retirar os frutos de uma árvore achando que está a atingir o seu tronco e suas raízes. Mas como disse mais acima, estamos em tempos de inflação comunicativa, não se busca a verdade e sim a repercussão pública dos discursos. É tentador, sobretudo aos católicos que rejeitam os erros do Concílio, buscar alguma forma de inserção no mundo, nas instituições liberais hodiernas, buscar algum público para ouvi-los. É difícil defender a verdade em tempos de apostasia, pois o catolicismo tornou-se uma religião de “outsiders” e, dada a sociabilidade natural do homem, sempre estamos a buscar algum tipo de comunidade para nos inserir. Isto posto, a tendência é que os próprios católicos busquem meios de ação não-católicos apenas para terem algum tipo de repercussão pública, tornarem-se visíveis de algum modo. Poucos estão dispostos a pagar o preço do exílio político e social numa época liberal-maçônica que visa destruir o Reinado Social do Nosso Senhor Jesus Cristo. E não basta gritar “Viva Cristo Rei!” para que Ele reine, é necessário sobretudo rezar pelo triunfo do Imaculado Coração de Maria, levar a mensagem de Fátima a sério e confiar mais em Deus do que no prestígio dos homens. Devemos combater não como guerreiros ingênuos ou dialogantes democráticos, não com palavras humanas e sim com verdadeira devoção ao Verbo Encarnado.

Tal devoção requer a reza diária do Rosário, uso constante dos Sacramentos, a leitura e meditação de bons textos espirituais, uma piedade ainda mais firme e fervorosa pelo Imaculado Coração de Maria e o Sacratíssimo Coração de Jesus, o estudo do catecismo de Trento, a disseminação e estudo de textos contra o liberalismo, a maçonaria e o modernismo, tantas vezes alertado por Mons. Lefebvre e Dom Mayer. Após a solidificação de todas as etapas anteriores, se a Providência permitir, que se criem apostolados leigos sob a direção de um sacerdote, pois a estrutura da Igreja é hierárquica. Esse apostolado precisará antes de tudo servir de fortalecimento para o próprio grupo recém-formado, confirmá-los na Fé e na devoção a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e os frutos virão naturalmente, de acordo com a benevolência da Providência. Por fim, se a ocasião se apresentar oportuna esse grupo já espiritualmente fortalecido e com frutos já comprovados poderá, com o auxílio e sob a direção de um bom sacerdote católico, pensar em articular um meio de ação com alcance social maior depois que o trabalho com as famílias já se mostrou eficiente. Sim, porque o Reinado Social de Cristo deve-se iniciar nas famílias, base das sociedades humanas, só num momento posterior é que os demais corpos sociais absorverão a doutrina e o modo de agir católicos já enraizados nas famílias. O crescimento então será orgânico, da causa para os efeitos, das raízes para os ramos: não é necessário nem se deve pular etapas quando se trata de um apostolado cujas consequências são amplas, pois afinal visa atingir toda a cultura de uma nação. Não se deve buscar um espaço midiático e depois cuidar da salvação da própria alma. Publicar livros e mais livros católicos, enquanto se continua a consumir entretenimentos liberais pela Internet e pela televisão, ou perdendo boa parte do dia com conversas fúteis em redes sociais como WhatsApp e Facebook. Apostolado é transmissão de bens espirituais, se porém, não o cultivamos em nós mesmos, o que então transmitiremos? Se Jesus Cristo não reina em nossas almas reinará na sociedade? A ação católica requer etapas, o agir segue o ser como diriam os escolásticos, e se o nosso ser e o nosso pensar ainda estiverem contaminados de liberalismo e modernismo, nosso agir refletirá esses mesmos erros. É ingenuidade adotarmos o experimentalismo como critério para a ação católica, o famoso “fazer algo é melhor do que não fazer nada”. Fazer algo sem os princípios doutrinais corretos equivale a não agir.

E como não haverá Realeza Social de Cristo sem o triunfo do Imaculado Coração, roguemos a Nossa Senhora para que ela reine e traga em seus braços Nosso Senhor.
Por um Congregado Mariano
 

terça-feira, 1 de maio de 2018

Comentários Eleison DLXIII (563) - Evitou-se a Guerra? - II

Por Dom Richard N. Williamson
Borboletas ao Luar

28 de abril de 2018


      São os judeus o pior problema do mundo? Sim e não.
      Para que sigam seu rumo, eu devo consenti-lo.


     Já que os melhores comentaristas políticos raramente chegam perto da fonte religiosa da história, e, no entanto, como Deus governa o homem, as relações do homem com seu Deus (religião) governam suas relações com seus concidadãos (política), e assim a religião governa a política, então um comentarista religioso deve abrir a dimensão religiosa das questões políticas, estas que a maioria das pessoas sem Deus pode querer positivamente que seus comentaristas políticos deixem em paz. O Deus Todo-Poderoso parece ser muito indesejado no cenário mundial de hoje, por mais que seja Ele, não obstante, seu absoluto Senhor!

