Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

domingo, 4 de outubro de 2015

Sobre Michel Foucault

Por Maria José Del Olmo Toledo, Mestra em História Social pela PUC - São Paulo

Críticos a Foucault há muitos, infelizmente, a lenda foucaultina contribui para calar essas vozes. Um dos primeiros críticos foi o filósofo brasileiro José Guilherme Merquior (já falecido). Em 1985 Merquior escreveu um livro publicado pela Nova Fronteira, chamado “Michel Foucault ou o niilismo da cátedra”, com críticas incisivas a Foucault. Mas há outros como o historiador britânico Ian Maclean, que criticou com rigor as “epistemes” de Foucault. Claude Quétel que escreveu o livro “História da loucura”, referindo-se com o título ao próprio Foucault e, onde afirmava que já era hora “de acabar com Foucault e suas mitologias, ainda que ocupem sempre a paisagem epistemológica e sobretudo midiática”. Marcel Gauchet, outro crítico, explicando a longevidade de Foucault afirma: “de que adianta discutir aquilo que se apresenta como a interpretação poderosa, eficaz, soberana?”. 

O texto transcrito a seguir foi escrito por Jean-Marc Mandosio, professor da Escola Prática de Altos Estudos, de Paris.

O texto é parte de um livro que teve pouca repercussão, obviamente, dado o prestígio de Foucault. No Brasil foi publicado pela editora Achiamé, “A longevidade de uma impostura: Michel Foucault”. Ele começa afirmando que “de todos os falastrões que tiveram sua hora de glória na França, nos anos 1960/70, e depois reviveram por conta do entusiasmo das universidades americanas pela teoria francesa, Michel Foucault é o que goza ainda hoje de prestígio. ” Afirma ainda que as ideias de Foucault são, apesar de tudo, menos delirantes do que as de Deleuze, Guattari ou Derrida. 

Para Mandosio, “a história representa um papel essencial em Foucault, que se manteve constante neste ponto: a perspectiva histórica permite relativizar as evidências do presente. [...] A história como ele a entende não é, em absoluto, a mesma que praticam os historiadores; trata-se antes de uma “genealogia” no sentido que Nietzsche deu ao termo em Genealogia da moral ao historicizar os valores supostamente eternos, da moral cristã.”

“Esta “genealogia” ou “arqueologia” (os dois termos são praticamente equivalentes) que encontramos no título de vários livros de Foucault não é o relato de um desenvolvimento contínuo, cumulativo, progressivo, mas a exumação de uma série de estratos heterogêneos e descontínuos. [... para Foucault] a história das ideias não é linear e tampouco dialética, mas procede por rupturas sucessivas nas quais se passa de um “regime de saber” a outro; a história é uma sucessão de “epistemes””. [é como dizer que cada período tem uma “episteme” própria, ou seja uma visão de mundo própria, fechada e contida em um período histórico, sem relação com o passado, com os saberes anteriores, o que nega qualquer tipo de história]. “A palavra é muito mal escolhida, dado que, em grego, episteme significa simplesmente “ciência” ou “conhecimento”. [...] É precisamente a sucessão de epistemes que levanta um problema. Como se passa de uma a outra? [...] Isto não está claro, já que Foucault se abstém de recorrer aos modelos prévios de explicação das transformações históricas (ele é particularmente alérgico ao modelo dialético) sem, no entanto, substituí-los por um novo modelo. A transição entre epistemes está, portanto, fadada a permanecer um mistério.”

“[...] Muito mais incômodo é que Foucault costuma formular interpretações bem discutíveis, para não dizer aberrantes, dos textos que cita. Esta distorção das fontes está ligada sobretudo à sua doutrina das epistemes. Merquior fornece uma excelente análise da questão, enumerando, com apoio de exemplos, as diferentes categorias de fenômenos que a arqueologia de Foucault se vê obrigado a “ignorar de forma flagrante”, dando lugar a anacronismos e contrassensos em cascata.”

Isto são apenas algumas das críticas a Foucault. Geralmente temos a tendência a achar que o texto escrito é condição de verdade e acabamos caindo no argumento da autoridade (porque tal autor disse). Ao ler um texto devemos dialogar com o mesmo, ou seja, fazer perguntas do tipo “o que quis dizer? ” quando uma frase não é clara, voltar e ver se é possível perceber o que o autor quis dizer. Acreditem, em autores difíceis de entender muitas vezes o problema está neles. Não são claros, seus conceitos são difusos, suas frases muitas vezes rebuscada nos levam à confusão... E, finalmente, se ainda assim gostarem de Foucault, boa sorte! 

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