Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

segunda-feira, 1 de junho de 2015

As Características dos Pagãos e do Povo Judeu - Padre Julio Meinvielle

OS POVOS PAGÃOS

Deus não criou os povos no paganismo. Sua divina misericórdia, mesmo depois da queda, confortou ao homem com os meios necessários para que conquistasse sua eterna salvação. A lei da natureza, pela qual se regiam os homens nessa primeira idade do mundo, não se chamava assim por oposição à lei sobrenatural, já que também ela compreendia os preceitos sobrenaturais da fé, da esperança e da caridade, mas sim por oposição à lei exterior ou escrita. Pois em lugar de ser proposta exteriormente, era conhecida seja pelo simples instinto da natureza, no que se refere aos preceitos da ordem natural, seja por uma simples inspiração divina sobre os preceitos da ordem sobrenatural. Neste estado, diz São Tomás (Suma Teológica III, q. 60, a. 5, ad. 3) os homens não se moviam a adorar a Deus por nenhuma lei exterior, mas somente pelo instinto interior. E muitos foram os justos que acomodaram sua vida a esta lei de natureza, não somente entre os primeiros patriarcas da humanidade, mas também depois de Abraão e de Moisés, como por exemplo o Santo Jó, que não sendo judeu nem prosolélito, deu grandes e extraordinárias mostras de santidade, e possivelmente muitos sejam agora os que por ela se rejam e se salvem. Isto pode se pensar particularmente dos grandes varões do bramanismo da Índia, que em símbolos e em altíssimos princípios teológico-metafísicos, alcançam um conhecimento tão elevado das coisas de Deus que se poderia ser acreditado hoje patrimônio exclusivo dos cristãos. (Ver Johanns S. J. "Vers le Christ par le Vedanta").

Thomas Couture, I Romani Della Decadenza, 1847

O paganismo é a infidelidade dos homens a esta lei de natureza. São Paulo nos descreve com caracteres definitivos os aspectos próprios do paganismo.

Na Carta aos Romanos I, diz o Apóstolo, falando dos pagãos: 

21. Porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, mas desvaneceram-se nos seus pensamentos, e obscureceu-se o seu coração insensato;
22. porque, dizendo ser sábios, tornaram-se estultos,
23. e mudaram a glória de Deus incorruptível para a figura de um simulacro de homem corruptível, de aves, e de quadrúpedes, e de serpentes.


Deduzimos daqui as características do Paganismo.

Primeira característica: reconhecimento de Deus.
O paganismo não é ateu. Reconhece a Deus e confia em sua Providência. E a um Deus uno, governador do mundo, distinto do mesmo mundo. São Paulo na passagem citada insinua claramente esta ideia que tem sido confirmada cientificamente pelos modernos investigadores das religiões. O que se chama henoteísmo (adoração de um) não é mais que isto. "O henoteísmo, diz o filósofo Hartmann, tem seu fundamento na identidade positiva que se reconhece na base de todas as divindades da natureza, identidade que permite honrar, na pessoa de cada deus (principalmente naquela de cada um dos deuses admitidos desde a origem, a divindade no sentido absoluto, o divino, Deus. E Tertuliano reconhecia o caráter henoteísta do culto pagão quando falando à alma humana dizia: "Confessas ao Deus único e somente a Ele nomeia, quando falando às vezes aos deuses parece lhes conferir um poder que não têm." (De Testimonio animae, c. 2); e Santo Agostinho quando escreve: "Ainda antes de crer em Cristo, os pagãos não puderam ignorar totalmente o nome d'Aquele que é o Deus do universo; porque o prestígio da verdadeira divindade é tal que não pode permanecer total e plenamente escondida a uma criatura racional, usando de sua razão."

Segunda característica do paganismo: a idolatria.
Diz São Tomás II, II, 194, a. 1, ad. 4), que o nome da idolatria se impôs para significar qualquer culto dado às criaturas, mesmo que se faça sem imagens". E como os pagãos não possuíam uma ideia clara da transcendência de Deus, que está infinitamente acima de todo a criação como o Ser Necessário acima do contingente e ao mesmo tempo de sua divina imanência que está presente em todo o ser e em toda a atividade das criaturas, como Ser e Causa Primeira, (São Tomás III, q. 2 e 8) viram a divindade nas coisas mutáveis da criação, fracionaram-na nestas mesmas coisas corruptíveis e nelas a adoraram.