      O tema da religião dirigindo de fato a política surgiu nestes “Comentários” semana passada, quando se afirmou que certa raça de homens estava por trás tanto das mentiras da mídia quanto da pressão militar para iniciar a Terceira Guerra Mundial. Levando em consideração quão mortífera as mais recentes armas dos tempos modernos tornarão esta guerra, quem na terra pode pensar que eles ganharão mais do que perderão por causa do conflito global? A resposta é uma raça de homens tão absolutamente certos de sua superioridade sobre todos os outros homens e convencidos de que merecem governar toda a humanidade, e de que eles podem e devem manipular os eventos mundiais até que cheguem ao domínio, por bem ou por mal, porque o fim é tão sagrado que justifica todos os meios. Sagrado? A obliteração da humanidade é algo sagrado? Sim, um senso distorcido do sagrado é a chave para a insanidade: “Nós, o Povo Eleito, somos tão sagrados que ou nós governamos o mundo, ou ele deve ser destruído, e nós mesmos com ele!”.

      O problema é que de Abraão a Cristo eles realmente foram a raça escolhida por Deus para ser o berço e o ponto de partida de Seu próprio Filho Encarnado. Por dois mil anos eles foram estritamente separados do resto dos homens e elevados acima destes, especialmente privilegiados e especialmente punidos quando necessário, seja como for, especialmente tratados para se tornarem aptos para darem ao Divino Filho Sua natureza humana, sua Mãe humana, seus amigos, sua raça e seu entorno, de modo que, como seu Messias, Ele poderia redimir todos os homens de seus pecados. E se o provérbio africano diz que é preciso uma aldeia inteira para formar uma criança, o que não teria custado para formar uma Santíssima Virgem Maria?

      Diga-se hoje o que quiser sobre os desta raça, eles realmente cumpriram sua missão no que diz respeito ao aspecto principal. O drama é que quando seu Messias veio entre eles e provou que Sua missão era conquistar o mundo para o Reino dos Céus e não para a glória deles, eles O crucificaram, e, porque o repudiaram coletivamente desde então, se colocaram na posição de raça do Messias que odeia o Messias, um problema patológico insolúvel, ao menos e até que eles se voltem individualmente ao Cristo que tanto odiaram.

      Desta patologia – ou, antes, teologia – da queda dos judeus por dois milênios, segue uma cascata de consequências para a leitura correta dos eventos mundiais recentes, mas as mais importantes conclusões por extrair-se são as seguintes. Antes de mais nada, se Deus Todo-Poderoso está deliberadamente permitindo que um pequeno número de judeus arquitetem a corrupção e o caos de um grande número de gentios, é somente em ordem a conduzir estes gentios a Ele. Pois, na verdade, a única coisa que os judeus não podem controlar é a Fé verdadeira da única e verdadeira Igreja Católica. Deus não criou o mundo e a Igreja Católica para que as almas caíssem no Inferno, de modo que sempre que as almas retomam a Fé verdadeira elas têm em suas mãos “a vitória sobre o mundo” (I Jo. V,4). E nada nem ninguém pode forçá-las a abandonar a Fé. Se elas abandonam, essencialmente não podem culpar a ninguém mais por isso que não seja a si mesmas.

      Então, façamos com que cada um de nós se volte com seu coração e com sua mente para o único Deus da única Igreja verdadeira (não aquela do Vaticano II), e aos inimigos de Deus, judeus ou gentios, restará somente perder seu poder atual. Eis a única solução para a corrupção e o caos mundial atuais. Se possível, rezem quinze mistérios por dia do Santo Rosário da Santíssima Mãe de Deus, a pessoa humana mais grandiosa que já existiu – uma judia.

Kyrie Eleison


Traduzido por Leticia Fantin.

Se o Limbo é eterno


Carlos Nougué

Certo sacerdote defende entre seus fiéis que o limbo não é eterno. Segundo esse sacerdote, imediatamente antes do juízo final Deus dará às almas do limbo uma prova, de modo que, segundo se comportem diante dela, ou serão salvas e, unidas a seu corpo ressurrecto, ascenderão à beatitude eterna, ou, também reunidas a seu corpo, se condenarão ao fogo eterno da geena.
Mas tal “doutrina”, saída não se sabe de que fábrica, vai contra a doutrina tradicional sobre o limbo, e corrompe de algum modo a fé dos fiéis. Para o confirmarmos, mostremos, ainda que brevemente, o que dizem a este respeito o magistério da Igreja e a Tradição, para depois entregar a palavra a Santo Tomás de Aquino.

I

É certo que nunca houve uma declaração solene do magistério quanto ao limbo. Mas as seguintes palavras de Pio VI, pelas quais defendeu justamente a ortodoxia da crença no limbo contra o conciliábulo de Pistoia, devem bastar-nos para que não demos ouvidos a tão estranha tese:

«O papa declara falsa, temerária, injuriosa às escolas católicas a proposição segundo a qual deve rejeitar-se como a uma fábula pelagiana o lugar dos infernos chamado vulgarmente limbo das crianças [ou dos párvulos], no qual a alma daqueles que morrem somente com o pecado original é punida com a pena de dano [privação da visão de Deus] sem a pena do fogo» (DB 1526).

