Trechos de “O Itinerário Espiritual”, ou na edição da Permanência: “A Vida Espiritual Segundo São Tomás de Aquino”, de 1989, aos seus sacerdotes.
Festa da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria
(Possui um pensamento mais maduro de Mons. Marcel Lefebvre a respeito do Concílio e seus problemas.)
No entardecer de uma longa vida — já que, nascido em 1905, cheguei ao ano de 1990 — poderia dizer que esta vida se vê marcada por acontecimentos mundiais excepcionais: três guerras mundiais, a de 1914-1918, a de 1939-1945, e a do Concílio Vaticano II de 1962-1965.
Os desastres acumulados por estas três guerras, e especialmente pela última, são incalculáveis na ordem das ruínas materiais, mas muito mais espirituais. As duas primeiras prepararam a guerra dentro da Igreja, facilitando a ruína das instituições cristãs e a dominação da Maçonaria, a qual chegou a ser tão poderosa que conseguiu penetrar profundamente, por sua doutrina liberal e modernista, os organismos diretores da Igreja.
(…)
A ruptura se acentuava em Roma e fora de Roma entre o liberalismo e a doutrina da Igreja. Os liberais, depois de conseguirem nomear papas como João XXIII e Paulo VI, viram triunfar sua doutrina por meio do Concílio, meio maravilhoso para obrigar toda a Igreja a adotar seus erros.
(…)
O Concílio passa, as reformas se multiplicam tão rápido como podem. Começa a perseguição contra os cardeais e bispos tradicionais, e veloz, em todas as partes, contra os sacerdotes e religiosos ou religiosas que se esforçam em conservar a tradição. É a guerra aberta contra o passado da Igreja e suas instituições. “Aggiornamento, Aggiornamento!”
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O resultado deste Concílio é muito pior que o da Revolução [Francesa]. As execuções e martírios são silenciosos; dezenas de milhares de sacerdotes, religiosos e religiosas abandonam seus compromissos, outros se laicizam, desaparecem os claustros, o vandalismo invade as igrejas, destroem-se os altares, desaparecem as cruzes... os seminários e noviciados se esvaziam.
As sociedades civis que ainda seguiam sendo católicas laicizam-se sob a pressão das autoridades romanas: Nosso Senhor não tem já por quê reinar na terra!
O ensinamento católico se faz ecumênico e liberal; mudam os catecismos, que já não são católicos; a Gregoriana em Roma se faz mista, e São Tomás já não é a base do ensinamento.
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É evidente que se muitos bispos houvessem atuado como Monsenhor de Castro Mayer, bispo de Campos no Brasil, a Revolução ideológica dentro da Igreja poderia ter sido limitada, pois não há que ter medo de afirmar que as autoridades romanas atuais, desde João XXIII e Paulo VI, foram colaboradores da Maçonaria judaica internacional e do socialismo mundial. João Paulo II é antes de tudo um político filo-comunista a serviço de um comunismo mundial com teor religioso. Ataca abertamente a todos os governos anticomunistas e não contribui em suas viagens com nenhuma renovação católica.
Entende-se, pois, que as autoridades romanas conciliares se oponham feroz e violentamente a toda reafirmação do Magistério tradicional. Os erros do Concílio e suas reformas seguem sendo a norma oficial consagrada pela profissão de fé do Cardeal Ratzinger, de março de 1989.
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O mal do Concílio é a ignorância de Jesus Cristo e de seu Reino. É o mal dos anjos maus, o mal que encaminha ao inferno.
Justamente por haver tido uma ciência excepcional do Mistério de Cristo, São Tomás foi proclamado pela Igreja como seu Doutor. Amemos ler e repassar as encíclicas dos Papas sobre São Tomás e sobre a necessidade de segui-lo na formação dos sacerdotes, a fim de não duvidar um instante sequer da riqueza de seus escritos, e sobretudo de sua Suma Teológica, para comunicarmos uma fé imutável e meio mais seguro de chegarem na oração e na contemplação, aos ribeiros celestiais, que nossas almas abrasadas do espírito de Jesus já não deixarão nunca, apesar de todas as vicissitudes desta vida terrena.
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Outra consequência: todas as sociedades que Nosso Senhor criou devem necessariamente colaborar, segundo sua finalidade, para que as almas se tornem católicas e sigam sendo assim, para lhes conseguir a salvação eterna, fim de toda a Criação, fim da Encarnação e da Redenção.
Estas conclusões são imortais, imutáveis. São a expressão de toda a Revelação, e foram os princípios diretivos de toda a Igreja até o Concílio Vaticano II.
[A instauração desta “Igreja Conciliar, imbuída dos princípios da Revolução Francesa, princípios maçônicos sobre a religião e as religiões, sobre a sociedade civil, é uma impostura inspirada pelo inferno para a destruição da religião católica, de seu magistério, de seu sacerdócio e do sacrifício de Nosso Senhor. Logicamente, esta nova Igreja não podia mais cantar os louvores de Jesus Cristo, Rei universal das nações, nem pode ter já os pensamentos de Nosso Senhor sobre o mundo; por isso o espírito da Liturgia foi alterado, modificando muitíssimos detalhes tanto nos textos como nos gestos. A nova Igreja, deste então, impede-nos a contemplação do Verbo Encarnado tal como o canta em todas as festas litúrgicas. Devemos a todo custo permanecer fiéis ao espírito da Igreja católica, se queremos nos dar a contemplação dos mistérios divinos, do mistério do Verbo Encarnado, do mistério da Santíssima Trindade.]
(…)
[No entanto, outra das consequências desastrosas do Concílio foi o de tratar de destruir esta espiritualidade tradicional e católica da renúncia, da Cruz, do desprezo pelas coisas temporais, do chamado de levar a própria cruz após Nosso Senhor, para buscar uma justiça social baseada na inveja e o desejo dos bens deste mundo, que lança os povos a lutas fratricidas que multiplicam o número de pobres, quando na realidade a verdadeira espiritualidade é a que converte os corações e os orienta para uma melhor justiça social
Este mal espírito do concílio, espírito do mundo, invadiu o mundo sacerdotal e religioso, e conduziu a uma destruição do sacerdócio e da vida religiosa sem precedentes. É o grande êxito de Satanás: ter conseguido mediante os homens da Igreja uma destruição que nenhuma outra perseguição havia conseguido.]
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[É difícil medir os estragos espirituais causados pela tendência subjetivista do Concílio, por seu personalismo, que se esforça erroneamente ao fazer a abstração da finalidade da natureza humana, se sua liberdade humana, se sua liberdade finalizada; assim se explica essa exaltação do homem, de seus direitos, de sua liberdade, de sua consciência: humanismo pagão que arruína a espiritualidade católica, o espírito sacerdotal e religioso.].
(...)
O Secretariado para a Unidade dos Cristãos, por meio de concessões mútuas — diálogo —, conduz à destruição da fé católica, à destruição do sacerdócio católico, à eliminação do poder de Pedro e dos bispos; elimina-se o espírito missionário dos apóstolos, dos mártires, dos santos. Enquanto este Secretariado conservar o falso ecumenismo como orientação, e enquanto as autoridades romanas e eclesiásticas continuarem aprovando-o, pode se dizer que seguem em ruptura aberta e oficial com todo o passado da Igreja e com seu Magistério oficial. Por isso todo sacerdote que queira permanecer católico tem o estrito dever de se separar desta Igreja conciliar, enquanto ela não recuperar a tradição do Magistério da Igreja e da fé católica. (Grifos meus)
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