Terceira característica do paganismo: a divinização do poder.
O paganismo, diz São Paulo, chegou a mudar a glória de Deus incorruptível para a figura de um simulacro de homem corruptível. Divinizaram-no totalmente e não puderam então deixar de assinar caracteres divinos ao Poder e sobretudo ao Poder político, que é a suma dos poderes concebíveis na terra. O paganismo não podia distinguir na razão de todo e de parte que lhe cabe a todo homem. É um todo porque o homem, cada homem, mesmo o mais infeliz e desgraçado, está ordenado diretamente a Deus, seu fim último. É uma parte, porque para alcançar a plenitude do todo, tem que se submeter como parte das distintas sociedades, necessárias para sua perfeição. O homem é todo, é uma pessoa, e neste sentido não pode estar totalmente submetido a nenhum poder da terra: pelo contrário, os poderes da terra e mesmo a Igreja foram feitos para o homem. O homem é parte e deve obediência aos poderes legítimos, cuja autoridade vem de Deus (Rm XIII, 1-2). (Cf. Julio Meinvielle, Concepción Católica de la Política.) O paganismo teve de fazer forçosamente do Poder, do Estado, um Deus. Reconheceu o caráter orgânico e hierárquico do poder, porém para divinizá-lo. O poder resultava por ele mesmo, inevitavelmente tirânico, porque não servia ao homem, mas se servia dos homens.

Quarta característica do paganismo: a religião nacional.
Não reconhecendo o paganismo nem a transcendência de Deus, que está acima de tudo o que foi criado, nem a transcendência do homem, que, em último termo, não se ordena totalmente senão somente a Deus, não podia se dar uma ideia de uma religião universal, una para todos, assim como há um só Deus, Criador e Fim dos homens. A religião estava particularizada como o Estado, e com ele identificada. O César, o monarca, o cônsul, o tribuno, era também quem regulava a vida religiosa quando não era o objeto mesmo do culto.

Quinta caraterística do paganismo: exaltação dos próprios instintos e ódio ao estrangeiro.
Quando se ignora a Deus não se pode verdadeiramente conhecer o homem, feito à imagem e semelhança de Deus. E assim o paganismo desprezou o homem. Desprezou o homem enquanto o exaltava. Porque lhe exaltava em uns e desprezava em outros; exaltava-lhe nos do próprio sangue, cidade ou tribo, e lhe desprezava nos de outro sangue, cidade ou tribo. Exaltava-lhe ao glorificar-lhe em vergonhosos instintos. São Paulo lhes reprova isto aos pagãos, em sua célebre carta aos Romanos I, 24-32.

24. Pelo que Deus os abandonou aos desejos do seu coração, à imundície; de modo que desonraram os seus corpos em si mesmos;
25. eles, que trocaram a verdade de Deus pela mentira, e que adoraram e serviram a criatura de preferência ao Criador, que é bendito por todos os séculos. Amém.
26. Por isso Deus entregou-os a paixões de ignomínia. Porque as suas próprias mulheres mudaram o uso natural em outro uso, que é contra a natureza.
27. E, do mesmo modo, também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam nos seus desejos mutuamente, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em si mesmos a carga que era devida ao seu desregramento.
28. E, como não procuraram reconhecer a Deus, Deus abandonou-os a um sentimento depravado, para que fizessem o que não convém,
29. cheios de toda a iniquidade, de malícia, de fornicação, de avareza, de maldade, cheios de inveja, de homicídios, de contendas, de engano, de malignidade, mexeriqueiros,
30. detratores, odiados por Deus, injuriadores, soberbos, altivos, inventadores de maldades, desobedientes aos pais,
31. insensatos, sem lealdade, sem afeto, sem lei, sem misericórdia.
32. Os quais, tendo conhecido a justiça de Deus, não compreenderam que os que fazem tais coisas são dignos de morte; e não somente quem as faz, mas também que aprova aqueles que as fazem.