Naturalmente, a tese que combatemos aqui não nega a existência do limbo, apenas diz que é provisório. Mas as referidas palavras de Pio VI, ao reafirmarem uma doutrina ensinada pelas escolas católicas, afirmam implicitamente também que devemos segui-la por pertencer à Tradição, e a Tradição sempre sustentou a eternidade do limbo. Com efeito, os Padres da Igreja sempre sustentaram (com fundamento especialmente em João 3, 5) a exclusão das crianças não batizadas da visão beatífica de Deus. Ora, a tese combatida defende que algumas almas do limbo, vencida certa prova, terão tal visão – sem todavia estarem batizadas. Logo, incorre em negação de uma doutrina tradicional.  

II

Demos agora a palavra a Santo Tomás, transcrevendo parcialmente o artigo sexto da questão 69 (“De his quae spectant ad ressurrectionem”) do Suplemento da Suma Teológica.

«Artigo 6 ─ Se o limbo das crianças [ou dos párvulos] é o mesmo que o dos Patriarcas.

[...]
Em sentido contrário, assim como ao pecado atual é devida uma pena temporal no purgatório, e eterna no inferno, assim também ao pecado original é devida uma pena temporal no limbo dos Pais [os do Antigo Testamento], e eterna no limbo das crianças. [...]
Respondo: deve dizer-se que o limbo dos Pais e o dos párvulos diferem, sem dúvida alguma, quanto à qualidade do prêmio ou da pena. Pois as crianças não têm nenhuma esperança da vida eterna [ou seja, da beatitude eterna], [esperança] que tinham no limbo os Pais, nos quais também refulgia o lume da fé e o da graça. [...].»

III

Quanto à condição dos que estão (eternamente, insista-se) no limbo dos párvulos, já dissera o nosso Doutor Comum (In IV Sent., I.II, dist. XXX, q. 2, a. 2, ad 5):

«Apesar de as crianças não batizadas estarem separadas de Deus no que concerne à visão beatifica, não estão todavia completamente separadas dele. Ao contrário, estão unidas a Deus pela participação nos bens naturais, e podem assim gozar dele também pelo conhecimento natural e pelo amor natural».

IV

Por fim, perguntemo-nos se a tese aqui combatida não tem algum ponto de contato com a tese neomodernista que nega a ortodoxia ou a existência mesma do limbo. Sim, porque o que parece intolerável a ambas é o fato de que as crianças não batizadas se vejam privadas eternamente da visão beatífica. Mas isso é requerido, como o mostra Santo Tomás, pela justiça divina. O que não é requerido por esta, no entanto, é a mesma existência do limbo, lugar de felicidade natural que decorre da pura misericórdia de Deus.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Comentários Eleison DLXII (562) - Evitou-se a Guerra? - I

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Introibo ad Altare Dei

21 de abril de 2018


Os gentios estão protegidos desde que estejam com Deus,
Mas, se O desprezaram, escolheram serem vítimas dos judeus.



      No fim do mundo haverá “guerras e rumores de guerras”, diz Nosso Divino Senhor (Mt XXIV, 6); mas “olhai, não vos turbeis; porque importa que estas coisas aconteçam, mas não é ainda o fim”. Nas últimas semanas tivemos indubitavelmente rumores de guerra que incluíram a ameaça na Síria de um grande confronto entre as forças armadas dos Estados Unidos e as da Rússia. Desde então a ameaça parece ter diminuído. O que aconteceu, e quais são as perspectivas para o futuro? Estamos agora a salvo da Terceira Guerra Mundial?

      É difícil dizer com certeza, porque é claro que a grande mídia está virtualmente inteira nas mãos daquela raça que está empurrando para essa Terceira Guerra Mundial que ela espera que lhe permita completar sua tirania sobre a humanidade, deixada incompleta por suas duas primeiras Guerras Mundiais. Portanto, praticamente todos os relatórios midiáticos são inclinados em favor das pessoas e dos eventos que poderiam levar à guerra. No entanto, essa raça ainda não conseguiu controlar a Internet, que, no momento, quebrou seu controle monopolista da opinião pública, de modo que se alguém estiver procurando a verdade é ainda possível ouvir vozes sãs. O que se segue é uma versão de eventos a partir do material fornecido por dois comentaristas dos Estados Unidos, ambos acessíveis na Internet: Paul Craig Roberts e “the Saker”:

      O último confronto temido entre EUA e Rússia na Síria foi evitado porque os líderes das forças armadas dos EUA em Washington não arriscariam um conflito com os russos, por causa das terríveis armas russas reveladas recentemente pelo presidente Putin na Rússia. Essas armas parecem capazes de causar estragos em qualquer frota americana que se encontre atualmente no Mediterrâneo. Portanto, os americanos evitaram cuidadosamente um ataque que poderia ter provocado uma retaliação russa, e avisaram aos russos antecipadamente, de modo que a maioria dos mísseis disparados foi abatida pela Síria, e o dano foi mínimo.

      Isto significa que o perigo acabou? De forma nenhuma. A raça mencionada mais acima ainda quer a guerra, e controla a política externa americana, tal como Ariel Sharon uma vez se gabou em Israel: “Nós controlamos os americanos, e eles sabem disso”. De qualquer forma, por todos os meios que estiverem ao seu considerável alcance eles estarão trabalhando nos generais americanos dissidentes e no presidente Trump, enquanto se esforçam furiosamente para desenvolver meios efetivos de defesa contra as novas armas russas. E assim que acharem que superaram esses obstáculos, sua mídia produzirá outro conjunto de mentiras para enganar o estúpido público ocidental, como as “armas químicas” (que já foram há muito tempo completamente removidas da Síria), ou a construção da democracia (os próprios sírios estão bastante felizes com o seu Presidente Assad), ou “Putin é Hitler” (ele continua a mostrar notável tolerância em face da vil provocação ocidental; mas, se ela não cessar, então um dia ele reagirá mais do que compreensivelmente).

      Entretanto, mesmo a influência dominadora dessa raça (pouco mencionada pelos dois comentaristas políticos) não chega ao cerne da questão (que os dois comentaristas não mencionam de jeito nenhum): essa raça é meramente um flagelo usado – e protegido – por Deus para servir a Ele punindo os povos da terra que lhe dão as costas. Assim, essa raça mostrou aos líderes do Ocidente todos os reinos do mundo, gabando-se de que estão em seu poder, e prometeu entregar ao Ocidente a Nova Ordem Mundial, se o Ocidente se inclinasse e a adorasse. Os líderes e as nações ocidentais não foram obrigados a aceitar a oferta, mas fizeram sua livre escolha.

      Portanto, a menos que os líderes e as nações ocidentais comecem a dar a resposta correta a essa oferta, a saber: “O Senhor teu Deus adorarás, e a Ele só servirás”, essa raça continuará a usar todos os talentos especiais que Deus lhe deu para tentar e flagelar. Assim, parece provável que a III Guerra Mundial eventualmente ocorrerá, se não na Síria, então onde quer que mais nações sem Deus possam ser enganadas.


      Kyrie eleison.

sábado, 21 de abril de 2018

Voz de Fátima, Voz de Deus - Nº 58

Mosteiro da Santa Cruz
21 de abril de 2018

“Vox túrturis audita est in terra nostra”     

(Cant. II, 12)





Ainda sobre o mesmo assunto da Igreja.

Como vimos, a Santa Igreja tem um corpo e uma alma. Em que consiste o seu corpo? No culto (parte externa dos Sacramentos, da Santa Missa etc.), no governo (postos hierárquicos), no ensino, nas pessoas batizadas. E em que consiste sua alma? São as virtudes sobrenaturais (teologais e morais), os dons do Espírito Santo, o depósito das verdades reveladas (morais e dogmáticas), as graças santificante e atuais, que nos vêm ordinariamente pelos Sacramentos.

A Igreja Católica é Santa. É um erro dizer que ela é santa e pecadora. No entanto, é um fato que muitos de seus membros são pecadores. Portanto, o que inalienavelmente é santo é a alma da Igreja, onde não há ruga nem mancha. Assim como, por sinédoque, chamamos os homens de almas (“nesta paróquia há tantas almas”), dando ao todo o nome da parte principal. A alma da Igreja é o que há de principal na Igreja e na qual não pode haver pecado nem erro algum. Na medida em que o corpo da Igreja está em conformidade com a santidade de sua alma, ele, o corpo, é santo. Se o que é realizado nesse corpo é conduzido, ordenado, direcionado por sua alma, de acordo com sua doutrina dogmática (inteligência) e moral (vontade), isso é católico e divino, caso contrário, é humano e falível.

Demos um exemplo à guisa de comparação: se um sonâmbulo pular de um lugar alto e morrer com a queda, não se lhe pode imputar esse ato como um suicídio, porque a pessoa que age no sono age sem o uso da razão (inteligência e vontade) e, portanto, sem culpa, podendo-se dizer que não foi a pessoa que agiu: foi o seu corpo sem estar sob o império da alma (cujas duas potências são a inteligência e a vontade)

Deve-se observar que entre os pecados que podem haver nos membros do corpo da Igreja, encontra-se a heresia: pecado contra a Fé. Esse pecado, nos bons tempos, levava à exclusão desse membro, por um decreto da hierarquia; mas enquanto esse decreto não é feito, o dito membro continua a ser membro da Igreja (membro morto se a heresia é formal, membro vivo se a heresia é somente material).



Arsenius



U.I.O.G.D

domingo, 15 de abril de 2018

Comentários Eleison DLXI (561) - Anti-Lefebvrismo - II

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Borboletas ao Luar

14 de abril de 2018


Demos graças a Deus pelo grande presente que nos concedeu:
O Arcebispo Lefebvre, por quem a Tradição ascendeu.