O POVO JUDEU



Tais são as características comuns que se aplicam ao mundo pagão nas distintas e grandes civilizações que criaram, não somente na greco-romana, como também nas antiquíssimas civilizações babilônicas e egípcias. Todos estes são povos idólatras, que ao perder o conhecimento do verdadeiro Deus, corromperam também os princípios de ordem e salvação sobre os quais deve estar edificada a cidade terrestre.

Os restos arqueológicos nos dão pálida ideia das grandes e colossais empresas que teceram e realizaram, mas diminuíram o homem, despojando-o das prerrogativas de dignidade humana que constituem sua verdadeira grandeza. O homem foi desumanizado, para se converter em coisa útil, em ferramenta. Ao perder o homem a Deus, também perdeu-se a si mesmo.

Por isso Deus separou para si um povo, que fosse Seu povo e na qual se conservasse intacta a revelação primitiva que Deus havia comunicado aos primeiros pais da humanidade. Dois mil anos antes de Jesus Cristo, Deus chama a Abraão e lhe diz: Sai de tua terra e de tua parentela, e vem à terra que te mostrarei. (Gn XII, 1).

2. E eu te farei cabeça de uma grande nação, e o abençoarei e enaltecerei teu nome e tu serás bendito.
3. Bendirei aos que te abençoarem e amaldiçoarei aos que te amaldiçoarem e em ti serão benditas todas as nações da terra.




A este povo Deus lhes dá uma lei escrita, a qual não salva por si, por uma eficácia intrínseca, mas que é sinal d'Aquele em quem devem ser benditas todas as linhagens da terra. Este povo torna-se então santificado e consagrado a Deus não por ser tal povo, nem por vir do Pai Abraão, senão pelo Cristo, o Filho de Deus bendito pelos séculos, o Prometido, o Libertador, o Redentor, que devia sair de seu seio.

Este povo, ao qual Deus protege de modo especial, trouxe-nos de fato o Redentor, e a mãe do Redentor, e aos apóstolos, tronco primeiro da Igreja de Cristo. O povo judeu foi em Cristo o veículo dos grandes bens da humanidade.

Mas assim como o paganismo é uma infidelidade à lei da natureza, assim o Judaísmo é uma infidelidade à lei escrita. O grande pecado dos judeus consiste em que por aderirem ao sinal, à figura, perderam a substância de salvação que é Cristo. Como escreveu em palavra eterna São João (Evangelho I, 11): Veio à sua própria casa e os seus não o receberam.

A característica distintiva do povo judeu, depois que Cristo veio ao mundo é seu anti-cristianismo. Odeiam a Cristo como a um traidor saído de sua raça. Odeiam-no porque consideram que ele os decepcionou: quando devia ter trazido a eles a grandeza dominadora sobre todos os seus inimigos, os outros povos, não fez senão atá-los ao jugo dominador destes mesmos povos.




A segunda característica distintiva do povo judeu é sua ambição por dominar o mundo. O que Cristo não fez, deve fazê-lo sua raça. O povo judeu, que tem consciência de seu destino eterno através da História da humanidade, quer que as promessas que lhe foram feitas e que as entenderam sempre em sentido carnal, logrem cumprimento. Assim inverteram o messianismo; ao que na mente de Deus teve um sentido espiritual, deram eles uma significação material e trabalharam com uma consciência metida no íntimo de sua raça, através dos tempos, em meio dos mais diferentes povos, certos de que virá o dia em que eles, desde Jerusalém, centro do mundo, dominarão com cetro forte as nações.

Aos judeus lhes cabe então a missão de serem os corrompedores dos povos cristãos, com a consciência clara de que quanto façam por corromper a estes povos, apartando-os de Jesus Cristo e de todos os laços tradicionais de vida, é tarefa preparatória para sua futura dominação.



MEINVIELLE, Pe. Julio. Los tres pueblos bíblicos en su lucha por la dominación del mundo. Buenos Aires: Adsum, 1937.

Nenhum comentário:

Postar um comentário