      Existe alguma razão pela qual NM (ver os “Comentários” da semana passada), ao lidar com o problema dos Papas Conciliares, recorre à solução dramática de declarar que eles não são Papas? Parece haver. A Igreja Católica é tanto humana (uma sociedade constituída por seres humanos) como divina (animada especialmente pelo Espírito Santo), e é importante não confundir as duas coisas. Os seres humanos, como tais, são todos falíveis. Somente Deus é infalível. O erro dos católicos que recorrem à solução dramática de NM é que eles estão atribuindo aos Papas humanos muito da infalibilidade que só pode vir de Deus. Vamos usar como exemplo algo que há em uma casa moderna qualquer.

      Quando eu enfio um plugue elétrico em uma tomada na parede, a corrente elétrica não vem do plugue, mas da estação de energia através da parede, e qualquer aparelho precisa receber a corrente elétrica pela tomada no plugue. A central elétrica é Deus. A parede e a tomada são a Igreja. A corrente é a infalibilidade da Igreja, vinda de Deus. O plug são as quatro condições que somente o Papa pode inserir na tomada. Essas condições, claro, são: que ele 1) fale como Papa 2) para definir de uma vez por todas 3) uma questão de fé ou de moral 4) com a intenção de obrigar todos os católicos a aceitá-la. Através do envolvimento das quatro condições pelo Papa, ele somente e ele garantiu o acesso como ser humano à infalibilidade divina da Igreja. As quatro condições envolvem o Papa. A infalibilidade envolve Deus.

      Ocorre também, é claro, que essa tomada específica, conhecida como Magistério Extraordinário da Igreja (ME), não é o único acesso dos seres humanos à infalibilidade da Igreja. Eles aderem a ela muito mais pelo Magistério Ordinário da Igreja (MO), que é a Tradição Católica, ou, o que todos os mestres da Igreja, Papas e Bispos em particular, ensinaram em todo o mundo desde que Jesus Cristo depositou esse Depósito da Fé em Sua Igreja, confirmada infalivelmente nos Apóstolos em Pentecostes e transmitida infalivelmente por eles até que o último deles morreu. A partir de então, essa doutrina passou a estar nas mãos de seres humanos falíveis, a quem Deus deixou o livre arbítrio para ensinar o erro se assim decidissem fazê-lo. Mas, se alguma vez o erro humano tornou duvidoso o que pertenceria à doutrina infalível e o que não pertenceria, Deus deu à Sua Igreja também o Magistério Extraordinário, precisamente para definir de uma vez por todas o que pertence e o que não pertence ao Magistério Ordinário. Assim, o MO está para o ME como o cão está para a cauda, ​​e não como a cauda está para o cão!

      O problema de inúmeros católicos desde a definição solene em 1870 sobre a infalibilidade da Igreja é que, uma vez que o acesso do ME à infalibilidade da Igreja está automaticamente garantido de uma maneira em que o acesso do MO não o está, então o ME parece superior, e os católicos tendem a exagerar o ME e a transferir pessoalmente para o Papa essa infalibilidade que na realidade pertence automaticamente somente à Igreja. Isso significa que se o Papa cometer sérios erros como os dos Papas conciliares, então a única explicação possível é que eles não são Papas. Ou, se são Papas, então é preciso seguir seus erros. A lógica é boa, mas a premissa é falsa. Os Papas não são tão infalíveis quanto a Igreja. Eles podem cometer erros sérios, como o mostraram o Vaticano II e seus Papas Conciliares, como nunca antes em toda a história da Igreja! Mas a Igreja continua infalível, e, portanto, eu sei que a Tradição Católica durará até o final do mundo, apesar do pior que qualquer Papa fraco possa tentar fazer daqui por diante.

      Mas como é que eu sei que para o Papa como Papa pertence somente o acesso privilegiado (quatro condições) à corrente elétrica (infalibilidade), e não a corrente em si que pertence à parede (a Igreja)? Porque é o que diz a própria definição de infalibilidade em 1870! Eu só preciso ler: quando o Papa cumpre com as quatro condições (mencionadas acima), ele então possui “aquela infalibilidade da qual o divino Redentor quis que gozasse Sua Igreja na definição de doutrina relativa à fé ou à moral”.

      Assim, os Papas católicos têm liberdade para cometer erros terríveis, sem que a Igreja seja menos infalível.

      Kyrie eleison.

terça-feira, 10 de abril de 2018

Comentários Eleison DLX (560) - Argumento (Anti) "Lefebvrista"

Por Dom Richard N. Williamson
Tradução: Introibo ad Altare Dei

07 de abril de 2018


O Arcebispo Lefebvre era sábio – sua regra era de ouro,
“Reconhecer, mas resistir” não é algo tão tolo!



Para atacar os sacerdotes dominicanos franceses de Avrillé por seu “Lefebvrismo”, ou seja, por sua recusa em aceitar que os Papas conciliares desde Paulo VI não foram Papas, um leigo francês – Sr. N. M. – acaba de escrever um artigo acusando os dominicanos de rejeitarem três dogmas católicos: que o Papa tenha primazia de jurisdição sobre a Igreja Universal; que o Magistério Ordinário Universal da Igreja é infalível; que é o Magistério vivo da Igreja que determina o que os católicos devem crer. Normalmente é melhor deixar essas questões de doutrina para os especialistas em doutrina, mas os nossos tempos não são normais. Hoje, os católicos podem confiar em seu bom senso católico para decidir essas questões por si mesmos.

Olhemos para as três perguntas de maneira simples e prática. Se eu quero aceitar que os Papas foram verdadeiros Papas desde Paulo VI, por que eu deveria negar, em primeiro lugar, que o Papa é o Chefe da Igreja; em segundo lugar, que o ensino normal da Igreja é infalível; e, em terceiro lugar, que o Papa reinante me diz em que devo acreditar? Vejamos os argumentos de N. M., um por um.

Quanto ao primeiro ponto, N. M. cita o completamente antiliberal Concílio Vaticano I (1879-1871) no sentido de que o Papa é o Chefe direto e imediato de todas as dioceses, de todos os sacerdotes e de todos os católicos. Se, então, como todos os lefebvristas eu me recuso a obedecê-lo, estou implicitamente negando que ele seja meu Chefe enquanto católico, então estou negando que o Papa é o que o Vaticano I o definiu ser. Resposta: eu não estou de forma nenhuma negando que os Papas conciliares têm a autoridade para comandar-me como católico; estou apenas dizendo que sua autoridade católica não inclui a autoridade para tornar-me um protestante, como farei caso eu siga suas ordens de acordo com o Vaticano II.

Em segundo lugar, N. M. argumenta que o Vaticano I também afirmou que o ensinamento cotidiano do Papa e dos Bispos é infalível. Ora, se alguma vez tivemos um ensinamento sério do Papa e dos Bispos juntos, foi no Vaticano II. Se, então, eu recuso esse ensinamento, estou implicitamente negando que o Magistério Ordinário Universal da Igreja seja infalível. Resposta, não, eu não estou. Reconheço plenamente que quando uma doutrina é ensinada pela Igreja em quase toda parte, em todos os tempos e por todos os Papas e Bispos, ela é infalível, mas se foi ensinada apenas nos tempos modernos do século XX pelos Papas e Bispos do Vaticano II, então é contrária ao que foi ensinado pelos Papas e Bispos em todos os outros tempos da Igreja, e eu não me considero obrigado a aceitá-la. Enquanto eu aceito o MOU consistente de todos os tempos, então eu rejeito o MOU inconsistente de hoje, que o contradiz.

Em terceiro lugar, N. M. argumenta que o verdadeiro Papa tem a autoridade viva para dizer-me como católico no que devo crer hoje. Se então me recuso a acreditar no que os Papas conciliares me disseram para crer, estou rejeitando sua autoridade viva como árbitros da Fé. Resposta: não, eu não estou. Eu estou usando meus olhos para ler, e meu cérebro dado por Deus para julgar, que o que os Papas conciliares me dizem contradiz o que todos os Papas anteriores até São Pedro me disseram, e eu prefiro seguir a consistência de duzentos e sessenta e um Papas dizendo-me no que acreditar do que a inconsistência de seis Papas Conciliares. “Mas então você está rejeitando a autoridade viva do Papa reinante como árbitro da Fé!”. Somente porque eu estou seguindo, obedecendo e submetendo-me aos duzentos e sessenta e um Papas como árbitros dessa Fé que meus olhos e meu cérebro me dizem que os Papas conciliares não estão seguindo. “Mas então você está apoiando seus próprios olhos e cérebro contra o Papa católico!” Deus me deu olhos e um cérebro que funcionam, e quando eu estiver diante Dele para ser julgado, responderei pelo uso que fiz deles.

É claro que a própria resposta de N. M. ao problema dos Papas protestantes, modernizadores e conciliares é negar que eles sejam Papas. Deveria ser igualmente claro que, para o problema, que é muito real, não estou obrigado a adotar a solução drástica de N. M. Tampouco, se me recuso a adotá-la, sou obrigado a negar três dogmas da Igreja. Que a paz esteja com N. M.

Kyrie eleison.


sábado, 7 de abril de 2018

Voz de Fátima, Voz de Deus - Nº 57

Mosteiro da Santa Cruz
7 de abril de 2018

      Fundada em 1717 a Maçonaria foi condenada por Clemente XII em sua encíclica In Eminente de 28 de abril de 1738, ou seja, 21 anos após a sua fundação.

      Como se não bastasse esta condenação, os sucessores de Clemente XII voltaram ao assunto denunciando sem cessar a seita maçônica e suas doutrinas. Esta repetição pela qual um papa retoma o que seus predecessores disseram tem grande importância. “Quando um Papa denuncia ou afirma algo apoiando-se sobre o passado, isto reforça a sua própria palavra. (…) Uma doutrina que é ensinada desta maneira, uma condenação feita desta forma parece ser infalível”, diz Dom Lefebvre (C´est moi l´accusé…Editions Clovis, 2014, pag. 142).

      Como nota o Pe. Guy Castelain, da Fraternidade São Pio X, a simples encíclica In Eminenti já parece engajar a infalibilidade pontifícia, pois nela o papa fala como Supremo Pastor, definindo claramente o que deve ser observado, num assunto de fé e de moral, obrigando a todos os fiéis, sem exceção.

      Entre os documentos mais significativos que se seguiram aos de Clemente XII podemos citar as encíclicas: Providas (de Bento XIV, 1751), Ecclesiam (de Pio VII, 1821), Quo Graviora (de Leão XII, 1826), Qui Pluribus (de Pio IX, 1846), Humanum Genus (de Leão XII, 1884). Não foi, porém, só nestas encíclicas que a Igreja falou e condenou a Maçonaria. O “Sommaire de Théologie Tomastique”, publicado em 1969 pelas “Editions de Bien Public”, Canadè, indica o impressionante número de 200, os documentos da Igreja que mencionaram a Maçonaria. O livro ”Les enseignements originaux des popes sur la Franc-maçonnerie de 1717 ò nos jours”, éditions Téqui França, traz o texto de quase 30 entre eles.

      Mas qual é a finalidade que se propõe a Maçonaria para ser objeto de tal condenação? Sua finalidade, nos diz Leão XIII, é a destruir inteiramente toda ordem religiosa e social nascida das instituições cristãs. Destruir o reino religioso e social do Xto. Rei, ou seja, destruir toda ordem sobrenatural e estabelecer uma ordem fundada no naturalismo, para não dizer no satanismo pois é aí que se terminará esta empresa que prepara a vinda do Anticristo.

      São Pio X, desde a primeira encíclica de seu pontificado descreve o plano destes infelizes obstinados:

      “Em nossos dias, é bem verdade, as nações espumaram e os povos meditaram projetos insensatos contra o seu Criador. E tornou-se quase universal o brado dos inimigos: “Retirai-vos para longe de nós”. Daí, na maioria dos homens, uma rejeição total de todo respeito por Deus. Daí os costumes de vida tanto privados como públicos nos quais não se tem em nenhuma conta a soberania de Deus.”

      Não é o que vemos hoje não só na sociedade civil, mas também na Igreja Conciliar?

      Qual será o resultado deste combate feito contra Deus que atingirá seu paroxismo no advento do Anticristo?

      “Nenhum espírito sensato pode pô-lo em dúvida, escreve São Pio X. Está, sem dúvida, ao alcance do homem que quer abusar de sua liberdade, violar os direitos e a autoridade supremos do Criador, mas ao Criador cabe sempre a vitória, e isto não é tudo. A ruína paira tanto mais de perto sobre o homem quanto mais ele se levanta audaciosamente na esperança de seu triunfo. Disto nos adverte Deus Ele mesmo nas Sagradas Escrituras. Deus fecha os olhos sobre os pecados dos homens, mas em breve, despertando como um homem cuja embriaguez aumentasse a força, Ele esmaga a cabeça de seus inimigos. Que todos saibam que o rei da terra, de toda a terra, é Deus. Que os povos compreendam que eles não são senão homens.” E Supremi Apostolatus – 4 de outubro de 1903.

      Assim se terminará ou pelo juízo final (ou por algo que o precederá) este reino do Anti-Cristo preparado pelas sociedades secretas.

      Que Maria Santíssima nos guarde sob sua proteção nestes dias de aflição.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Voz de Fátima, Voz de Deus - Nº 56

Mosteiro da Santa Cruz

03 de abril de 2018



Estamos, neste artigo, continuando as considerações que fizemos em nosso número anterior sobre a Santa Igreja.

A Igreja Católica define-se com mais propriedade como sendo o Corpo Místico de Cristo. E nesse corpo, Nosso Senhor Jesus Cristo é a cabeça e todos os mais que pertencem a esse mesmo corpo (inclusive o Papa) são seus membros.

Dessa Cabeça divina desce a graça santificante a seus membros. E essa graça é para todos os homens (ainda que nem todos a recebam), desde Adão até o último homem que existir. Portanto, mesmo os homens do Antigo Testamento que tiveram a dita de a receber, receberam-na por Nosso Senhor Jesus Cristo, e pertenciam à Igreja Católica. E se alguém, por acaso, se salva com o batismo de desejo, pertencendo externamente a uma falsa religião, na verdade pertence à Igreja Católica, mesmo sem o saber.

Vimos uma primeira distinção em partes, que se pode fazer na Igreja: uma parte é a Cabeça, e a outra os membros. Mas a Igreja é uma realidade complexa, acerca da qual precisamos fazer várias outras distinções para poder bem compreendê-la. Com efeito, sob um outro aspecto, o do lugar onde se encontram os seus membros, podemos distinguir a Igreja triunfante (composta por aqueles que estão no Céu), a Igreja padecente (composta por aqueles que estão no Purgatório) e a Igreja militante (composta por aqueles que estão na Terra). Ainda, sob o aspecto da guarda e da transmissão da Revelação, faz-se a distinção entre a Igreja docente (a que ensina: o Papa e os Bispos) e a Igreja discente (a que é ensinada: os demais membros). Mais outro aspecto: a Igreja, que é comparada a um homem, tem um corpo e uma alma. E nesse corpo podemos distinguir seus membros vivos e seus membros mortos. Os vivos são os que estão recebendo, da Cabeça, a vida sobrenatural da graça santificante. Os mortos são os que não estão recebendo essa vida. São como os membros gangrenados de uma pessoa: esses membros pertencem ao corpo aparentemente, materialmente, mas não formalmente, pois o sangue não os irriga mais; neles não está mais a vida do corpo.

Em uma próxima vez, se Deus quiser, continuaremos nossas considerações sobre este tema.

Arsenius

terça-feira, 3 de abril de 2018

Comentários Eleison DLVIX (559) - Ressurreição da Igreja?

Por Dom Richard N. Williamson


31 de março de 2018


Depende de cada homem, para a Igreja ressuscitar verdadeiramente,
Fazer tudo o que está ao seu alcance em sua situação de vida presente.


      E o dia anterior à Páscoa deve ser um bom momento para refletir sobre como a Madre Igreja ressurgirá do estado atual que a aflige. Por nossa fé católica sabemos com absoluta certeza que ela ressuscitará, e que durará até o fim do mundo (Mt. 28, 20). Mas é um grande erro pensar que ressurgirá desta vez por meios humanos, porque aí se começa a acreditar, por exemplo, em meios humanos para ir em seu resgate, como por “discussões teológicas” ou negociações diplomáticas com seus atuais líderes no Vaticano.

      Assim, as discussões teológicas de 2009-2011 não levaram a lugar nenhum, motivo pelo qual não ouvimos quase nada sobre elas desde então, o que provou que o abismo doutrinal entre a Roma conciliar e a Tradição católica não pode ser superado. E as negociações diplomáticas podem levar no máximo à mera aparência de um resgate da Tradição, porque os romanos de hoje têm 2000 anos de experiência em diplomacia, e eles não querem a Tradição, porque ela é um sério obstáculo no caminho de sua Nova Ordem Mundial, onde Nosso Senhor Jesus Cristo não tem espaço para reinar. O problema é uma rejeição generalizada de Deus por parte da humanidade em geral, e por parte de seus próprios homens da Igreja em Roma em particular.

      Portanto, o problema não será resolvido por meios meramente humanos. Como o Cardeal Villot (1905-1979), um ex-secretário de Estado no Vaticano sob três Papas conciliares (1969-1979), admitiu em seu leito de morte, “humanamente, a Igreja está acabada”. E é uma falta de espírito sobrenatural, não sem certa arrogância, da parte dos atuais líderes da Fraternidade Sacerdotal São Pio X argumentar, como o fazem, que a Fraternidade tem de negociar algum acordo com os oficiais da Igreja em Roma porque não há outra solução para a crise da Igreja. Esses homens realmente acham que o Senhor Deus carece de meios para resgatar Sua Igreja? Eles realmente acham que o braço de Deus foi encurtado pela iniquidade dos homens? Aqui fala Seu profeta Isaías (59, 1-3):

      1. Eis que a mão do Senhor não se encolheu para não poder salvar; nem o seu ouvido ensurdeceu para não poder ouvir (as nossas súplicas). 2. Mas são as vossas iniquidades que puseram uma separação entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados são os que lhe fizeram esconder de vós a sua face, para não vos ouvir. 3. Porque as vossas mãos estão manchadas de sangue, e os vossos dedos, de iniquidades; os vossos lábios falaram mentira, e a vossa língua profere a iniquidade.

      As iniquidades do homem são o problema. E é possível que Deus não tenha a solução? Não. E é possível que Ele queira que os homens não tenham parte em Sua solução? Não. E é possível que o que Ele queira que façam para salvar Sua Igreja seja especialmente difícil ou complicado? Não. Mas é possível que isto requeira alguma humildade? Sim, porque “Deus resiste aos soberbos, e dá a sua graça aos humildes” (Tg. 4 ,6). E isso requer alguma fé? Certamente, porque “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb. 11 ,6). E há alguma chance de que Deus não tenha comunicado à humanidade, à beira de destruir-se a si mesma, que humildade significa que Ele quer que os homens confiem e peçam-Lhe que intervenha e os salve da destruição? Não existe essa possibilidade. Então, o que de fato Ele disse à humanidade para que Sua Igreja fosse capaz de ressuscitar?

      O que Ele disse foi por meio de Sua Mãe, em Fátima, em 1917, em Pontevedra, em 1925, e em Akita em 1973. Em Fátima: a Rússia deve ser consagrada ao Imaculado Coração de Maria pelo Papa com todos os Bispos católicos. Em Pontevedra: os católicos devem praticar a devoção dos Cinco Primeiros Sábados. Em Akita: os católicos devem rezar o Rosário pelo Papa, pelos Bispos, pelos sacerdotes.  São estes três pontos humildes? Sim. São sobrenaturais, requerem fé sobrenatural? Definitivamente. Algum deles é pedir muito, para que a Igreja ressuscite e para que a humanidade volte da beira da destruição? Definitivamente não. Então, que ninguém se queixe de que não haja nada que se possa fazer!

      Kyrie Eleison.

      Traduzido por Leticia Fantin.